Contra números não há argumentos

O CDUL perdeu os dois jogos no qualifying da Challenge Cup por culpa própria, mas também pela falta de competitividade que existe no râguebi português

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Luís Cabelo

Terminada a participação do CDUL no qualifying da Challenge Cup deixo aqui alguns números que penso que devem servir de reflexão para todo o râguebi português. O CDUL, com um orçamento de cerca de 240 mil euros para todo o clube, jogou contra uma equipa italiana que tem um orçamento de 950 mil euros só para a sua equipa sénior, e contra uma equipa russa que tem um orçamento anual de 3,8 milhões de euros só para o seu plantel sénior. Como podemos ver, são realidades totalmente diferentes. Mas estes orçamentos não podem servir de desculpa para o que se passou dentro de campo e para os resultados finais desses mesmos jogos.

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Terminada a participação do CDUL no qualifying da Challenge Cup deixo aqui alguns números que penso que devem servir de reflexão para todo o râguebi português. O CDUL, com um orçamento de cerca de 240 mil euros para todo o clube, jogou contra uma equipa italiana que tem um orçamento de 950 mil euros só para a sua equipa sénior, e contra uma equipa russa que tem um orçamento anual de 3,8 milhões de euros só para o seu plantel sénior. Como podemos ver, são realidades totalmente diferentes. Mas estes orçamentos não podem servir de desculpa para o que se passou dentro de campo e para os resultados finais desses mesmos jogos.

Contra o Mogliano Rugby perdemos por 45-17, entregando o jogo logo nos primeiros 15 minutos; contra o Enisey perdemos 28-6, entregando o jogo nos últimos 6/7 minutos, já que estivemos dentro do resultado durante 73 minutos, estando a perder por 13-6 quase até ao fim. Eu diria, que se esquecêssemos os primeiros 15 minutos do jogo em Itália e os últimos 10 minutos do jogo de Lisboa, teria sido uma jornada bastante positiva para o CDUL e para o râguebi português. Mas, no desporto de alta competição, não podemos esquecer um minuto que seja. E por isso esta participação passou de uma experiência muito boa (perfeita só se ganhássemos os dois jogos), para uma participação razoável.

Razoável porque durante largos períodos, durante os dois jogos, conseguimos ser competitivos. Razoável porque atacámos bem em Itália. Razoável porque defendemos bem em Lisboa. E muito razoável porque ao mesmo tempo que jogávamos contra italianos e russos, defrontávamos Académica e RC Montemor para o Campeonato Nacional.

Infelizmente o razoável não é bom (e longe de ser muito bom). E nós queremos mais. O CDUL quer mais, e com certeza todo o râguebi nacional quer mais!

O CDUL conseguiu discutir o resultado durante 73 minutos contra uma equipa que tem um orçamento de quase quatro milhões de euros. Mas será que o problema dos últimos 6/7 minutos foi a diferença de orçamento? Será que foi porque eles são 100% profissionais? Será que foi porque os jogadores deles recebem dinheiro e os nossos não? A mim, e ao CDUL, não nos parece que tenha sido por nada disso.

Os 3,56 milhões de euros, diferença de orçamento da primeira equipa do Enisey e de todo o CDUL, não fez a diferença naqueles últimos 6/7 minutos. Não fez mesmo. E se jogássemos já, outra vez, com o Enisey ou com o Mogliano, eles continuariam com os orçamentos deles e nós com o nosso e, posso garantir-vos, que a diferença seria menor e, quem sabe, não poderia haver uma surpresa num ou noutro jogo.

Claro que estes orçamentos e estes números têm a sua importância, mas não são estes os números importantes. Garanto-vos!

Os números importantes são que o CDUL em 13 jogos para o campeonato tem 13 vitórias. Mesmo jogando mal em alguns deles e tendo merecido perder, que me lembre pelo menos em dois (Técnico em casa e Belenenses no Restelo), acabou por ganhar de uma maneira ou outra e isso não é bom para o râguebi português. Os números importantes são que o CDUL tem 522 pontos marcados em 13 jogos, o que dá uma média de 40,3 pontos marcados por jogo. Média de 40 pontos marcados por jogo!

