A obra de arte mais cara de sempre? Gauguin terá ganho a Cézanne
Pintura de Gauguin terá sido vendida por coleccionador suíço a negociante do Qatar por 300 milhões de dólares. A confirmar-se, é a obra de arte mais cara de sempre.
Ao que tudo indica, Paul Gauguin destronou Paul Cézanne, tornando-se o autor da mais cara obra de sempre. Nafea Faa Ipoipo (1892), qualquer coisa como “Quando irás casar?” (101X77cm), acaba de ser vendida por 300 milhões de dólares (271 milhões de euros), mais 50 milhões (cerca de 45 44 milhões de euros) do que a soma atingida em 2011 pela pintura Os Jogadores de Cartas (1895), comprada pela família real do Qatar a um magnata grego.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ao que tudo indica, Paul Gauguin destronou Paul Cézanne, tornando-se o autor da mais cara obra de sempre. Nafea Faa Ipoipo (1892), qualquer coisa como “Quando irás casar?” (101X77cm), acaba de ser vendida por 300 milhões de dólares (271 milhões de euros), mais 50 milhões (cerca de 45 44 milhões de euros) do que a soma atingida em 2011 pela pintura Os Jogadores de Cartas (1895), comprada pela família real do Qatar a um magnata grego.
Trata-se agora de um pintura representando duas jovens mulheres ao ar livre, executada um ano depois de o pintor ter chegado ao Taiti para a primeira das duas estadias na polinésia francesa que viriam a marcar em definitivo a sua obra. Uma delas, a de maior movimento e que desvia o olhar do observador, está vestida de forma tradicional, com os braços nus e uma flor branca no cabelo. A outra, um corpo hirto que parece aprisionado num vestido de corte ocidental semelhante aos que os missionários costumavam impor aos nativos que tentavam evangelizar, interpela quem a vê. À combinação das duas mulheres atribuem alguns historiadores uma ligação aos dilemas pessoais e artísticos do pintor, sempre entre dois mundos.
Segundo o jornal norte-americano, a obra foi transaccionada entre Rudolf Staechelin - um antigo executivo de 62 anos que trabalhou para a leiloeira Sotheby’s e que através de um fundo familiar gere uma colecção de 20 obras de arte impressionistas e pós-impressionistas - e um comprador do Qatar. Questionado sobre a possibilidade de o novo dono de Nafea Faa Ipoipo ser um coleccionador deste emirado do Golfo Pérsico que vive essencialmente do petróleo e do gás, Staechelin, que também não falou do preço em causa, disse apenas: “Não confirmo nem desminto.”
É claro que, no mercado da arte e tendo em conta os últimos quatro a cinco anos, especula-se já sobre o possível comprador. E são muitos os que apostam na família real do Qatar, que em 2011 adquiriu Os Jogadores de Cartas e que no mesmo ano foi considerada pela publicação especializada The Art Newspaper o maior investidor mundial em arte contemporânea (Damien Hirst está entre os seus favoritos). Outros optam pelo organismo que gere os museus do emirado. Uma e outra coisa, aliás, confundem-se.
The partial view '~/Views/Layouts/Amp2020/CITACAO_CENTRAL.cshtml' was not found. The following locations were searched:
~/Views/Layouts/Amp2020/CITACAO_CENTRAL.cshtml
CITACAO_CENTRAL
O New York Times baseia a sua notícia de que teria sido comprada pelos museus do Qatar no testemunho de dois negociantes de arte com informação privilegiada sobre o negócio, mas que preferiram manter-se anónimos. Cita ainda a Baer Faxt, uma respeitada newsletter semanal publicada pelo consultor de arte Josh Baer desde 1995 e que costuma avançar, muitas vezes em primeira mão, notícias sobre o mercado. Diz a Baer Faxt no seu site que são muitos os rumores de que será efectivamente o Qatar o comprador e por uma soma muito próxima dos 300 milhões de dólares já mencionados.
