“PS não é nem será o PASOK”, promete Costa
Líder do PS abre comissão nacional demarcando-se do Syriza
Costa defendeu a necessidade de "travar a austeridade" e de elevar o "debate democrático" à escala europeia, apontando para um caminho que não é necessariamente o do Governo do Syriza, na Grécia.
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Costa defendeu a necessidade de "travar a austeridade" e de elevar o "debate democrático" à escala europeia, apontando para um caminho que não é necessariamente o do Governo do Syriza, na Grécia.
"A verdade é que não é preciso olhar para o novo Governo grego, basta olhar para o velho Governo irlandês, que perante as oportunidades de mudança aquilo que diz é: esta mudança tem que ser mais vasta, tem que ser mais consistente e tem também que servir os interesses da Irlanda", afirmou.
Para Costa, "não é uma questão de ser radical ou não ser radical, não é sequer uma questão de ser de esquerda ou ser de direita, é uma questão de ser patriota e de ter ou não ter centradas as atenções na defesa dos interesses da economia nacional".
O secretário-geral do PS argumentou que "a melhor forma de defender o projecto europeu, de defender o euro, é criar condições para que no campo democrático dos defensores da integração europeia, dos defensores do euro, seja possível criar alternativas que reforcem a Europa e que reforcem o euro".
"Se não criarem alternativas entre os defensores do euro e os defensores da Europa para uma nova política, essas alternativas surgirão não entre os defensores da Europa, mas entre os inimigos da Europa, não nos defensores da democracia, mas nos defensores do radicalismo, não nos defensores do euro mas naqueles que querem combater o euro", sustentou.
Costa afirmou que as mudanças que já se verificam na Europa têm de ser acompanhadas por uma mudança em Portugal, considerando que as críticas a fazer aos sinais dessa mudança, o plano Juncker ou o programa do BCE, é que não são ainda suficientes.
"Mas não é esta a posição do Governo português", condenou Costa, acusando Passos de recusar uma "leitura inteligente do tratado orçamental" e de ter sido derrotado pelo programa de compra de dívida do BCE.
"O novo campo hoje do debate democrático já não está reduzido às fronteiras de cada Estado nacional, trava-se à escala europeia", disse, defendendo a necessidade de "alianças alargadas a nível europeu".
António Costa sublinhou que o PS não está contra a União Europeia, qualificando-o, aliás, de "partido campeão da integração europeia em Portugal", mas advertiu: "Ou a Europa muda de política ou a Europa perderá o apoio popular". E defendeu que, apesar do plano Juncker e do programa do BCE constituírem sinais "importantes", não haverá relançamento da economia enquanto se persistir na austeridade.
"É preciso travar a austeridade para relançar a economia e poder criar emprego e ter crescimento", declarou, reclamando que mais investimento, mas também defendendo uma "alteração na política de rendimento".
"Se não criarem alternativas entre os defensores do euro e os defensores da Europa para uma nova política, essas alternativas surgirão não entre os defensores da Europa, mas entre os inimigos da Europa, não nos defensores da democracia, mas nos defensores do radicalismo, não nos defensores do euro mas naqueles que querem combater o euro", sustentou.
Na reunião partidária, Costa fez questão de comentar os dados sobre o aumento do risco de pobreza resultantes do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento divulgado na sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O líder do PS considerou estes dados "reveladores do fracasso da política deste Governo, quer no domínio económico quer social" e sublinhou que "o programa de ajustamento traduziu-se num drama social não só na emigração, no desemprego, mas num aumento significativo da pobreza e das desigualdades". E defendeu: "A tese que o Governo quis apresentar que neste programa de ajustamento tinha havido justiça social - que aqueles que mais tinham, tinham suportado mais, e aqueles que menos tinham, tinham suportado menos - é uma ideia que é falsa."
Costa destacou que "quase 20% da população portuguesa está em risco de pobreza”, acrescentando que “só nos anos de 2012 e 2013 tivemos um aumento de 400 mil pessoas”. E afirmou: “Tínhamos que regressar a 2003, tínhamos que regressar aos governos de Durão Barroso, para encontrarmos o nível de pobreza que Portugal agora atingiu sob a condução deste Governo."
Sublinhou que o risco de pobreza aumentou sobretudo entre os jovens e as crianças, considerando isso "significa o risco de reproduzir uma nova geração de pobreza e significa cortar à partida a oportunidade que todos têm que ter de realizar plenamente o seu potencial".
"Estes dados sobre a pobreza revelam bem que o discurso que o Governo procurou fazer de que desta vez não tinha sido o 'mexilhão' a suportar os encargos e sacríficos desta crise é uma tese falsa. Ao contrário do que disse o Governo, têm sido aqueles que menos rendimentos têm que mais têm suportado a política de ajustamento", afirmou.
E frisou que "ao aumento da pobreza, o Governo conseguiu acompanhar com a asfixia fiscal da classe média", o que é refletido nos dados que revelam que "mais 10% da população empregada está também em risco de pobreza".
Costa quis também focar-se na quantificação do aumento das desigualdades fornecida pelo INE: "Aumentaram seis vezes quando se compara entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos, e quando comparamos entre os 10% mais pobres e os 10% mais ricos, a diferença é de 11 vezes favorável aqueles que têm rendimentos mais elevados", disse.