Director da Ryanair desconfia da estratégia da Vinci para o aeroporto de Lisboa
David O’Brien diz que dona da ANA não quer crescimento rápido do tráfego de passageiros para adiar novo aeroporto.
“É um monopólio, está explicado. É o que acontece quando temos uma utility francesa a gerir todos os aeroportos de Portugal. Eles aumentam as taxas, porque os accionistas pedem. Mas é do interesse do país?”, questionou o responsável comercial pela empresa de baixo custo fundada há precisamente 30 anos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“É um monopólio, está explicado. É o que acontece quando temos uma utility francesa a gerir todos os aeroportos de Portugal. Eles aumentam as taxas, porque os accionistas pedem. Mas é do interesse do país?”, questionou o responsável comercial pela empresa de baixo custo fundada há precisamente 30 anos.
O’Brien admitiu que a Ryanair não vai deixar de investir na capital portuguesa, onde até espera duplicar o número de pessoas transportadas, de um para dois milhões, em 2015, mas assume que esta política da ANA refreia as ambições de expansão da companhia irlandesa, que tem na Europa outros mercados mais competitivos.
O’Brien, que criticou, no caso de Lisboa, o alegado favorecimento da TAP – empresa que "cobra 30 euros de taxa de combustível, mesmo com o petróleo ao preço mais baixo dos últimos anos", assinalou – pegou em dados de um inquérito a passageiros realizado pela própria ANA para mostrar o impacto da política de preços baixos da Ryanair no turismo. Nesse questionário, mesmo em rotas com muita oferta pré-existente, 40% dos que viajaram com os irlandeses a partir de Paris diziam visitar a capital portuguesa pela primeira vez, percentagem que subia para os 58% no caso dos passageiros embarcados em Londres.
As taxas aeroportuárias cobradas em Lisboa às companhias aéreas aumentaram a 1 de Janeiro pela quinta vez desde a privatização da gestora de dez aeroportos portugueses, ganha pelo grupo francês Vinci, no início de 2013. O último aumento chegou a estar suspenso, devido a uma reclamação das companhias e da IATA, mas entretanto o regulador deferiu provisoriamente a entrada em vigor deste novo aumento, sobre o qual terá que tomar uma decisão final até 15 de Março.
O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, garantiu esta quarta-feira que o sector aeroportuário em Portugal é "muito competitivo", defendendo as virtudes do modelo que privilegia a coesão territorial. "Desde a decisão de privatização da ANA [Aeroportos de Portugal] até agora as taxas no aeroporto de Lisboa subiram 17%. [...] As taxas subiram em Lisboa 17% para subsidiar o resto do país", defendeu o governante, num almoço debate no Instituto Amaro da Costa, em Lisboa.
Sérgio Monteiro, que defendeu o modelo de subida das taxas em função do crescimento do tráfego, questionou se as companhias aéreas serão "masoquistas", uma vez que trocaram os aeroportos espanhóis pelos portugueses para instalarem as suas bases na Península Ibérica. Para o governante, isto revela que as taxas aeroportuárias em Portugal são competitivas.
Apesar da frequência da actualização das taxas, a ANA defende que "a soma dos aumentos nos últimos cinco anos é inferior a um euro (97 cêntimos), por passageiro, ficando o aeroporto de Lisboa, ainda assim, 22% abaixo da média do grupo de aeroportos de comparação, nomeadamente o de Madrid, onde o valor cobrado por passageiro fica 78% acima do preço praticado na capital portuguesa.
No Porto, as taxas não aumentaram, o que mereceu elogios do CCO da Ryanair, que espera crescer 11% este ano no Sá Carneiro, graças a quatro novas rotas – uma delas para Ponta Delgada, a partir de Março – e ao reforço da ligação a Lisboa, que passa a contar, na mesma altura, com um terceiro voo diário, por volta das 14h. “Nesta rota, quanto mais aumentamos a oferta, melhor é a resposta”, assegurou David O’Brien que não deixou de se mostrar espantado com o facto de o Sá Carneiro, que serve, só na envolvente próxima, um milhão de pessoas, ter menos de sete milhões de passageiros, quando Dublin, de dimensões semelhantes, movimenta 20 milhões.
O CCO da Ryanair, companhia que está presente em 30 países e transporta cem milhões de clientes, explicou que Portugal tem de fazer mais para lutar pelos mercados emissores de turistas do leste da Europa, onde o rendimento per capita está a crescer. “Vocês não se podem esquecer que no sul da Europa, no Mediterrâneo, há destinos muito bons, atractivos, a uma hora de distância”, alertou. Com Lusa.
Notícia alterada às 17h15