Um meteoro à deriva

The Innocents é o segundo disco da americana Natalie Mering, que hoje se esconde por trás do nome Weyes Blood.

Foto

Uma série de canções (como Hang On ou Ashes) assentam quase apenas em guitarra e voz; quando uma flauta vem assombrar February skies, adensa-se a impressão de estarmos presente uma estranha derivação de uma folk pastoral maligna. Mas é a voz – sempre projectada numa colocação quase sacra – que aproxima The Inonocents do universo sombrio de uma Nico ou de uma Buffy Sainte-Marie, quando esta, meio alucinada, gravou Illuminations, disco em que todos os sons eram sintetizados a partir da voz e da guitarra da própria Buffy, que – coitada – anos depois acordou, ouviu a sua voz em God is alive/Magic is afoot (a primeira canção do álbum, escrita pelo malandro Cohen) e renegou a sua própria obra. Requiem for forgiveness, quinta faixa de The Innocents, podia pertencer a esse tremendo disco, mas no resto Natalie Mering, no que resta dos seusInnocents – vítimas de amor e da América, os grande temas que abarcam estas canções –, não vai tão longe na manipulação sonora, embora o som dos pianos e dos bandolins surja “alterado” e a presença de órgãos estranhos o aproxime dessa atmosfera de alucinação, de irrealidade.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Uma série de canções (como Hang On ou Ashes) assentam quase apenas em guitarra e voz; quando uma flauta vem assombrar February skies, adensa-se a impressão de estarmos presente uma estranha derivação de uma folk pastoral maligna. Mas é a voz – sempre projectada numa colocação quase sacra – que aproxima The Inonocents do universo sombrio de uma Nico ou de uma Buffy Sainte-Marie, quando esta, meio alucinada, gravou Illuminations, disco em que todos os sons eram sintetizados a partir da voz e da guitarra da própria Buffy, que – coitada – anos depois acordou, ouviu a sua voz em God is alive/Magic is afoot (a primeira canção do álbum, escrita pelo malandro Cohen) e renegou a sua própria obra. Requiem for forgiveness, quinta faixa de The Innocents, podia pertencer a esse tremendo disco, mas no resto Natalie Mering, no que resta dos seusInnocents – vítimas de amor e da América, os grande temas que abarcam estas canções –, não vai tão longe na manipulação sonora, embora o som dos pianos e dos bandolins surja “alterado” e a presença de órgãos estranhos o aproxime dessa atmosfera de alucinação, de irrealidade.

O seu pathos reside em algo mais terreno: o talento da menina para criar sequências de acordes pungentes (de que a espantosa Hang On, a comovente Summer ou a lindíssima Bad Magic serão o melhor exemplo) em que as melodias de voz (coros inclusive), são projectadas com uma grandiloquência que nos sufoca. The Innocents não é nem o passado nem o futuro de folk alguma – é um meteoro à deriva, incandescente, fora do tempo e das coordenadas da música popular, e a queimar, a queimar.