OMS admite que resposta ao ébola foi lenta e prepara reformas
Proposto um fundo de contingência específico para uma resposta rápida a surtos e emergências de saúde.
A directora-geral da OMS, Margaret Chan, disse este fim-de-semana, numa reunião em Genebra (Suíça) para discutir a resposta ao ébola, que a epidemia mostrou como a agência precisava de reforçar a gestão das crises e agilizar os procedimentos de recrutamento de pessoal no terreno.
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A directora-geral da OMS, Margaret Chan, disse este fim-de-semana, numa reunião em Genebra (Suíça) para discutir a resposta ao ébola, que a epidemia mostrou como a agência precisava de reforçar a gestão das crises e agilizar os procedimentos de recrutamento de pessoal no terreno.
“Esta foi a primeira experiência da África Ocidental com o vírus, e provocou alguns choques horríveis e surpresas”, disse Margaret Chan, no discurso que proferiu no domingo na reunião de emergência do conselho executivo da OMS.
“O mundo, incluindo a OMS, foi muito lento a ver o que se estava a desenrolar debaixo dos nossos olhos. O ébola é uma tragédia que ensinou ao mundo muitas lições, incluindo à OMS, sobre como prevenir acontecimentos semelhantes no futuro. Factores de cultura, história, geografia, de infra-estruturas rodoviárias e de saúde más produziram uma mistura de oportunidades que o vírus rapidamente explorou”, acrescentou a directora-geral. “O surto do ébola revelou algumas insuficiências e limitações nas infra-estruturas administrativas, de gestão e técnicas da OMS.”
Já numa conferência de imprensa, Margaret Chan voltou a fazer “mea culpa” à forma como a OMS lidou com esta epidemia, iniciada em Dezembro de 2013 na Guiné-Conacri, considerando que o ébola “tem sido uma mega-crise” e que “ultrapassou a capacidade da OMS”. “Os Estados-membros compreenderam verdadeiramente que o mundo precisa de um mecanismo colectivo de defesa para haver segurança global na saúde.”
No ano passado, foram registados 21.724 casos de ébola em nove países, tendo morrido 8641 pessoas, segundo a OMS, que diz que a epidemia na África Ocidental está agora em regressão na Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, os três países onde a infecção ainda está em curso.
Uma resolução para que se avancem para grandes reformas, apresentada pelos Estados Unidos e pela África do Sul, foi adoptada por unanimidade na reunião dos 34 membros do conselho executivo da OMS. Este órgão da OMS também concordou com uma das reformas propostas por Margaret Chan: a criação de um fundo de contingência específico para uma resposta rápida a surtos e emergências de saúde.
“A OMS que temos não é a OMS de que precisamos para responder a emergências de saúde da magnitude do ébola”, disse na discussão Tom Frieden, o director dos Centros para o Controlo e a Prevenção das Doenças (CDC) dos EUA. Durante o debate, Frieden referiu que muitas vezes na OMS as considerações políticas passavam por cima dos conhecimentos técnicos. “[Aqui] estruturámos o que esperamos para Maio, que são reformas de longo alcance”, acrescentou o director dos CDC, referindo-se à reunião anual dos ministros da Saúde em Maio.
Muitos doadores receberam com agrado o acordo sobre o fundo de contingência, que um comité da OMS tinha recomendado em 2011 que tivesse 100 milhões de dólares (88,6 milhões de euros) depois da pandemia da gripe de 2009-2010. Aos jornalistas, Margaret Chan considerou esse número como “um bom ponto de partida”.
Bruce Aylward, subdirector responsável pela resposta ao ébola na OMS, afirmou que esta agência precisava de cerca de 1500 pessoas para responder a estas emergências, em vez das 1000 actuais.
“O que vemos aqui é a possibilidade de fazer algumas das reformas mais abrangentes e completas desde que a OMS foi criada”, sublinhou Dirk Cuypers, responsável pelos serviços de saúde belgas, em representação da União Europeia. “Temos de garantir uma linha clara de comando em todos os níveis da organização para operações de emergência e precisamos de uma força de trabalho global pronta para entrar em acção de forma eficaz e rápida.”