Mediando o conflito

Como pode uma criança homossexual sentir-se bem num colectivo do qual foi excluída, ao invés de se terem investido esforços na reeducação da sociedade para a tolerância na diferença?

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Juan Carlos Ulate/Reuters

Há uns dias fiquei a saber, por via do jornal britânico "The Independent", que um grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros) de Manchester propôs a criação de uma escola exclusivamente destinada a crianças cuja orientação sexual as tornasse alvo dilecto de "bullying", ou pior.

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Há uns dias fiquei a saber, por via do jornal britânico "The Independent", que um grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros) de Manchester propôs a criação de uma escola exclusivamente destinada a crianças cuja orientação sexual as tornasse alvo dilecto de "bullying", ou pior.

Sugestões deste tipo remetem para a reflexão acerca do conflito entre a cultura hegemónica e as subculturas (culturas minoritárias).

Por um lado, da parte da cultura hegemónica, e devido ao facto de esta assentar sobre o pilar da autoperpetuação, existe sempre uma tónica na supressão dos mecanismos intraindividuais (sentido crítico, prática da dúvida, curiosidade,…) que munem o indivíduo de uma capacidade de construção individual e emancipação cultural, no sentido de se libertar dos condicionalismos culturais aos quais foi sujeito conjunturalmente. Isto tem a ver com a ausência de dinâmica cultural, no sentido da cultura dominante ser permeável à manifestação da unidade cultural (cidadão, pessoa) enquanto indivíduo, além das prescrições impostas. Este mecanismo, procurando de uma forma irrealista, perante a necessária existência de diferenças interindividuais, a supressão individual, gera facilmente um mal-estar entre aqueles que, pelas suas características físicas ou anímicas, interesses e/ou forma de pensar e ver o mundo, são excluídos, e se autoexcluem, da sociedade.

O indivíduo excluído, rapidamente desenvolve sentimentos negativos em relação à cultura da qual foi excluído, e aos seus integrantes, com o ódio à cabeça, como forma de “pagar na mesma moeda”. E, a igualdade de tratamento e o respeito que o indivíduo poderia procurar inicialmente da parte dos integrantes da cultura hegemónica, facilmente degenera em discurso de ódio, integração de grupos que procuram suprimir a cultura vigente e/ou se manifestam de uma forma contraproducente (veja-se muitas manifestações de orgulho de vários grupos minoritários que são autênticos espectáculos de exibicionismo). Estes fenómenos retroalimentam a exclusão, pela via do reacionarismo que o choque despoleta.

Tudo isto também promovido pela ausência de dinamismo cultural, na medida em que descentraliza a afirmação pessoal e as vivências do indivíduo de si mesmo e transpõe-nas para o coletivo. Caso contrário, o indivíduo, mesmo após a exclusão, poderia conseguir afirmar-se na diferença e abordar o conflito com a cultura hegemónica pela única via eficaz e saudável —a do diálogo expositivo.

Assim, surgem estas soluções peregrinas, que, postas em prática, apenas reforçam o problema. Como pode uma criança homossexual sentir-se bem num colectivo do qual foi excluída, ao invés de se terem investido esforços na reeducação da sociedade para a tolerância na diferença?