Morreu Aldo Ciccolini, um dos grandes pianistas franceses

Intérprete, compositor e professor, foi um importante divulgador e uma criança prodígio que aos nove anos já tinha aulas de composição no Conservatório.

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Aldo Ciccolini KENZO TRIBOUILLARD/afp

“Um monumento da história da música”, classifica o diário francês Le Figaro, “o deão dos grandes pianistas”, atesta a agência AFP, “o imenso pianista”, resume a Radio France. Aldo Ciccolini morreu em casa, em Asnières-sur-Seine na região de Paris, uma semana depois de ter tido alta hospitalar na sequência de um longo internamento, como explicou o seu manager e amigo, Paul Blacher.

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“Um monumento da história da música”, classifica o diário francês Le Figaro, “o deão dos grandes pianistas”, atesta a agência AFP, “o imenso pianista”, resume a Radio France. Aldo Ciccolini morreu em casa, em Asnières-sur-Seine na região de Paris, uma semana depois de ter tido alta hospitalar na sequência de um longo internamento, como explicou o seu manager e amigo, Paul Blacher.

Nascido em Nápoles, em 1925, numa família de melómanos, como detalha a AFP, era um prodígio e aos nove anos já tinha aulas de composição no Conservatório da sua cidade natal. Era uma criança “curiosa, impaciente por aprender”, recordou em entrevista ao Figaro há dois anos. “Descobri o piano quando era muito pequeno, vendo a minha irmã mais velha trabalhar. Aos cinco anos, estava colado ao instrumento, sem parar. Não sei como aprendi. Sem dúvida por mimetismo.” E foi então, vendo a paixão do filho pelo piano, que o seu pai lhe perguntou solenemente: “Estarás pronto a sacrificar a tua vida pela música?”. “Lembro-me de lhe ter respondido: ‘Sim’.”

Aldo Ciccolini foi aluno de Paolo Denza, um pianista e compositor italiano herdeiro da escola francesa do piano, e do pianista e maestro suíço Alfred Cortot e da pianista francesa Marguerite Long já em Paris, sendo considerado, como escreve o Figaro, um herdeiro directo de Liszt e Busoni. Em 1949, obteve o primeiro prémio no importante concurso Marguerite Long-Jacques Thibaud, em Paris, que o lançou numa carreira internacional. Aos 25 anos, interpretou o primeiro concerto para piano de Tchaikovsky e triunfou – considerava que a interpretação era sobretudo “humildade perante o texto” ou a pauta.

Muda-se então para Paris, embora só venha a obter a nacionalidade francesa em 1971 – um ano antes de se tornar professor do Conservatório da capital francesa onde, segundo o Figaro, formaria dois grandes nomes do piano, o francês Jean-Yves Thibaudet e o americano Nicholas Angelich.

Entre esses dois marcos de carreira em Paris, foi na década de 1950 que Ciccolini se lançou em digressões internacionais como intérprete, da América Latina aos EUA. Actuou com a New York Philharmonic, dirigido pelo maestro (e compositor) grego Dimitri Mitropoulos, um dos pontos-chave da sua ascensão, onde se torna divulgador tanto de Debussy como de Ravel, valorizados pela crítica e conhecidos do mainstream, mas também de compositores franceses então menos reconhecidos, como Valentin Alkan, Erik Satie, Deodat de Séverac, Emmanuel Chabrier ou Alexis de Castillon.

Além das salas, era também um músico bem sucedido no estúdio, tendo registado peças de Bach, Rachmaninov, Scarlatti, Grieg ou Borodin, elenca a AFP, dirigido por grandes nomes como André Cluytens, Pierre Monteux, Charles Münch, ou Wilhelm Furtwängler.

A carreira do modesto Ciccolini foi pautada pelo seu desejo de ensinar e transmitir conhecimento musical. “Nada há de mais comovente do que ver o talento de uma jovem rapariga ou rapaz desabrochar como uma flor”. Foi reconhecido pela Académie du disque français em 1972, pela Académie Charles Cros em 1976, e recebeu em 2002 o Diapasão de Ouro, uma escolha da revista francesa Diapason dos melhores registos de clássica. Gravou mais de uma centena de discos entre a HMV e a EMI France, o último dos quais lançado em 2013.