Expectativas elevadas no arranque das negociações entre os EUA e Cuba
Visita histórica da vice-secretária de Estado norte-americana a Havana marca início de contactos para o restabelecimento da ligação diplomática entre os dois inimigos da Guerra Fria.
O objectivo imediato da visita de Jacobson, responsável pela política dos EUA para toda a América Latina, é a reabertura do canal diplomático entre Washington e Cuba, encerrado em 1961 pelo Presidente Dwight Eisenhower, em retaliação pela assinatura de um acordo de aliança entre o novo governo revolucionário de Fidel Castro e a União Soviética. No ano seguinte, depois do confronto conhecido como a crise da baía dos Porcos, John F. Kennedy assinou a lei que estabeleceu o embargo que continua de pé até hoje – e que se mantém em vigor, apesar das medidas para a normalização de relações encetadas pela Administração Obama.
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O objectivo imediato da visita de Jacobson, responsável pela política dos EUA para toda a América Latina, é a reabertura do canal diplomático entre Washington e Cuba, encerrado em 1961 pelo Presidente Dwight Eisenhower, em retaliação pela assinatura de um acordo de aliança entre o novo governo revolucionário de Fidel Castro e a União Soviética. No ano seguinte, depois do confronto conhecido como a crise da baía dos Porcos, John F. Kennedy assinou a lei que estabeleceu o embargo que continua de pé até hoje – e que se mantém em vigor, apesar das medidas para a normalização de relações encetadas pela Administração Obama.
As conversações vão prolongar-se durante dois dias. As expectativas são tão elevadas que a Administração já veio refrear os ânimos, lembrando que ainda vai demorar algum tempo até à inauguração de novas embaixadas em Washington e Havana (onde os EUA mantêm uma "secção de interesses", alojada na embaixada da Suíça, desde 1977). Antes é preciso definir o tamanho de cada representação e os termos para o seu funcionamento, incluindo por exemplo a liberdade que os diplomatas terão para se movimentar no país, precisaram fontes da Administração Obama, citadas pelo Washington Post.
Antes da delegação oficial do departamento de Estado, um grupo de seis legisladores democratas, liderado pelo veterano senador Patrick Leahy, esteve em Havana para uma visita de três dias – terão sido, aliás, os primeiros norte-americanos a aproveitar a “flexibilização” das normas que facilitam a viagem de cidadãos dos EUA até Cuba. “É um momento emocionante para estar em Cuba”, confessou o congressista Chris van Hollen.
Segundo informou Leahy à chegada, os membros do Congresso queriam “perceber o que é que os dois países estão dispostos a fazer para terem um relacionamento melhor”. Depois de reuniões com funcionários de vários ministérios, organizações da sociedade civil, dissidentes políticos e representantes da igreja católica, o balanço foi positivo – “e a expectativa é de que em Janeiro do próximo ano as coisas já estejam muito diferentes”, referiu o senador.
Os Estados Unidos esperam que o “degelo” diplomático possa também “descongelar” as barreiras que impedem a entrada de produtos made in USA na ilha. Pelo seu lado, os poucos pequenos empresários cubanos já sonham em exportar os seus produtos típicos para o vasto mercado norte-americano, e em fazer negócio localmente com os visitantes vindos dos EUA.
Pequenas mudanças
Se em Havana a abertura do novo capítulo com o inimigo histórico foi saudada com entusiasmo, em Miami, o centro da comunidade cubana exilada nos Estados Unidos, as notícias da normalização provocaram sentimentos contraditórios. Muitos opositores políticos do regime castrista ainda não conseguiram “encaixar” a ideia de que em breve a bandeira das riscas e estrelas sinalizará uma embaixada dos Estados Unidos em Cuba: “Para muitos, é uma vertigem, uma tontura: eles nunca imaginaram que a normalização desta relação tão complicada viesse a acontecer com um Presidente Castro e o Partido Comunista no poder. Para esses, o sonho de um regresso triunfal a Cuba acabou definitivamente”, escreveu o jornal Miami Herald.
O mesmo artigo citava vários líderes da diáspora cubana satisfeitos com as medidas de Obama. “São pequenas coisas, mas podem escancarar a porta da mudança”, considerou o empresário Carlos Saladrigas. Um dos fundadores da Cuban American National Foundation dizia que, com a nova política, teria mais recursos e oportunidades para apoiar directamente a sociedade cubana. “A mudança [de regime] depende mais deles do que de nós”, frisou Pepe Hernández.
Menos condescendente, a oposição republicana prometeu fazer os possíveis para travar qualquer iniciativa presidencial que vá no sentido do fim do embargo – apesar de uma maioria de 63% aprovar a decisão do Presidente Barack Obama de restabelecer a ligação diplomática com Cuba, segundo uma sondagem do Pew Research Center. “Faremos tudo o que pudermos para impedir que estas políticas desastrosas sejam implementadas”, prometeu a congressista da Florida, Ileana Ros-Lehtinen.
Para o director do programa para as Américas do Center for Strategic and International Studies, Carl Meacham, a bancada conservadora tem mais a perder do que a ganhar neste jogo político. “Os fundamentos deste debate alteraram-se radicalmente”, escreveu este antigo senador republicano, notando por exemplo que o poderoso lobby agro-industrial do país já produziu um documento a defender o fim do embargo. Repetindo o raciocínio apresentado pelo Presidente, Meachan considerou que, perante o fracasso da política das últimas cinco décadas, “chegou o momento de testar a hipótese de o diálogo ser mais eficaz do que a repressão”.
Numa carta aberta publicada na véspera viagem de Roberta Jacobson, um grupo de 78 ex-dirigentes políticos, académicos e especialistas em relações internacionais, elogia o Presidente Obama pelas suas “acções históricas” e desafia o Congresso a seguir o exemplo e “aprovar nova legislação que reflicta a realidade do século XXI”.