Não vemos telejornais na TV pública por uma questão de respeito

Deixámos de ver os telejornais na televisão pública. Não por falta de saudades, não por não querermos ouvir a língua materna, mas por uma questão de respeito para com os nossos próprios princípios

Foto
Flickr | Flash.Pro

Deixámos de ver os telejornais na televisão pública. Não por falta de saudades (ainda as temos), não por não querermos ouvir a língua materna (antes pelo contrário, queremos ouvir tudo quanto se passa na mesma e pela mesma), mas por uma questão de respeito para com os nossos próprios princípios, os quais não se compadecem dos insultos diários aos quais são sujeitos de toda a vez que o Papa relata o telejornal.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Deixámos de ver os telejornais na televisão pública. Não por falta de saudades (ainda as temos), não por não querermos ouvir a língua materna (antes pelo contrário, queremos ouvir tudo quanto se passa na mesma e pela mesma), mas por uma questão de respeito para com os nossos próprios princípios, os quais não se compadecem dos insultos diários aos quais são sujeitos de toda a vez que o Papa relata o telejornal.

O Papa não é mais do que o representativo máximo da informação pública, e por se achar dono de tão excelsa posição, acha-se no direito de fazer da informação, pública por direito, a sua própria página pessoal do Facebook, desde referências diárias a sua Santidade (daí o cognome), passando pelos alaridos esganiçados de toda a vez que o Governo lhe vai ao bolso (dele, mas também de todos nós, aqueles que não auferem ou, a auferir, auferem mal, e auferem pouco), incluindo extensos relatos sobre a única estrela da Galáxia cujo brilho iguala o seu (o CR7, pois claro), terminando com um piscar de olho de toda a vez que meia dúzia de moçoilas se despem em "lingerie" no fecho de mais um telejornal, para gáudio da senhora sua esposa a qual já desistiu de se despir do mesmo modo, ao invés desligando a televisão ou, simplesmente, mudando de canal.

No entanto, e apesar das críticas supra mencionadas, não é de todo minha intenção usar o espaço público para discorrer um ror de insultos a sua Santidade. Não. De insultos está já a internet cheia. Ao invés, pretendo congratular toda uma Nação que agora se levanta contra as regras e contra as normas instituídas por anos de (má) televisão pública, os quais foram por demais eficientes ao adormecer um País, um povo e uma voz durante quase tanto tempo como o da Ditadura. Viva a Democracia, mas não esta, a nossa. Porque o jornalismo e os interesses por si defendidos de público têm pouco e de privado têm muito. E até agora Portugal tem comido à colherada tudo quanto lhe dão. "No more".

Ouvi dizer que lá para os lados da Grécia se passa o mesmo, que as pessoas agora querem falar e agora querem gritar e agora querem comer... uma chatice portanto, até porque a seguir vão querer a reforma agrária e lá vamos nós outra vez de charola para o Brasil... sim, já vimos este filme, até que veio o Bochechas para nos salvar a todos, e de caminho trazer de volta a casa aquele senhor do bés que por acaso até faliu um banco centenário e um País inteiro por arrasto (tudo boa gente).

Sim, lá para os lados da Grécia puseram o povo a falar nas ruas, porque sem casa, porque sem tecto, porque sem trabalho, sem reformas e sem salários. E tenho um dedo que adivinha que o mais provável é morrerem todos à fome. Mas quem morre de fome, morre de pé, e na morte a vitória e a certeza de não pagar nem mais um tostão. Segurem-se portanto: os tambores acabaram de rufar e os tambores ainda estão quentes, e de pouco importa se se perde uma batalha quando a coragem e a vontade são em tudo maiores que a História. Saibamos nós contá-la.