Investigação está "excessivamente" dependente do Estado, defende estudo
Jovens doutorados não têm lugar nas empresas portuguesas, aponta um trabalho assinado por Carlos Fiolhais e Armando Vieira que defende ser um “erro diminuir o investimento público em ciência".
Num trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos, os dois cientistas questionam a sustentabilidade do sistema de I&D português, considerando que "os jovens doutorados, formados em número significativo, constituem uma mão-de-obra especializada que não encontra acolhimento no tecido empresarial português, vendo-se em muitos dos casos forçados a emigrar".
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Num trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos, os dois cientistas questionam a sustentabilidade do sistema de I&D português, considerando que "os jovens doutorados, formados em número significativo, constituem uma mão-de-obra especializada que não encontra acolhimento no tecido empresarial português, vendo-se em muitos dos casos forçados a emigrar".
De acordo com as conclusões do estudo, intitulado Ciência e Tecnologia em Portugal - Métricas e impacto (1995-2011), "as empresas, em parte por falta de conveniente percepção dos respectivos responsáveis, não têm conseguido aproveitar e canalizar para benefício de mais gente as mais-valias" da formação de profissionais qualificados.
Os investimentos públicos realizados, "sobretudo em formação de recursos humanos, acabaram por não ser absorvidos pelo sistema económico", aponta o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Apesar de observarem essa dependência do Estado, Carlos Fiolhais e Armando Vieira consideram que "seria um erro diminuir o investimento público em ciência", defendendo que tem de haver "alguma inteligência na colocação desse investimento".
Na análise, os autores também criticam a actual política durante a crise, considerando que esta está "a ter consequências na ciência, sendo claro que foi interrompido nos últimos anos o ciclo de crescimento na parcela de I&D, tanto público como privada".
A "abrupta" descida do número de bolsas atribuídas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia em 2014 e o corte "de praticamente metade das unidades de investigação após um processo sumário de avaliação" são alguns dos exemplos dessa mesma política, apontam.
Os autores frisam que "o discurso governativo sobre a ciência tem oscilado entre a defesa da "excelência" (um conceito que nunca foi precisado) e a referência à necessidade de reforço da "ligação às empresas" (que não é acompanhada da indicação do modo de concretizar esse reforço)".
Nas conclusões do estudo, são apontados vários pontos fracos ao estado da ciência e tecnologia em Portugal, como o "reduzidíssimo número de pedidos de patentes [11 por um milhão de habitantes face às 102 por um milhão da média europeia]", pouco investimento em startups, fraco peso do emprego em actividades em tecnologia e baixa atractividade de investimento estrangeiro para actividades de ciência e tecnologia.
Como pontos positivos da evolução da ciência e da tecnologia em Portugal entre 1995 e 2010, os cientistas registam "a convergência nos parâmetros que medem I&D face à média da União Europeia", a criação de "boas infra-estruturas", o "número significativo de unidades de I&D bem classificadas em avaliações internacionais" e o "crescimento da produção científica nacional".
Este retrato do sistema científico nacional vai ser apresentado e discutido na segunda-feira, no Centro Ciência Viva, da Universidade de Coimbra, pelas 18h00.