A queda de Mugabe não será televisionada. Ai será, será

O Presidente do Zimbabwe caiu. O regime de Harare quis abafar o incidente, mas a tentativa serviu apenas para aguçar a mordacidade dos jokers nas redes sociais.

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Na quarta-feira, após um discurso do aeroporto de Harare, a capital do Zimbabwe, Mugabe tropeçou e caiu ao descer do pódio. O Presidente foi rapidamente levantado pelos seus auxiliares e, um dia depois, o próprio disse estar “bem”. No entanto, o que seria um incidente sem importância foi empolado pela acção dos seguranças de Mugabe, que instaram os fotógrafos presentes a apagar as imagens do momento, e pela do ministro da Informação.

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Na quarta-feira, após um discurso do aeroporto de Harare, a capital do Zimbabwe, Mugabe tropeçou e caiu ao descer do pódio. O Presidente foi rapidamente levantado pelos seus auxiliares e, um dia depois, o próprio disse estar “bem”. No entanto, o que seria um incidente sem importância foi empolado pela acção dos seguranças de Mugabe, que instaram os fotógrafos presentes a apagar as imagens do momento, e pela do ministro da Informação.

Segundo Jonathan Moyo, o episódio não aconteceu. Houve um tropeção, sim, mas não a queda. “Ninguém revelou qualquer prova do Presidente a cair porque isso não aconteceu”, disse o governante ao Zimbabwe Herald, jornal estatal que depois, em editorial, condenou os media por fazerem “uma tempestade num copo de água”. Continuou o ministro: “A protuberância em que o Presidente tropeçou foi formada por duas peças de carpete que, aparentemente, não estavam bem colocadas na junção”.

Para concluir, Jonathan Moyo comparou Robert Mugabe a Jesus Cristo. Ainda que indirectamente: “Para ser honesto consigo, até Jesus, quanto mais você, também teria tropeçado neste tipo de situação.” O Zimbabwe Herald aproveitou a deixa e enumerou um conjunto de outros casos em que chefes de Estado e de governo tinham caído em situações idênticas: Gerald Ford, rainha Sofia, George Bush (tanto o pai como o filho), Julia Gillard.

As imagens captadas no local e entretanto difundidas, em particular pela AP, mostram claramente a queda de Mugabe. A tentativa de abafar o facto (numa altura em que se conjectura sobre o seu estado de saúde e que se luta no país pelo direito à sucessão) serviu, contudo, para aguçar a vontade dos cibernautas de expor e ridicularizar a tentativa. E, tal como aconteceu quando Sarkozy tentou pôr-se em bicos de pés na manifestação de solidariedade às vítimas dos ataques terroristas em Paris, as redes sociais encheram-se de imagens manipuladas.

A hashtag #MugabeFalls reúne em redes como o Facebook e o Twitter a imagem do autocrata com os joelhos dobrados, já em queda, embutida em inúmeros cenários — alguns mais caricatos do que outros. Mugabe a surfar, Mugabe a cavalgar (com e sem Putin), Mugabe a jogar quidditch, Mugabe na wrecking ball de Miley Cyrus, Mugabe mascarado de Michael Jackson, Mugabe a evitar balas no Matrix, Mugabe e Jesus (O Grande Lebowski) a jogar bowling, Mugabe a fugir de um hipopótamo, Mugabe com a mão no rabo de Kim Kardashian, etc., etc. A criatividade é o único limite nestas situações "virais" de alcance e duração imprevisíveis.

No Vine, Robert Mugabe foi promovido a personagem de videojogo. Não está ao nível da eleição para a presidência da União Africana, que conseguiu no final de Janeiro, mas vale um ponto no seu currículo popular.