Grécia isolada em vésperas de semana decisiva

Incerteza quanto à estratégia de Atenas quando fontes do gabinete do primeiro-ministro desmentem fontes do ministério das Finanças

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Com uma reunião do Eurogrupo e uma cimeira europeia, a próxima semana será decisiva para a Grécia Kostas Tsironis/Reuters

A pressão cresce sobre o Executivo de Alexis Tsipras na aproximaão de uma reunião do Eurogrupo na quarta-feira e de uma cimeira europeia na quinta, e responsáveis dizem que uma reunião preparatória do encontro do Eurogrupo foi inconclusiva: as posições estavam tão distantes que não foi possível fazer qualquer trabalho preparatório. 

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A pressão cresce sobre o Executivo de Alexis Tsipras na aproximaão de uma reunião do Eurogrupo na quarta-feira e de uma cimeira europeia na quinta, e responsáveis dizem que uma reunião preparatória do encontro do Eurogrupo foi inconclusiva: as posições estavam tão distantes que não foi possível fazer qualquer trabalho preparatório. 

“Foi a Grécia contra todos, basicamente um contra 18”, disse, sob anonimato, um responsável à Reuters sobre o encontro com o objectivo de abrir caminho à reunião extraordinária do Eurogrupo, que junta os ministros das Finanças da zona euro, na quarta-feira.

Em contraponto com este isolamento, o diário Financial Times noticiava que a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de deixar de aceitar títulos de dívida pública grega como garantia para os seus empréstimos foi tomada por um conselho de governadores dividido “praticamente a metade”.

A principal divergência em relação à decisão, que altera o modo como os bancos gregos tem acesso a financiamento e afecta também a capacidade do Estado grego para emitir nova dívida, centrou-se no momento em que foi tomada. Como a questão da validade da garantia está ligada com o programa da troika e este só acaba no final de Fevereiro, muitos governadores defendiam que o BCE tomasse esta medida apenas nessa altura.

A Alemanha fez entretanto saber que esperava ouvir propostas concretas da Grécia (e pressionava para que não fossem revertidas reformas pelo novo Governo de Atenas).

Do lado de Atenas surgiram declarações contraditórias. Primeiro, fonte do Ministério das Finanças garantia que o ministro, Yanis Varoufakis, que não iria concordar, na reunião do Eurogrupo, com uma extensão dos acordos em vigor, o que seria o cenário preferido de Bruxelas que invoca a necessidade de evitar o pânico nos mercados. 

Varoufakis tem defendido um acordo transitório enquanto não é negociado um novo programa com a União Europeia e acena com reformas prometidas pelos governos anteriores e nunca levadas a cabo.Concordar com a extensão dos acrodos em vigor seria "o fim do Governo", disse ainda o responsável do ministério.

Mas pouco depois um responsável do gabinete de Tsipras vem, também sob anonimato, desmentir a afirmação anterior.

Portugal defende "remédio amargo"
Enquanto isso, Portugal juntou-se publicamente à posição alemã de que Atenas não se deve desviar das reformas e compromissos feitos pelos anteriores Governos (o que o Executivo de Alexis Tsipras já fez, cancelando privatizações em curso).

O ministro da Economia, António Pires de Lima, disse à agência Reuters que a Grécia “tem de tomar o remédio amargo como Portugal”, mantendo os acordos que fez e os compromissos perante os seus credores.

Lisboa “optou por um caminho que não foi o mais fácil” e assim esta é a atitude do Governo português “em relação a outros países”, acrescentou Pires de Lima à agência britânica.

Enquanto o ministro português sugere que a zona euro sobreviveria a uma saída da Grécia do euro, sem o dizer directamente, instituições financeiras como a Goldman Sachs ou o Deutsche Bank já vieram dizer que enquanto esperam que os próximos tempos sejam turbulentos, partem do princípio de que o país se manterá na zona euro.

O Governo grego tem acenado com a possibilidade de reformas, o que foi ontem sublinhado pela nova presidente do Parlamento, Zoe Konstantopoulou (a segunda mulher a ocupar ao cargo na Grécia, e uma figura importante num partido com um Governo só de homens), ao prometer que as autoridades iriam atrás dos nomes da chamada “lista Lagarde”, de mais de 2000 gregos com contas bancárias na Suíça (e que são suspeitos de eventual fuga ao fisco). Desta lista (entregue em 2010 pela então ministra das Finanças de França e actual líder do FMI Christine Lagarde ao seu homólogo grego), apenas uma décima parte foi investigada.

A lista foi perdida da gaveta do ministro grego das Finanças e depois revelada pela revista de investigação Hot Doc (o jornalista responsável pela publicação da lista foi julgado e absolvido duas vezes). Em 2012, o Parlamento chumbou, com o apoio da maioria dos partidos, um inquérito ao falhanço das autoridades gregas na investigação.

Com Sérgio Aníbal