“Actual situação pode ser favorável a Angola no médio prazo”
Paula Gonçalves Carvalho e Luísa Teixeira Felino, do departamento de estudos económicos e financeiros do banco BPI, destacam que Angola deverá ter um orçamento rectificativo para este ano.
A queda do preço do petróleo pode funcionar como acelerador para a diversificação da economia angolana?
De facto, a actual situação poderá mesmo revelar-se favorável para a economia angolana no médio prazo, na medida em que se torna mais evidente a necessidade imperativa de diversificação económica, para deixar o país menos exposto aos riscos externos relacionados com o sector petrolífero. Esta poderá ser uma boa ocasião para se acelerarem reformas estruturais, orientadas, por exemplo, para melhorar a posição de Angola nos rankings de competitividade, de forma a facilitar o ambiente de negócios e atrair investimento directo estrangeiro para outros sectores de actividade que não o sector petrolífero.
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A queda do preço do petróleo pode funcionar como acelerador para a diversificação da economia angolana?
De facto, a actual situação poderá mesmo revelar-se favorável para a economia angolana no médio prazo, na medida em que se torna mais evidente a necessidade imperativa de diversificação económica, para deixar o país menos exposto aos riscos externos relacionados com o sector petrolífero. Esta poderá ser uma boa ocasião para se acelerarem reformas estruturais, orientadas, por exemplo, para melhorar a posição de Angola nos rankings de competitividade, de forma a facilitar o ambiente de negócios e atrair investimento directo estrangeiro para outros sectores de actividade que não o sector petrolífero.
Uma vez que Angola está na OPEP, e esta organização não quer cortar na produção para fazer subir os preços, como pode Angola reagir?
Uma reacção unilateral de Angola contra esta decisão de manter o nível da produção, provavelmente não teria um impacto significativo (a quota de produção de Angola é de cerca de 5-6% do total da produção da OPEP) no âmbito da estratégia da OPEP. Na última reunião ficou evidente que um conjunto de países da organização (não só Angola, mas também Irão, Iraque, Venezuela, Equador e Nigéria) tentou opor-se a esta decisão, mas a posição estratégica definida pela Arábia Saudita foi a que prevaleceu. Para além disso, nos últimos meses, mesmo depois de os preços terem continuado a cair de forma significativa, as autoridades da Arábia Saudita voltaram a reiterar que pretendem manter a sua estratégia de manter o nível de produção de forma a eliminar alguns dos participantes no mercado e proteger a sua quota de mercado no longo prazo. A pressão deste conjunto de países poderia ter algum impacto, mas de qualquer forma a estratégia também poderá proteger os interesses de Angola no longo prazo. A questão é que, se a Arábia Saudita poderá ser capaz de suportar preços do petróleo tão baixos (com reservas internacionais na ordem dos 700 mil milhões de dólares), o mesmo não acontece para outros países da organização.
Quais os impactos da descida do preço do petróleo, em termos socioeconómicos, para a economia angolana? Espera-se um novo orçamento para 2015?
Sim, é provável que o executivo apresente um OE rectificativo que reflicta uma redução da despesa para evitar que o défice suba para níveis excessivos. Parte do ajustamento poderá ser feito pela via da redução das despesas com os subsídios aos combustíveis, ou através de outras medidas de contenção das despesas de funcionamento. Mas relativamente às despesas de investimento, era importante manter pelo menos alguns dos projectos (nomeadamente nos sectores de energia e água ou de infra-estruturas), dado que o adiamento deste tipo de despesa acabaria por adiar o processo de diversificação da economia, com consequências negativas em termos socioeconómicos no longo prazo.