Conselho de Segurança Alimentar reunido após estudo sobre carne de vaca picada
Estudo da Deco revelou irregularidades "graves" em produtos de 26 talhos. ASAE questiona métodos de amostragem da associação.
O Ministério da Agricultura confirmou ao PÚBLICO que o conselho, criado após os casos de carne de cavalo encontrada em alguns produtos à venda em Portugal, em 2013, vai reunir-se no seguimento de um pedido apresentado pela Deco junto da Secretaria de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar.
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O Ministério da Agricultura confirmou ao PÚBLICO que o conselho, criado após os casos de carne de cavalo encontrada em alguns produtos à venda em Portugal, em 2013, vai reunir-se no seguimento de um pedido apresentado pela Deco junto da Secretaria de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar.
No encontro estará representada a associação de defesa do consumidor, bem como a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e as entidades ligadas à produção, distribuição, comercialização e fiscalização deste tipo de produtos alimentares. Para já, a tutela não avança com medidas possíveis para este caso ou comenta a posição da Deco, que defende a proibição da venda de carne já picada.
Esta terça-feira, a associação revelou que uma análise a amostras de carne de vaca picada vendida em 26 talhos da Grande Lisboa, de Setúbal e do Grande Porto concluiu que todos os estabelecimentos mantinham o produto sob temperaturas acima do previsto por lei e sem as devidas condições de higiene e de conservação.
Dos estabelecimentos, 23 adicionaram sulfitos à carne e 12, que já tinham sido alvo de uma investigação pela Deco em 2013, voltaram a revelar “más práticas” de conservação e comercialização de carne de vaca picada, principalmente a adição de sulfitos. A associação considera que a existência de repetentes em práticas negligentes revela que a fiscalização a estes estabelecimentos por parte das autoridades competentes, neste caso a ASAE, “falha”.
ASAE questiona metodologia da Deco
Numa nota enviada ao PÚBLICO, a ASAE questiona a clareza e cientificidade da metodologia usada pela Deco para a realização do estudo, considerando ainda que a amostra reunida – carne de vaca picada de 26 talhos - foi “claramente insuficiente tendo em conta o universo em causa, condicionando as conclusões divulgadas”.
Na questão dos sulfitos, substâncias que evitam o desenvolvimento de microrganismos e ajudam a manter a cor original dos alimentos, a autoridade explica que se trata de “aditivos alimentares aprovados como conservantes que podem ser utilizados em variadíssimos géneros alimentícios”. Neste caso particular, a ASAE sublinha a necessidade de confirmar se amostras recolhidas pela Deco foram “efectivamente amostras de carne picada” ou se foram colhidas amostras de preparados de carne mas que estariam a ser vendidos como carne picada.
Se a Deco concluiu que 23 dos 26 talhos usavam sulfitos na carne de vaca picada, dez deles localizados na região da Grande Lisboa e Setúbal, a ASAE indica que, em 2014, na região da Grande Lisboa recolheu 42 amostras de carne, “não tendo sido detectado qualquer resultado não conforme”.
A autoridade refere ainda que no ano passado realizou acções de fiscalização a 676 estabelecimentos de comércio a retalho de carne e produtos à base de carne e que instaurou 21 processos-crime e 152 processos de contra-ordenação. As principais infracções encontradas foram ao nível de higiene e de rotulagem dos produtos. Dos cerca de 660 mil euros apreendidos em carne, a ASAE indica que apenas 325 euros se referiam a carne picada, perto de 70 quilos.
"Bom senso" contra "alarmismos"
A Deco avança que nas amostras recolhidas foram encontrados “muitos problemas microbiológicos”. No total, quase metade das amostras continha listeria monocytogenes e, no Grande Porto, 30% salmonela, ambas “bactérias potencialmente patogénicas”, como sublinha a associação.
Mário Durval, presidente da assembleia geral da Associação de Médicos de Saúde Pública, admite a perigosidade destas bactérias nos alimentos e condena a desnecessária adição de sulfitos mas alerta contra alarmismos. O médico afirma ao PÚBLICO que qualquer microorganismo deste género é “indesejável seja qual fora a sua quantidade” mas que é necessário “analisar a quantidade em função de quem a ingere, se tem mais ou menos resistência, se é alérgico, se tem mais anticorpos para alguns desses microorganismos”.
Mário Durval realça que pode haver negligência por parte de quem produz, distribui e comercializa um produto alimentar mas que cabe também a quem o consome tomar medidas para reduzir ao máximo a possibilidade da existência de microorganismos nocivos. E isso passa por cozinhar bem os alimentos.
“É quase impossível no limite garantir que não haverá ninguém a revelar algum problema. Haverá sempre alguém que irá ter problemas mesmo com o melhor dos bifes. É preciso bom senso na análise dos valores de microorganismos e de aditivos que são encontrados de uma forma algo arbitrária, sem substrato, sem um grande trabalho de estudo”, argumenta.
O responsável deixa transparecer que não há fórmulas que garantam a absoluta segurança dos alimentos mas que há formas de diminuir a sua nocividade ou mesmo eliminá-la. No caso da carne de vaca picada, e à semelhança do que recomenda a Deco, os médicos de saúde pública aconselham a consumir apenas carne picada na altura da compra.