Filhos de Mubarak saem da prisão quatro anos depois da revolução
Aniversário dos protestos que derrubaram o antigo Presidente marcado pela morte de manifestantes.
A libertação de Alaa e Gamal Mubarak era esperada desde que, em meados deste mês, o Tribunal de Recurso do Cairo decidiu anular o julgamento em que o antigo ditador e os seus dois filhos foram condenados pela apropriação ilícita do equivalente a 13 milhões de euros. Sem outra condenação e expirado o limite máximo da prisão preventiva, o tribunal decidiu que deveriam aguardar em liberdade a repetição do processo.
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A libertação de Alaa e Gamal Mubarak era esperada desde que, em meados deste mês, o Tribunal de Recurso do Cairo decidiu anular o julgamento em que o antigo ditador e os seus dois filhos foram condenados pela apropriação ilícita do equivalente a 13 milhões de euros. Sem outra condenação e expirado o limite máximo da prisão preventiva, o tribunal decidiu que deveriam aguardar em liberdade a repetição do processo.
O mesmo poderá acontecer em breve a Mubarak, que se encontra em regime de prisão domiciliária no hospital militar do Cairo, já que o tribunal que o estava a julgar pela morte de manifestantes durante os protestos de 2011 decidiu deixar cair as acusações. O antigo Presidente tinha sido condenado a prisão perpétua, mas também esse primeiro (e muito mediático) julgamento foi anulado devido a falhas processuais.
Muito mudou desde a queda de Mubarak e o destino da família que dominou o Egipto durante 30 anos não desperta já as paixões que gerou nos meses seguintes à revolução. Mas para os que se opõem ao novo Presidente, Abdel Fattah al-Sissi, a libertação é vista como mais uma prova de que, quatro anos depois, o Egipto volta a estar nas mãos dos mesmos senhores. Sinal de que o tema ainda é sensível, Alaa e Gamal Mubarak não foram libertados na sexta-feira, como chegou a ser noticiado pela imprensa oficial, para não coincidir com as celebrações da revolução e exacerbar a cólera da oposição.
Mas o aniversário voltou a ficar manchado com sangue. Segundo o Ministério da Saúde egípcio, pelo menos 17 pessoas morreram durante incidentes em várias cidades do país. No centro do Cairo, onde o Exército colocou blindados e fechou os acessos à praça Tahrir – palco e símbolo da revolta – as manifestações foram reprimidas e as forças antimotim usaram bastões e granadas para dispersar os manifestantes. Horas antes, dois polícias foram mortos num posto de controlo por ocupantes de um veículo que se pôs em fuga.
Mais violentos foram os confrontos no subúrbio de Matariya, um bastião da Irmandade Muçulmana, movimento que venceu as eleições do pós-revolução mas que foi afastado do poder pelo Exército no Verão de 2013, numa repressão que fez centenas de mortos e arrastou para as prisões milhares dos seus apoiantes. O balanço oficial dá conta de oito mortos nos protestos de domingo, incluindo um polícia, e testemunhas contam que as forças de segurança usaram balas reais.
Outras seis pessoas morreram em diferentes protestos, incluindo em Alexandria, a segunda maior cidade do Egipto, a que se juntam a morte de duas activistas durante o fim-de-semana, entre elas Shaimaa el-Sabagh, militante de um partido socialista laico, baleada sábado quando participava numa marcha no centro do Cairo. Fotografias captadas por outro manifestante mostram o momento em que Sabagh, de 34 anos e mãe de uma criança de cinco, cai no pavimento e é ajudada por outro manifestante que a leva do local.
A Human Rights Watch acusou nesta segunda-feira as forças de segurança egípcia de “uso excessivo da força” contra manifestantes pacíficos e afirma que, mesmo que as imagens não revelem quem baleou nas costas a activista, mostram vários agentes da polícia armados com espingardas” nas imediações.
“A situação está igual há quatro anos e a ficar pior. O regime ainda não caiu”, assegurou Alaa Lasheen, um engenheiro de 34 anos ouvido domingo pela Reuters quando se manifestava nas imediações da Tahrir.