Grécia e Eurogrupo aceitam iniciar trabalho técnico antes de acordo político
Numa corrida contra o tempo, Tsipras e Dijsselbloem dão novo sinal de convergência. Em simultâneo, BCE reforçou em 5000 milhões de euros a linha de crédito de emergência para os bancos gregos.
O encontro entre o primeiro-ministro grego e o presidente do Eurogrupo ocorreu à margem da cimeira de líderes europeus que se realiza esta quinta-feira em Bruxelas e serviu essencialmente para resolver um problema que começa a preocupar muitos responsáveis europeus: a falta de tempo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O encontro entre o primeiro-ministro grego e o presidente do Eurogrupo ocorreu à margem da cimeira de líderes europeus que se realiza esta quinta-feira em Bruxelas e serviu essencialmente para resolver um problema que começa a preocupar muitos responsáveis europeus: a falta de tempo.
A 28 de Fevereiro chega oficialmente ao fim o actual programa da troika na Grécia. Se até lá não houver algum tipo de acordo que permita o financiamento do país, mesmo que apenas a curto prazo, a situação pode tornar-se rapidamente insustentável. Foi por isso que, no final do encontro do Eurogrupo de quarta-feira, Dijsselbloem mostrou a sua preocupação por não se ter conseguido chegar a acordo para que algum trabalho técnico das instituições europeias começasse a ser adiantado na Grécia.
Agora, esse passo foi dado. Tsipras e o presidente do Eurogrupo acordaram que esta sexta-feira haverá já técnicos a tentar avaliar quais os pontos em comum (e os divergentes) entre o programa do novo Governo e o programa da troika. O objectivo é que as contas estejam feitas, para que se possa decidir com mais facilidade e rapidez em que condições pode ser estabelecido um eventual acordo político.
Este sinal de aproximação entre o presidente do Eurogrupo e a Grécia vem dar força à ideia de que um entendimento inicial entre este país e os seus parceiros esteve bastante próximo na quarta-feira e pode vir a acontecer na próxima segunda-feira.
Foi por isso que nesta quinta-feira os mercados mostraram estar mais confiantes num acordo. As acções dos bancos gregos recuperaram uma pequena parte do terreno perdido nas últimas semanas e as taxas de juro da dívida pública grega diminuíram.
A explicação para este comportamento está no facto de, apesar da incapacidade revelada para se chegar a algum entendimento concreto que pudesse ficar expresso num comunicado final, terem surgido sinais de que um acordo pode não estar tão distante como parecia.
Há neste momento versões diferentes sobre os detalhes do que se passou no final da reunião do Eurogrupo, mas é claro para todos que o problema continua a estar na diferença de perspectivas entre a Grécia e os restantes países sobre o que fazer com o actual programa da troika. Os gregos recusam-se a prolongá-lo, os restantes Estados-membros dizem que só dessa maneira será possível o país continuar a ter acesso a financiamento.
Esta quinta-feira, o diário britânico Financial Times publicou o que diz ser a versão do comunicado final do Eurogrupo que acabou por não ser assinado. O documento afirmava que “as autoridades gregas concordaram em trabalhar de forma conjunta e construtiva com as instituições [europeias] para explorar as possibilidades de extensão e conclusão bem-sucedida do actual programa, levando em conta os novos planos do Governo”. Para responder à proposta grega de um financiamento “ponte” até um acordo mais completo com a Europa, o comunicado dizia também que, se tal trabalho tivesse sucesso, “isso garantiria uma ponte de tempo para que as autoridades gregas e o Eurogrupo pudessem discutir novos termos contratuais”.
Segundo o Financial Times, os responsáveis políticos gregos presentes no Eurogrupo chegaram a dar o seu acordo a esta versão do comunicado, recuando apenas depois de o ministro das Finanças Yanis Varoufakis ter feito um último contacto telefónico com Atenas. Varoufakis diz que não foi isso que aconteceu e garante que a versão do comunicado que aceitou assinar não era a mesma e que, quando esta última versão lhe foi apresentada, deixou claro que não podia concordar.
Ainda assim, este debate em torno do comunicado parece dar razão a quem diz que um entendimento em relação a um financiamento de curto prazo (para que se discuta mais tarde um novo acordo) parece estar dependente em certa medida de questões de semântica, o que aumenta as possibilidades de na segunda-feira um comunicado final conjunto ser emitido. Para já, os trabalhos técnicos vão começar.
A pressão do BCE
Ainda assim, apesar destes sinais de convergência, Alexis Tsipras foi outra vez recordado de que os bancos do país estão mais dependentes do que nunca do dinheiro do Banco Central Europeu (BCE) para sobreviverem.
Esta quinta-feira, de acordo o jornal alemão Frankfurter Allgemeine, os membros do conselho de governadores do BCE reuniram-se extraordinariamente para discutir o pedido do Banco da Grécia para alargar em 5000 milhões de euros o limite máximo de Assistência de Liquidez de Emergência (ELA, na sigla em inglês) que pode ser disponibilizado às instituições financeiras do país.
Na quarta-feira, o BCE anunciou que deixaria de aceitar dívida pública grega como garantia nas suas operações de financiamento normais. Isso empurrou os bancos gregos para os empréstimos de emergência que são concedidos pelo seu próprio banco central.
Para garantir que tal é possível, o BCE deu ao Banco da Grécia (que faz parte do Eurossistema) autorização para abrir uma linha de crédito de 60 mil milhões de euros. Mas agora esse montante parece já não ser suficiente e foi alargado para 65 mil milhões.
As necessidades adicionais podem estar relacionadas com uma diminuição mais forte do que o esperado dos depósitos nos bancos gregos, o que leva a um aumento das necessidades de financiamento destes.
Para a Grécia, o problema é que, garantindo o financiamento dos seus bancos com o recurso em tão larga escala à ELA, fica completamente dependente da vontade do BCE em manter esta última torneira aberta. E os sinais que vêm de Frankfurt não são os mais animadores para Atenas.
De acordo com o Financial Times, na reunião desta quinta-feira, vários governadores mostraram a sua insatisfação em relação ao desfecho da reunião do dia anterior no Eurogrupo, nomeadamente com o facto de a Grécia não ter aceite uma extensão do actual programa da troika. Em público, os responsáveis do BCE têm insistido na ideia de que este tipo de financiamento é apenas temporário e destina-se a bancos que sejam solventes.
No passado, estes empréstimos de emergência foram o derradeiro argumento para convencer alguns governos europeus a aceitarem a entrada da troika no seu país. Por exemplo, a 21 de Março de 2013, o BCE emitiu um breve comunicado em que dizia que a ELA concedida a Chipre deixaria de estar disponível a partir de 25 de Março, caso o país não chegasse acordo para adoptar um programa da troika. O Governo cipriota cedeu no dia seguinte.
O conselho de governadores do BCE tem uma nova reunião agendada para a próxima quarta-feira, dois dias depois da reunião do Eurogrupo em que os ministros das Finanças da zona euro têm uma nova oportunidade para chegar a um entendimento.