Recuo de Santana e compromisso de Guterres com ONU "congelam" presidenciais
PS e PSD querem retirar tema da agenda antes das legislativas. António Vitorino, que tem sido pressionado a avançar para Belém, esteve reunido esta semana com o secretário-geral do PS.
Santana Lopes recuou e para trás fica a sua tese segundo a qual os candidatos deviam avançar na Primavera, mesmo logo em Março. Agora, o próprio diz concordar com o "deslizar" das candidaturas para Outubro, depois das legislativas.
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Santana Lopes recuou e para trás fica a sua tese segundo a qual os candidatos deviam avançar na Primavera, mesmo logo em Março. Agora, o próprio diz concordar com o "deslizar" das candidaturas para Outubro, depois das legislativas.
Com este gesto, o actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) acabou por dar razão a Marcelo Rebelo de Sousa que, recentemente, declarou ser “um bocadinho suicida PSD e CDS começarem já a falar de presidenciais num momento em que a esquerda, calmamente – e a esquerda é o PS -, vai fazendo o seu caminho para S. Bento e António Guterres, calmamente vai fazendo o seu caminho para Belém”.
Meses depois de andar no terreno, um pouco por todo o país, a reunir apoios, Santana muda de ideias num estalar de dedos e diz que não falará mais sobre as presidenciais até Outubro, curiosamente a altura escolhida por Marcelo para anunciar a sua decisão relativamente as presidenciais e que o provedor da SCML tanto criticou.
A direcção do PSD nunca se deixou contagiar pela estratégia de Santana, que almejava o acordo do partido para levar por diante a sua corrida presidencial, e não gostou de o ver, enquanto provedor da SCML, a anunciar na semana passada um apoio financeiro de mais 100 mil euros ao Coliseu do Porto.
O vice-presidente da distrital do PSD-Porto, Firmino Pereira, diz que este “recuo decorre de uma concertação de posições” entre o partido e Santana Lopes. “O PSD quer dar prioridade à estratégia das legislativas que, na minha opinião deve passar por uma coligação com o CDS”, declarou Firmino Pereira, que preside também à concelhia do PSD de Gaia, acrescentando que esta decisão foi tomada com o objectivo de "refrear a pressão em torno da candidatura presidencial”.
“Pedro Santana Lopes vai ser candidato às presidenciais e estou convencido que o PSD o apoiará, mas na minha opinião ele não deve condicionar nenhuma decisão sua ao partido”, defendeu ao PÚBLICO o vice-presidente da distrital do Porto.
Sem pressas, o PS já fez saber, pela voz do líder do partido, António Costa, que “neste ciclo político em que estamos que as legislativas vão ter uma atenção especial”, e aproveitou para dizer que em matéria de presidenciais nesta fase o “único candidato que se vê agitado é o dr. Santana Lopes”, o que resulta, concretizou, de o social-democrata ter de “abrir espaço num campo muito preenchido”, com nomes como Marcelo Rebelo de Sousa ou Rui Rio.
Guterres baralha PS
A decisão de António Guterres prolongar o seu mandato até ao final o ano nas Nações Unidas como Alto-Comissário para os Refugiados vem baralhar um pouco as contas do PS. “Esta contingência de calendários - primeiro as eleições legislativas e depois as presidências - não é fácil de gerir. Felizmente que o PS tem mais de uma hipótese”, afirma o dirigente nacional do PS, Vitalino Canas, sublinhando, que o “facto de Guterres ficar na ONU até Dezembro não significa que, em Outubro, não lance a campanha eleitoral e não se candidate. Por aí não há problema, porque o ex-primeiro-ministro tem notoriedade pública e projecção no terreno que lhe permite fazer campanha em apenas dois meses”.
O ex-porta-voz socialista lamenta que o Presidente da República não tenha antecipado as legislativas, uma decisão que, na sua opinião, evitaria a sobreposição dos dois actos eleitorais, e aconselha prudência. “Nesta fase o PS tem de estar preocupado porque o calendário não é favorável e só não é excessivamente preocupante porque tem a perspectiva de candidatos fortes”, sustenta.
Ao PÚBLICO, o dirigente nacional do PS vê “com muita expectativa uma eventual candidatura de António Vitorino" caso António Guterres opte por uma carreira internacional. “Há alguma possibilidade de António Vitorino avançar. Já se percebeu que, nesta altura, António Vitorino não fecha a porta, mas também não a mantêm excessivamente aberta”, declara, afirmando que “com um calendário desafiante que comporta alguns riscos, é preciso tomar as decisões acertadas”.
Vitorino estará a ser pressionado para ser candidato a Belém e o próprio secretário-geral do PS, embora considere ser “prematuro” falar em presidenciais, já disse que o ex-comissário europeu tem “todas as qualidades para poder ser um excelente Presidente da República”. Amigo pessoal de Vitorino, Costa tem por ele “muita estima” e, ao que o PÚBLICO apurou, os dois conversaram esta semana. Numa altura em que há muitas incertezas quanto à possibilidade de Guterres protagonizar uma candidatura presidencial, o ex-comissário não fecha a porta a entrar na corrida, mas há quem dê nota dos “anticorpos que tem no PS e na esquerda”. Até às presidenciais ainda vai correr muita água, mas Vitorino já prometeu falar do assunto. “Um dia destes falarei sobre esse tema”, disse.
O ex-porta-voz do PS fala de expectativa e dá nota de que o “ padrão de comportamento” de Vitorino nem sempre é assim. “Normalmente costuma fechar a porta e fá-lo com estrondo, sem deixar margem para dúvidas e, neste caso, não o fez”, nota Vitalino, também ele amigo pessoal do ex-comissário europeu.
Por outro lado, Augusto Santos Silva, ex-ministro socialista, afirma que, “quanto mais tempo passar sem Guterres se declarar não candidato, mais candidato ele é”. “Este não é o tempo para quem quer ser candidato declarar sê-lo, mas é o tempo para quem não quer ser candidato declarar não querer”, declara.