Porta-avião de Portas começa a encalhar
As exportações tiveram o pior registo desde 2009 e o défice da balança comercial de bens piorou.
Os números publicados nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, passado o período de ajustamento da troika, a balança comercial volta a registar padrões do passado, ou seja, um comportamento pouco equilibrado. No conjunto de 2014, as exportações de bens aumentaram 1,9% comparativamente ao ano anterior, o que representa o pior registo desde 2009. Já as importações cresceram 3,2%, o que significa que é preciso recuar a 2008 para encontrar um outro ano em que a taxa das importações tenha superado a das exportações.
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Os números publicados nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, passado o período de ajustamento da troika, a balança comercial volta a registar padrões do passado, ou seja, um comportamento pouco equilibrado. No conjunto de 2014, as exportações de bens aumentaram 1,9% comparativamente ao ano anterior, o que representa o pior registo desde 2009. Já as importações cresceram 3,2%, o que significa que é preciso recuar a 2008 para encontrar um outro ano em que a taxa das importações tenha superado a das exportações.
Há precisamente um ano, Paulo Portas congratulava-se com o facto de as exportações estarem a “ser o porta-aviões da recuperação económica". Até certo ponto, o vice-primeiro-ministro tinha razão: durante o período de ajustamento, as importações travaram a fundo (por causa da diminuição do rendimento das famílias) e as exportações tiveram um bom comportamento (com as empresas a procurar novos mercados para compensar a recessão interna). Foi a bandeira que durante meses a coligação agitou para dizer que a economia estava a dar a volta.
O ajustamento foi tal que Portugal conseguiu registar nalguns trimestres uma balança positiva, algo que numa perspectiva anual não se verificava desde 1943, altura em que a economia beneficiou do aumento significativo da exportação de minerais (especialmente volfrâmio) e de bens alimentares para os países envolvidos na II Guerra Mundial.
Há um ano, a seguir a Portas ter apelidado as exportações de "porta-aviões da economia", o FMI veio alertar para o facto de que grande parte do excedente externo estava a ser conseguido à custa da contracção das importações e do crescimento das exportações de combustíveis, algo pouco sustentável. Este aviso premonitório do FMI é de alguma forma secundado pelos dados agora publicados pelo INE, que dão conta de um agravamento para 10,6 mil milhões do défice da balança. Ainda na semana passada, no primeiro relatório após o fim do resgate, o FMI dizia que o “motor externo” da economia portuguesa estava a abrandar, considerando que os sinais de recuperação estavam a levar as empresas exportadoras a acomodar-se e a conformar-se novamente com as vendas no mercado interno.
Nesta segunda-feira, Paulo Portas reagiu aos números do INE. Não falou do porta-aviões, mas veio dizer que, “ao contrário do que alguns pensavam, as exportações continuam a subir em tempo de crescimento [interno]”. É uma parte da realidade: sendo verdade que as exportações continuam a crescer, a travagem brusca no ritmo de crescimento, aliado à aceleração das importações, mostra que, infelizmente, o porta-aviões começa a encalhar. O que vale é que o turismo (que integra a balança de serviços) e a baixa do preço do petróleo vão ajudando a disfarçar este problema, que é estrutural na economia.