Museu Hergé cancela homenagem ao Charlie Hebdo
Director do museu belga dedicado ao criador de Tintin diz que a decisão de avançar com a homenagem “foi um pouco ingénua” e que decidiu suspendê-la para não colocar em risco os funcionários da casa e os habitantes de Lovaina-a-Nova.
O anúncio do cancelamento foi feito na sequência de uma reunião de Rodwell com o presidente da Câmara de Lovaina-a-Nova, Jean-Luc Roland, e responsáveis da polícia, que expuseram as medidas de segurança excepcionais que seria necessário pôr em marcha se a exposição abrisse na data prevista, e que alertaram ainda para os riscos que o pessoal do museu e os próprios munícipes correriam.
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O anúncio do cancelamento foi feito na sequência de uma reunião de Rodwell com o presidente da Câmara de Lovaina-a-Nova, Jean-Luc Roland, e responsáveis da polícia, que expuseram as medidas de segurança excepcionais que seria necessário pôr em marcha se a exposição abrisse na data prevista, e que alertaram ainda para os riscos que o pessoal do museu e os próprios munícipes correriam.
Já depois do ataque de dia 7 ao Charlie Hebdo, que fez 12 mortos, as forças de segurança belgas desmantelaram no dia 15 uma célula jihadista (sem ligação conhecida aos irmãos Kouachi, autores do atentado em França), que incluía alguns elementos acabados de regressar da Síria e que pretenderia cometer vários atentados no país. A operação policial decorreu simultaneamente em Bruxelas e noutras localidades belgas, designadamente Verviers, onde dois jihadistas foram mortos num confronto com a polícia.
A ideia de fazer esta exposição, “uma homenagem de Hergé, que foi também caricaturista, aos caricaturistas assassinados”, surgiu “espontaneamente”, conta Rodell, logo após o massacre de 7 de Janeiro. Mas o director do museu reconhece agora que foi “um pouco ingénuo” e agradece à polícia e ao autarca de Lovaina-a-Nova que o tenham alertado para os perigos que a exposição poderia implicar. “O Museu Hergé não existe para atiçar o fogo”, diz Rodell, acrescentando que “seria inconcebível expor ao mínimo risco” tanto os funcionários da instituição como os habitantes de Lovaina-a-Nova.
Um desenhador que estaria representado na exposição, Nicolas Vadot, concorda que houve “precipitação” do museu e que este “não escolheu o melhor momento”, quando o país acabara de aumentar o nível de alerta. Mas também acha que, não existindo uma ameaça concreta, a solução agora encontrada pode comprometer a imagem do museu.
“Uma exposição contra a censura que se autocensura quando não existia uma ameaça, é problemático”, diz Vadot, concluindo: “Isto quer dizer que os terroristas ganharam”. É bem possível que Tintin, o jovem e valente repórter criado por Hergé, sempre pronto a meter-se em arriscadas aventuras para defender a causa da justiça, tendesse a concordar com Vadot.