Prejuízos do grupo TAP derrapam para 63,3 milhões até Setembro
Desvio face ao previsto foi de 290%. Verão atribulado custou quase 28 milhões em fretamentos e apoio a passageiros Além do contributo negativo da aviação, a manutenção no Brasil perdeu 27 milhões.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As vendas da transportadora aérea aumentaram 0,1% face aos primeiros nove meses de 2013 para 1828,2 milhões de euros, mas as previsões apontavam para uma subida de 6,9%. Especificamente nos proveitos com passagens, o crescimento ficou-se por 0,2% para 1676,3 milhões, quando o objectivo era que atingisse 1762,5 milhões – 86,2 milhões acima do alcançado.
Apesar do aumento da procura, que se traduziu no crescimento do número de passageiros transportados, os preços caíram, reduzindo as receitas do grupo. O mesmo documento descreve que a tarifa média no negócio da aviação (incluindo a TAP e a companhia regional PGA, que também faz parte do grupo) caiu para 189,14 euros, o que representa uma queda de 7,7% face ao período entre Janeiro e Setembro de 2013. Face às estimativas da administração, o desvio é de 10,6%, já que se previa um valor a rondar os 211,50 euros.
Verão custou 28 milhões
Mas houve outra componente que abalou as contas do transporte aéreo: o Verão atribulado da TAP, com sucessivos cancelamentos e problemas técnicos. Os custos com fornecimentos e serviços externos subiram 6,1% até Setembro do ano passado, chegando próximos dos 732 milhões de euros. E, de acordo com o relatório, um dos factores que mais contribuiu para esta derrapagem foi o acréscimo nas despesas relativas a “custos operacionais com voo e tráfego”, na ordem dos 27,8 milhões de euros, “na quase totalidade associado a irregularidades (fretamento de aviões e despesas com passageiros)”.
Ou seja, uma parte substancial dos quase 28 milhões referidos no documento serviu para pagar o aluguer de aviões de terceiros para operar voos que a TAP não conseguiu efectuar e para suportar a assistência a clientes, com alojamento, alimentação e transporte alternativo. Na altura, a companhia justificou os problemas do Verão com a falta de pessoal, fruto da alteração das regras de formação, tendo sido penalizada também pelo atraso na chegada de seis novos aviões. Numa audição no Parlamento, o presidente do grupo, Fernando Pinto, admitiu que foram cancelados 543 voos entre Junho e Agosto.
O relatório a que o PÚBLICO teve acesso não faz referência a impactos das greves, visto que, entre Janeiro e Setembro, a TAP foi afectada apenas pela paralisação de 24 horas dos pilotos, a 9 de Agosto. Os maiores constrangimentos foram sentidos entre Outubro e o final do ano, com os protestos dos tripulantes e a ameaça de greve de quatro dias de 12 sindicatos, à qual o Governo respondeu com uma requisição civil.
Já no que diz respeito à PGA, transportadora que a TAP comprou no final de 2006, o documento mostra que os resultados foram positivos, tendo a empresa gerado 1,7 milhões de euros de lucros até ao final do terceiro trimestre – 73,5% do valor que tinha sido orçamentado. No entanto, trata-se de uma redução face aos 2,5 milhões alcançados no mesmo período de 2013.
Brasil reduz perdas
Os 63,3 milhões de euros de prejuízos do grupo também ficaram a dever-se, em grande parte, a deficitária unidade de manutenção no Brasil, adquirida em 2005 à falida Varig. O documento revela que a M&E gerou prejuízos de 27,4 milhões até Setembro, o que representa uma melhoria face aos 29,3 milhões do período homólogo, mas um desvio de 4,6% em relação ao que estava previsto (perdas de 26,2 milhões). As receitas operacionais da empresa cresceram 8,6% entre Janeiro e Setembro e os custos diminuíram 3,3%.
Para o resultado global do grupo contribuiu ainda negativamente a holding TAP SGPS, com perdas de 15,2 milhões – que praticamente duplicaram no período de um ano. E, do outro lado da balança, surge a operadora de handling Groundforce, com lucros de quase 800 mil euros (que dizem respeito à participação de 49% que a TAP tem na empresa), e a TAPGER, que agrega subsidiárias como as Lojas Francas ou a Cateringpor. Este conjunto de empresas gerou ganhos de 4,6 milhões de euros, ultrapassando em 1,4% os resultados que tinham sido projectados.
Em Dezembro, o presidente da TAP tinha assumido que os resultados do grupo iriam ficar abaixo do previsto. “O resultado projectado dificilmente será atingido”, disse, num encontro com jornalistas, explicando que as previsões apontavam para lucros “levemente superiores” aos de 2013 (que rondaram os 34 milhões de euros). O gestor brasileiro acrescentou: “Não sabemos se vamos ter lucros”, justificando a derrapagem com as greves que a companhia enfrentou.
O PÚBLICO sabe que, nos últimos três meses de 2014, as contas da TAP melhoraram face ao previsto, mas não com expressão suficiente para permitir que o grupo apresente lucros. Até porque, mesmo que o negócio da aviação tivesse recuperado substancialmente, o resultado será sempre penalizado pelos prejuízos da manutenção no Brasil.
De qualquer forma, serão as contas do final do ano que vão servir de base à nova tentativa de privatização que o Governo relançou. Depois de ter publicado o caderno de encargos, o executivo está a apontar as primeiras semanas de Fevereiro como o timing ideal para disponibilizar aos candidatos a informação financeira sobre o grupo. As propostas para comprar a TAP deverão ser entregues entre Abril e Maio, mantendo-se a expectativa de ter o vencedor escolhido até ao final do primeiro semestre.