A organização que gere os museus do emirado não fez qualquer comentário, apesar das tentativas do jornal americano.
A colecção e o conflito
O acervo que Staechelin gere, e a que pertence esta pintura de Gauguin (1848-1903), é suíço e estava emprestado ao Kunstmuseum de Basileia, cidade onde vive o antigo funcionário da Sotheby’s. Por serem demasiado valiosas – o lote de 20 obras inclui Van Goghs, Picassos e Pissarros – nunca estiveram expostas na casa de Staechelin nem de nenhum outro familiar desde a morte do seu avô, o coleccionador original, em 1946, explicou.
O avô de Staechelin, um negociante de arte suíço a quem o neto deve o nome, tinha muitos artistas no seu círculo de amigos e fez a maioria das suas compras durante e depois da Primeira Guerra Mundial. Foi já na condição de consultor do museu de arte de Basileia que se decidiu pelo empréstimo das obras, que só foi concretizado pelo seu filho Peter, no final dos anos 1940 início dos 50, segundo a agência de notícias Bloomberg. Um empréstimo a que Staechelin pôs agora fim, depois de um contencioso com as autoridades regionais, ainda de acordo com o jornal norte-americano.
O presidente da câmara de Basileia, Guy Morin, reconhece a perda e garantiu à imprensa suíça que tentou persuadir Staechelin a manter o empréstimo ao museu, que se encontra fechado há poucos dias e que está prestes a entrar em obras, reabrindo em Abril do próximo ano. Na base do conflito está o contrato de concessão, que o coleccionador queria alterar (desconhece-se em que termos) e que o museu fez questão de manter. Aproveitando que o contrato vigente exige a exposição permanente das obras sob empréstimo, Staechelin resolveu denunciá-lo e vender a pintura, tirando partido do facto de o mercado estar em alta para obras deste género.
A família, que frequentemente é contactada por compradores interessados em várias obras do seu acervo, teve agora, admitiu, "uma boa oferta". "Para mim [esta obras] são história de arte e história da minha família", disse Staechelin citado pelo New York Times, "mas são também uma segurança e investimentos".
“Fomos dolorosamente recordados de que os empréstimos permanentes são empréstimos na mesma”, reagiram os responsáveis do Kunstmuseum, num comunicado breve. Para Staechelin trata-se de encarar o acervo como um organismo vivo: “As colecção privadas são como as pessoas. Não vivem para sempre.”
"Super troféus"
Ouvido pelo diário americano, James Roundell, director de uma empresa especializada em venda de obras de arte em Londres, a Simon Dickinson, fez questão de sublinhar que obras como este Gauguin, que pertencem a privados, embora tenham estado décadas pendurados nas paredes de um museu, estão a chegar ao mercado em vendas também elas particulares, o que está a criar uma nova categoria de bens a disputar – a dos “super troféus”.
Ainda não é claro quando é que o Kunstmuseum terá de entregar a pintura de Gauguin ao seu novo dono, seja ele quem for, escreve o jornal económico The Wall Street Journal, embora o New York Times garanta, citando o próprio Staechelin, que deverá mudar de mãos em Janeiro de 2016. O tempo de espera deve-se aos compromissos que o museu assumira já com exposições em Washington (Phillips Collection), Madrid (Centro de Arte Reina Sofia) e mesmo em Basileia (Fundação Beyeler), a primeira das três.
Staechelin diz agora que anda à procura de um grande museu que aceite a colecção do avô. Assegura que não pedirá dinheiro pelo empréstimo e que a única condição que o fundo familiar impõe é que as obras façam parte da exposição permanente.
O seu destino depois das exposições ainda não é público. Seja ou não o Qatar, também não é certo que venha a integrar as colecções de um dos museus de Doha, a capital. O Cézanne (1839-1906) que a família real comprou em 2011 continua a ser um privilégio partilhado por muito poucos.
Notícia actualizada às 16h20