Os números importantes são que o CDUL tem 76 ensaios marcados em 13 jogos, o que dá uma média de 5,84 ensaios marcados por jogo. Média de quase seis ensaios marcados por jogo!

Os números importantes são que o CDUL jogou dois jogos, enquanto jogava com a sua equipa principal nas competições europeias, e nesses dois jogos marcou 16 ensaios e sofreu apenas um ensaio, com uma "segunda equipa”. Marcou 100 pontos e sofreu 22 nesses dois jogos. E estamos a falar na principal competição portuguesa!

Estes são os números verdadeiramente importantes e preocupantes, e falo aqui do CDUL como poderia falar do GD Direito e dizer exactamente o mesmo. Ou poderia falar de outro clube qualquer e provar o mesmo ponto, mas de outra maneira. O que está aqui em questão é o râguebi interno que temos. Esse é a verdadeiro problema! E é isso que temos que resolver todos juntos, mas ninguém resolve a pensar no seu próprio umbigo e na sua “quintazinha"!

E por isso, o nome do jogo (do nosso ou de qualquer outro) deve ser a competitividade. Como dizem os americanos, “that`s the name of the game”. E é nessa competitividade que temos que trabalhar. É à volta dela que temos que nos unir para que não nos faltem 10 minutos, seja num jogo do campeonato nacional, seja numa prova europeia de clubes, seja num jogo da Selecção Nacional.

Para termos noção, no campeonato espanhol o líder já perdeu três ou quatro vezes, os resultados são todos equilibrados e qualquer equipa vê-se aflita para ganhar fora de casa. No campeonato italiano a mesma coisa, no russo idem... E nem vou comentar outras realidades, ainda mais distantes das nossas.

No campeonato português isso não acontece. Todas as equipas andam a “passear” até aos últimos jogos e depois decide-se tudo em um ou dois jogos. Não há competitividade e deveria haver! Tem que haver! Em Portugal os erros não têm consequências! Um jogador falha uma placagem, deixa cair uma bola, está desconcentrado, etc… E qual a consequência disso? Nenhuma! Os jogos são tão desnivelados que nada acontece. E o erro que se deve evitar, passa nesse momento a ser usual, simplesmente porque nada acontece. Ninguém é penalizado! O erro passa a ser a regra, com todo o mal que resulta disso.

E, por favor, não venham outra vez com a história do Campeonato do Mundo, em que Portugal jogou contra a Nova Zelândia, e que qualquer equipa merece jogar com qualquer outra, mesmo que perca por 100 pontos. Só para nos entendermos, a Nova Zelândia jogou uma vez com Portugal num Mundial que acontece de quatro em quatro anos. Agora, neste de 2015, a Nova Zelândia vai jogar com a Namíbia, mas estamos a falar de quatro em quatro anos. E não vale a pena sequer pensarem que a Nova Zelândia aceitaria jogar com Portugal fim-de-semana sim, fim-de-semana não. Não pensem nisso, porque é simplesmente uma loucura!

Vamos é meter as mãos na massa (e não estou a falar em dinheiro porque esse infelizmente não abunda em Portugal) e nestes números, e vamos decidir o que é melhor para todos clubes que querem jogar um râguebi competitivo, o que é melhor para a Selecção e, acima de tudo, o que é melhor para o râguebi nacional.

Termino como comecei, com números: o CDUL não perdeu por causa de um orçamento de quase quatro milhões de euros, não perdeu porque os outros jogadores recebem cinco mil euros por mês, não perdeu porque os outros planteis têm 50 jogadores, etc... Perdeu por culpa própria e perdeu por causa dos números do râguebi português atrás referidos. E esses são os números que vale a pena reflectirmos. Até porque os dos outros nem vale a pena pensarmos, porque nunca teremos orçamentos daqueles e nunca seremos profissionais. Mas há tanto potencial, como se viu nestes dois jogos em Portugal, tanto, mas tanto, que podemos fazer muito, desde que mudemos os nossos números, ou seja, a nossa competitividade.