Tsipras vai vencer o braço-de-ferro e forçar um "haircut"

Este plano não foi criado para salvar a Grécia da bancarrota mas sim para garantir que esta pagava aos seus credores

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Asteris Masouras | Flickr

Alexis Tsipras, o grego que a maioria dos gregos escolheram para liderar a Grécia, propõe-se a mudar a política económica imposta pela troika.

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Alexis Tsipras, o grego que a maioria dos gregos escolheram para liderar a Grécia, propõe-se a mudar a política económica imposta pela troika.

Antes de tecermos algum comentário sobre isto, convém apreciar os resultados que o programa da troika teve na Grécia. Em 2010, quando a troika aterrou em Atenas e impôs o seu programa, diziam que dentro de dois anos, 2012, a economia grega começaria a apresentar sinais de recuperação. Nesses dois anos, afirmavam, o desemprego subiria dos 9% para os 15% mas em 2012 começaria a baixar progressivamente até atingir os níveis pré-crise. A troika admitia ainda que o PIB baixasse cerca de 5% mas jurava que no final de 2011 começaria a crescer novamente. Os gregos avaliaram e aceitaram os termos e as condições do “negócio” de forma a pagarem parte da sua dívida.

Só que não foi bem assim. Na verdade, os gregos fizeram aquilo que lhes era exigido no programa de ajustamento. Como podem ver na foto, cortaram cerca de 20% na despesa pública (investimento, proteção social, salários da função pública, etc.).

Então o que falhou? É simples: este plano não foi criado para salvar a Grécia da bancarrota mas sim para garantir que esta pagava aos seus credores. Foi um "bailout" não à Grécia mas sim aos bancos dos países europeus credores da Grécia. A maioria do dinheiro emprestado à Grécia não foi para tornar o estado mais eficiente nem para apoiar sectores empresariais estratégicos, mas sim para... pagar juros da dívida e empréstimos que a Grécia tinha contraído junto de bancos e de parceiros europeus.

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O desemprego grego subiu para 29% (quase 60% entre os jovens) e o PIB contraiu praticamente 25%. Com a queda do PIB, a Grécia viu ainda a sua dívida aumentar de peso (de cerca de 130% para 185% do PIB).

Por isso, podemos dizê-lo: a Europa foi incompetente na sua análise. E agora, os gregos, literalmente, sem nada a perder, fizeram aquilo que se impunha: elegeram um homem que lhes disse que não aceitaria mais planos da troika nem tomaria mais medidas de austeridade, desafiando o "lobby" neo-liberal na Europa.

"Grexit"?

Acredito que Tsipras vai vencer este braço-de-ferro e vai forçar um "haircut" da dívida disfarçado. A razão é simples: a maioria dos credores da Grécia são os estados-membro da UE e o BCE, e o que é que os credores podem fazer caso a Grécia decida não pagar? Forçar um "crash" bancário grego (porque os bancos gregos estão dependentes dos empréstimos do BCE).

Mas a UE nunca o fará, porque isso significaria que a Grécia faria "exit" do euro (o famoso "Grexit") e não nos podemos esquecer da principal arma que a UE tem para manter os estados-membro agarrados ao euro: o dogma da impossibilidade do retorno à moeda pré-euro. A UE não pode arriscar-se a que a Grécia volte ao dracma e passados 5 ou 6 anos esteja com um crescimento saudável, porque isso iniciaria o contágio a países com dívidas elevadas como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda que começariam a equacionar se não valeria a pena abandonar o euro. Claro que no caso de "Grexit", a UE tinha formas de “entalar” os gregos e nunca mais os deixar recuperar mas não me parece que a UE chegue ao ponto de fazer guerra económica contra um seu estado-membro, isso teria um nome: o fim da União Europeia.

No entanto, uma coisa é certa, se Tsipras cumprir o que prometeu, vai mudar tudo, para o bem ou para o mal.