O melhor que os ingleses tiveram
Uma história, elegíaca e mordaz ao mesmo tempo, das ideias políticas e sociais que vingaram na Grã-Bretanha do pós-guerra.
O “espírito de 45”, tal como Ken Loach o interpreta, não é só isto, mas também é isto: a noção de que da guerra para a paz se virou uma página, e que essa página estava em branco e devia ser escrita por outras pessoas. O Espírito de 45 é uma história, elegíaca e mordaz ao mesmo tempo, das ideias políticas e sociais que vingaram na Grã-Bretanha do pós-guerra, e que se traduziram nalguns baluartes do “estado social” britânico, como por exemplo o Serviço Nacional de Saúde.<_o3a_p>
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O “espírito de 45”, tal como Ken Loach o interpreta, não é só isto, mas também é isto: a noção de que da guerra para a paz se virou uma página, e que essa página estava em branco e devia ser escrita por outras pessoas. O Espírito de 45 é uma história, elegíaca e mordaz ao mesmo tempo, das ideias políticas e sociais que vingaram na Grã-Bretanha do pós-guerra, e que se traduziram nalguns baluartes do “estado social” britânico, como por exemplo o Serviço Nacional de Saúde.<_o3a_p>
A perspectiva de Loach é convicta, e o seu filme não “analisa” nem “discute”, proclama uma certeza: aquelas primeiras décadas depois do fim da guerra foram do melhor que os ingleses já tiveram. O Espírito de 45 é um elogio daqueles tempos e dos homens e das mulheres que os viveram e os construíram. Muitas imagens de arquivo, de cenas do dia a dia a intervenções políticas dos principais protagonistas (como os próprios Churchill e Attlee), e depoimentos filmados contemporaneamente, venham eles de historiadores e investigadores ou de “gente comum”, médicos, sindicalistas, etc, que atravessaram essa época. A estrutura do filme é bastante convencional, mas isso também traduz uma espécie de “calma” que é assaz curiosa: não é um filme de punho estendido a tentar mudar o mundo, é um filme a lembrar que o mundo já foi diferente.<_o3a_p>
É claro que tudo isto, mesmo se o contexto do filme é exclusivamente britânico, retine de forma especial na Europa contemporânea, feita de arengas diárias sobre a “morte do Estado Social”. Esse é obviamente o ponto onde Loach se coloca. E quando no fim do filme, numa espécie de flash forward, a protagonista se torna Margaret Thatcher, a voz off não precisa de explicar o que está subjacente nem de fazer a ponte com o que liga Thatcher aos nossos tempos presentes: não foi com Churchill que acabou a II Guerra, nem sequer com Attlee, ela só começou a acabar muitas décadas depois, quando uma nova geração de políticos começou a desmontar o “espírito de 45”. Sem ser um requiem, e respirando mais como um “último hurrah” pelo socialismo britânico, o filme de Loach emparceirava bem com outro, e melhor filme, exibido no DocLisboa do ano passado, o “Socialismo” que foi o derradeiro “opus” do grande Peter von Bagh. Como ele, é uma despedida do século XX, e uma saudação, irónica e rosnada, ao século XXI do salve-se quem puder.<_o3a_p>