Podemos encena em Madrid o início da “mudança”
Marcha mobilizou mais de 100 mil pessoas. “Quem disse que não é possível? Na Grécia, foi feito mais em seis dias do que em muitos anos”, disse Pablo Iglesias.
“O vento de mudança começa a soprar na Europa”, gritou à multidão concentrada nas Portas do Sol, que abarrotava de gente ida de toda a Espanha. “Quem disse que não é possível? A Grécia tem hoje um Governo de mudança. Na Grécia, foi feito mais em seis dias do que em muitos anos”, disse.
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“O vento de mudança começa a soprar na Europa”, gritou à multidão concentrada nas Portas do Sol, que abarrotava de gente ida de toda a Espanha. “Quem disse que não é possível? A Grécia tem hoje um Governo de mudança. Na Grécia, foi feito mais em seis dias do que em muitos anos”, disse.
Bandeiras republicanas, algumas gregas, também do partido Syriza, cartazes em que se podia ler: “Políticos, o povo despertou”, pontuavam a “Marcha da Mudança”. Foi mais uma concentração, no dizer do diário espanhol El Mundo, porque no quilómetro que separa a Praça Cibeles, onde começou a iniciativa, e as Portas do Sol, não se podia desfilar, apenas caminhar.
O Podemos afirma que se concentraram no centro histórico de Madrid 300 mil pessoas, a polícia quantificou o número em 100 mil. O diário El País calculou-as em 153 mil.
Iglesias, que se insurgiu contra os “defensores do totalitarismo da austeridade”, comparou o dia de ontem a outros momentos históricos de Espanha e quer fazer dele uma data para aparecer nos livros. Referiu-se aos que se concentraram em Madrid como os herdeiros do levantamento de 2 de Maio de 1808 contra os franceses; dos que proclamaram a II República, em 1931; e dos indignados de 2011.
"Sim é possível, sim é possível” e “tique taque, tique taque”, cantou a multidão, num sinal de contagem decrescente para afastar do poder “a casta”. “Está a acabar o vosso tempo ppsoe”, lia-se em cartazes, num alusão aos dois partidos que têm governado a Espanha: PP (Partido Popular, no poder) e PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol, actualmente na oposição).
“As pessoas estão fartas da classe política”, disse, citada pela Reuters, Antonia Fernandez, uma pensionista madrilena de 69 anos, que se assumiu como antiga votante do PSOE. “Queremos mudar as coisas a partir da base. Espero que o Podemos mude o sistema”, disse Juan Francisco Pacheco, 47 anos, desempregado há dois.
A enorme concentração foi uma demonstração de força e o tiro de partida para o ano eleitoral que começa com as eleições autonómicas na Andaluzia, em Março, e culmina com as legislativas, antes do fim do ano. O Podemos quis “encenar a ruptura com a ‘velha política’ e o arranque da sua campanha eleitoral”, escreveu o El País.
Tornar o sonho realidade
Depois de ter irrompido nas eleições europeias de Maio de 2014, quando conseguiu 1,2 milhões votos e elegeu cinco deputados, a nova força política de esquerda quer chegar ao Governo. Desde Novembro que as sondagens indicam que pode vencer as legislativas.
“Hoje sonhamos tornar o nosso sonho realidade. Este ano começamos algo de novo, este ano é o ano da mudança e vamos ganhar as eleições ao PP”, disse Iglesias, aclamado várias vezes aos gritos de “presidente, presidente”, pelos manifestantes que pediam a demissão do chefe do Governo, Mariano Rajoy, líder do conservador PP. “Em 2005, o povo vai recuperar a soberania”, disse o número dois do partido, Iñigo Errejon.
Embora tenha falado do exemplo grego, ainda que o vencedor das eleições helénicas tenha sido o Syriza, com quem o Podemos partilha a rejeição da troika, Pablo Iglesias separou as situações, dizendo que os espanhóis terão que fazer o seu trabalho e conseguir dar forma ao seus sonhos. Mas declarou-se convicto de que este é o “momento” do Podemos.
É também isso que pensa Blanca Salazar, 53 anos, auxiliar de apoio a idosos, desempregada, que foi de Bilbau, de carro, com os primos e o marido, “que ganha mil euros por mês”. “Creio que a mudança tão esperada, há tanto tempo, vai enfim acontecer”, afirmou à AFP.
“Fazem falta sonhadores valentes que saibam sonhar um mundo melhor e que se atrevam a chamar as coisas pelos nomes, fazem falta sonhadores que se atrevam a defender os de baixo e enfrentar os de cima”, disse Iglesias, citado pelo El Mundo. “Sonhamos como Dom Quixote mas levamos muito a sério os nossos sonhos”, gritou à multidão, no lugar onde em 2011 nasceu o movimento dos indignados, 15-M, que exigia mais participação dos cidadãos na política.