Métodos naturais que a Igreja defende “não são tão naturais como isso”

Para o padre Anselmo Borges, “é dada ao ser humano a tarefa de transformar a própria natureza”.

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Na oração do Angelus, o Papa Francisco deixara uma forte mensagem de paz VINCENZO PINTO/AFP

O docente defende que, “quando se é contra os métodos artificiais, pressupõe-se uma natureza fixa, estática, petrificada”: “A natureza humana é histórica e interventiva. É dada ao ser humano a tarefa de transformar a própria natureza. Nós vivemos transformando o mundo. Por natureza, o humano é um ser artificial, vai criando cultura. A questão dos métodos também faz parte dessa cultura.”

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O docente defende que, “quando se é contra os métodos artificiais, pressupõe-se uma natureza fixa, estática, petrificada”: “A natureza humana é histórica e interventiva. É dada ao ser humano a tarefa de transformar a própria natureza. Nós vivemos transformando o mundo. Por natureza, o humano é um ser artificial, vai criando cultura. A questão dos métodos também faz parte dessa cultura.”

O também padre e médico, José Manuel Pereira de Almeida, salienta que, no que toca a métodos naturais, “é importante uma educação e uma formação”: “A fiabilidade ou infabilidade diz respeito ao modo como são aplicados. Para alguns, conhecer bem os ciclos e a regularidade ou irregularidade dos ciclos, é mais difícil. Mas não significa que não seja um bom método, depende de cada caso.” Sobre o método, a Direcção-Geral de Saúde aponta as mesmas cautelas: métodos “difíceis de utilizar quando em presença de ciclos irregulares como por exemplo na adolescência” e que implicam, por exemplo, “uma observação cuidada das modificações fisiológicas do corpo da mulher” e “o registo diário dos dados”.

O director executivo da Associação para o Planeamento da Família, Duarte Vilar, salienta que em Portugal, um país maioritariamente católico, só 2% das mulheres usam esse tipo de métodos. O país é o segundo do mundo onde mais se usam contraceptivos, a seguir à Noruega.

Desde 1968, quando a Humanae Vitae foi publicada, que a Igreja não pede aos católicos que procriem como coelhos, antes indica como devem regular a natalidade, começando por lhes lembrar a “paternidade responsável”. Esta passa por respeitar as “leis biológicas que fazem parte da vida humana”. No que toca às condições físicas, económicas, psicológicas e sociais, a “paternidade responsável exerce-se tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento”, recomenda a encíclica, que condena os métodos de regulação artificial da natalidade.
Para Graça Mira Delgado, presidente do Movimento Defesa da Vida, associação que promove a educação sexual e o planeamento familiar, a encíclica de Paulo VI foi mal interpretada e, por isso, rejeitada: "A Humanae Vitae foi rejeitada por aceitar tacitamente o uso de contracepção hormonal, mas desde essa altura que a Igreja defende uma paternidade consciente, generosa e responsável. E é isto que o Papa Francisco, na sua linguagem muito simples e próxima das pessoas, diz quando afirma que não devem procriar como coelhos."

Não faz sentido falar em contracepção natural, mas em regulação, sublinha a presidente da Associação de Psicólogos Católicos, Maria José Vilaça. "A Igreja não educa para a contracepção mas para a regulação natural. A contracepção implica uma visão redutora do homem, da sexualidade, da própria vida que é vista como uma ameaça e de Deus", adianta.

Graça Mira Delgado defende que o mais importante é a liberdade das pessoas. Se um casal quer ter muitos filhos não deve ser apelidado de irresponsável, mas deve ser respeitado pelas suas opções. "Não é o médico, o enfermeiro, o pai ou o padre que decidem; é a mulher que escolhe na sua relação com Deus", diz, lamentando a pressão que muitas vezes estas sentem por parte da sociedade.