Desde 9 de Janeiro houve 128 actos contra os muçulmanos em França
A estatística, feita a partir das queixas apresentadas na polícia, mostra que em poucos dias houve mais agressões do que em todo o ano passado.
As contas foram feitas pelo Observatório Nacional contra a Islamofobia, que contabilizou as queixas apresentadas na polícia, e revelam que houve 33 acções (contra mesquitas, por exemplo) e 95 ameaças (insultos e outras formas de agressão).
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As contas foram feitas pelo Observatório Nacional contra a Islamofobia, que contabilizou as queixas apresentadas na polícia, e revelam que houve 33 acções (contra mesquitas, por exemplo) e 95 ameaças (insultos e outras formas de agressão).
Em todo o ano passado, diz este organismo que pertence ao Conselho Francês Muçulmano, foram registados 133 actos contra muçulmanos, o que por sua vez constituíra uma redução de agressões de 43% — em 2013 tinham sido 226 actos.
“Estes números, porém, não reflectem a realidade, uma vez que muitos muçulmanos não apresentam queixa quando são vítimas de actos xenófobos, convencidos que estão de que as suas queixas não terão consequência, o que é verdade em muitos casos”, comenta o Observatório, sublinhando que os casos de “discriminação” não fazem parte desta estatística.
Depois dos ataques de 7 e 9 de Janeiro em Paris, realizados por jihadistas franceses que disseram agir em nome do islão — mas cujos actos foram condenados pelas organizações muçulmanas —, “os actos islamofóbicos aumentaram de uma forma nunca vista, assim como o ódio em relação aos franceses de confissão muçulmana”, disse o presidente do Observatório, Abdallah Zekri, no comunicado da organização.
“Foi a primeira vez que foram lançadas granadas e disparados tiros contra alvos muçulmanos. Estas acções contra uma parte da comunidade nacional, provocadas por pequenos nazis que passam o tempo a sujar os muros das nossas mesquitas com slogans, lembram-nos um triste e condenável passado.”
Nacionalidade retirada
Desde os ataques de Paris que o Governo francês debate que política deve adoptar para com aqueles que, depois de se radicalizarem e de terem estado em países como a Síria, o Iraque e o Iémen — nos territórios controlados pelo Estado Islâmico e pela Al-Qaeda —, regressam a França. Nesta sexta-feira, o Conselho Constitucional, a mais alta instância jurídica francesa, confirmou a anulação da nacionalidade de um jihadista franco-marroquino.
O Governo socialista de François Hollande decidiu que retirar a nacionalidade será uma medida a aplicar a pessoas a quem foi concedida nacionalidade francesa e que se comprometeram com o jihadismo. “Em caso algum devemos privar-nos dos meios que a lei nos dá para fazer valer os nossos valores e para dizermos que não aceitamos que os que acolhemos no nosso solo possam atingir a França e ameaçá-la”, disse o primeiro-ministro, Manuel Valls. Segundo o primeiro-ministro, nos últimos três meses foram aplicadas 28 expulsões administrativas de jihadistas com dupla nacionalidade.
Ahmed Sahnouni, que nasceu em Casablanca em 1970, obteve a nacionalidade francesa em 2003. Foi detido por suspeita de “associação terrorista” e condenado em julgamento, em Março de 2013, por “crime constituído por acto terrorista”. A justiça considerou provado que organizara um sistema de recrutamento de combatentes para o Iraque, Afeganistão e Somália. Em 2015 foi libertado. O seu advogado contestou a anulação da nacionalidade argumentando que depois de uma pessoa ser cidadão francês tem os mesmos direitos do que os outros e, por isso, a nacionalidade não lhe podia ser retirada. “Há franceses que são mais franceses do que outros?”, perguntou Nurettin Meseci. “Se o legislador pensa que a luta contra o terrorismo passa pela anulação de nacionalidades está enganado”.
Está em curso o processo de expulsão de Sahnouni para Marrocos.