Bataglia confirma negócio imobiliário que rendeu a José Guilherme uma mais valia de 26 milhões
Presidente da Escom ouvido na comissão parlamentar ao BES.
A deputada do BE, Mariana Mortágua, perguntou ao presidente da Escom se confirmava a notícia da Revista 2 do PÚBLICO (19 de Outubro de 2014) segundo a qual a empresa vendeu (a pedido de Ricardo Salgado) em 2006, 33% das 3 Torres de Luanda a José Guilherme, por 7 milhões de dólares, tendo a posição sido revendida pelo mesmo construtor à Escom, em 2009 (ainda as Torres não estavam a ser comercializadas), por 33 milhões. E Bataglia respondeu: "Confirmo sim senhor. E corrijo o valor, não foi 33 milhões de dólares, mas 32 milhões". E adiantou que Ricardo Salgado o chamou a Lisboa, para que ajudasse José Guilherme a entrar em Angola, o que se verificou com a entrada nas Torres de Luanda. Os 33% foram readquiridos, avançou, antes da venda (falhada) da Escom à Newbrook de Alvaro Sobrinho.
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A deputada do BE, Mariana Mortágua, perguntou ao presidente da Escom se confirmava a notícia da Revista 2 do PÚBLICO (19 de Outubro de 2014) segundo a qual a empresa vendeu (a pedido de Ricardo Salgado) em 2006, 33% das 3 Torres de Luanda a José Guilherme, por 7 milhões de dólares, tendo a posição sido revendida pelo mesmo construtor à Escom, em 2009 (ainda as Torres não estavam a ser comercializadas), por 33 milhões. E Bataglia respondeu: "Confirmo sim senhor. E corrijo o valor, não foi 33 milhões de dólares, mas 32 milhões". E adiantou que Ricardo Salgado o chamou a Lisboa, para que ajudasse José Guilherme a entrar em Angola, o que se verificou com a entrada nas Torres de Luanda. Os 33% foram readquiridos, avançou, antes da venda (falhada) da Escom à Newbrook de Alvaro Sobrinho.
Sublinhe-se que na mesma CPI, Luís Horta e Costa, também administrador da Escom, quando confrontado com a notícia da Revista 2, negou que o negócio com José Guilherme envolvendo as 3 Torres de Luanda se tivesse efectuado.
"Estamos todos a ouvir falar nessa empresa", disse Bataglia, quando inquirido sobre a existência da ES Enterprise, o alegado saco azul do GES para pagamentos a terceiros.
Em resposta à deputada do BE, Mariana Mortágua, Bataglia admitiu ter tido "um contrato com" a ES Enterprise "de pagamentos de comissões" dado ser sócio do GES e estar envolvido em negócios, nomeadamente, na área da energia. "Sempre pensei que fosse uma empresa de investimento do GES", notou. "Esta sempre foi a minha percepção. Agora não sei." Adiantou que a empresa "tinha sede fora de Portugal, mas não sei onde. Também não sei quem eram os seus gestores".
Sobre a guerra aberta entre Ricardo Salgado e Álvaro Sobrinho, Bataglia disse que até 2012 "o dr. RS considerava o dr. Alvaro Sobrinho um grande banqueiro", mas "não conheço" o que levou ao desentendimento entre os dois. Bataglia diz que até 2012 sempre "achei o GES muito confortável com a gestão do dr. Álvaro Sobrinho", que fez, do ponto de vista de Batglia um trabalho "notável" no BESA.
A Escom nunca foi capitalizada e já em 2006 e 2007, em abono da verdade, devo dizer que o dr. RS me dizia que era muito difícil o grupo capitalizar a Escom. E me pediu para eu encontrar sócios que permitissem capitalizar a Escom. E o apetite pela capitalização foi grande, tendo surgido grandes fundos, um asiático, africano e americano, e que foi contratado um banco inglês para apoiar, que nomearam consultores que estiveram em Angola ver activo, por activo. E, avança, que por curioso que pareça, a avaliação foi idêntica à do BESI", isto "apesar de não concordarmos pela avaliação do BESI," por integrar menos activos.
Bataglia diz que na Venezuela falava com Chavez de "quem gostava"
Sobre as parcerias da Escom na Venezuela, Bataglia (que é considerado um interlocutor da China em África) explicou que "os chineses achavam que nós portugueses tínhamos uma relação única na Venezuela onde viviam muitos portugueses. E eu tinha uma relação com o presidente Chavez". E revela que "gostava muito" do ex-presidente da Venezuela.
"O coordenador do SIS era o nosso embaixador na Venezuela", conta Bataglia, que revela ser com ele que falava.
Figura central
Bataglia é uma figura central no inquérito da AR, pois, para além de presidente e de accionista da Escom (controlada em 67% pelo GES), exerceu em simultâneo as funções de vice-presidente do BES Angola quando Álvaro Sobrinho era o principal executivo.
A venda falhada da Escom à Newshold de Álvaro Sobrinho é um negócio que está a ser investigado pelo Ministério Público, nomeadamente, pelo destino dado a parte do sinal (que totalizou 52 milhões de euros) pago à ES Resources (a vendedora) e que depois de ter entrado na empresa desapareceu. Bataglia está na origem de várias operações financeiras para limpar divida da Escom de modo a poder justificar a avaliação que foi realizada em 2011 - 819 milhões de euros com a previsão de um valor de alienação, em 2016, de 700 milhões de euros.
Bataglia está também a ser investigado na Operação Monte Branco, por ser (em conjunto com Sobrinho) accionista da Akoya e seu cliente. Recorde-se que Ricardo Salgado, que usava os serviços da gestora de fortunas suíça para movimentar verbas entre veículos off-shores detidos por si, está impedido pelo Ministério Público de falar com Bataglia. Esta não é a primeira vez que Bataglia está no parlamento.
O gestor foi ouvido na comissão de inquérito ao processo de venda pela German Submarine Consortium de dois submarinos alemães ao Estado português, negócio que foi investigado pelo Ministério Público (entretanto ..) e que justificou em 2013 a constituição de Bataglia (Luís Horta e Costa e Pedro Ferreira Neto) como arguidos por corrupção activa, tráfico de influências e branqueamento de capitais.