Ao fim de 16 anos, há finalmente uma ponte entre Lamas de Olo e Barreiro
Braço de ferro entre ambientalistas e câmara de Vila Real chegou ao fim e a obra fez-se.
Marcelino Pires Moreira, um dos principais impulsionadores desta obra em pleno Parque Natural do Alvão, disse ao PÚBLICO que este dia lhe traz sentimentos contraditórios: de grande vitória mas também de grande revolta. “Esta estrada já podia ter sido inaugurada há mais de vinte anos. Não era preciso termos chegado a este ponto”, lamentou.
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Marcelino Pires Moreira, um dos principais impulsionadores desta obra em pleno Parque Natural do Alvão, disse ao PÚBLICO que este dia lhe traz sentimentos contraditórios: de grande vitória mas também de grande revolta. “Esta estrada já podia ter sido inaugurada há mais de vinte anos. Não era preciso termos chegado a este ponto”, lamentou.
As providências cautelares interpostas pela Quercus foram a principal causa do impasse. Segundo declarações feitas ao PÚBLICO no ano passado pelo dirigente da Quercus em Vila Real, João Branco, “a passagem de milhares de carros por ano prejudicaria as já ameaçadas alcateias do lobo-ibérico e a população da Borboleta-azul do vale do rio Olo”. Uma questão que levantou muitas dúvidas entre a população, que se mostrava nesta quinta-feira unida na convicção de que nunca se avistaram espécies em vias de extinção por aquela zona.
“Caço oficialmente desde 1971 e nunca cá vi lobos ibéricos nem espécies protegidas como dizem haver”, dizia um caçador de 66 anos. Joaquim Gomes, natural desta zona, garante que as providências cautelares da Quercus “não tinham pés nem cabeça” e foram baseadas em “pressupostos falsos”, pois “não há vestígios de passagem de lobos e as colónias das borboletas têm aumentado”. Recorde-se que em Junho do ano passado, ao contrário do que afirmava João Branco, especialistas na preservação do lobo-ibérico garantiram ao PÚBLICO que a área não era considerada uma zona vital para a espécie, não ameaçando, por isso, a sua reprodução.
Depois da Quercus reunir com o executivo de Vila Real, as duas entidades chegariam à conclusão que a ponte poderia ser construída mas o seu uso seria exclusivo para moradores, dissuadindo, assim, o uso intensivo daquela via por se situar num parque natural. Mas os habitantes discordam e consideram que todos deveriam ter acesso aquela ponte. Por seu lado, João Branco contrapõe que “o condicionamento dos acessos melhora a fluidez do trânsito e a atractividade do local para os turistas já que estes não querem ir para um parque natural onde os carros estão a passar a toda a hora e as outras pessoas têm outras estradas”.
Com o acordo alcançado entre câmara e ambientalistas, a estrada de 800 metros que ligará Lamas de Olo ao Barreiro, avaliada em 140 mil euros, fez-se, permitindo às populações um acesso mais rápido à capital de distrito. “É uma estrada que fazia muita falta. As ambulâncias circulavam muito mal pela estrada antiga e demoravam muito tempo a chegar ao hospital”, acrescentou Joaquim Costa, habitante de Fervença.
Segundo o presidente da câmara de Vila Real, Rui Santos, “é a primeira vez no país que se realiza um acordo entre uma câmara e a Quercus a propósito de intervenção num parque natural”. “Sinto-me muito feliz porque resolvemos um problema que estas populações necessitavam há muito tempo que fosse resolvido”, acrescentou.