Discutir a televisão em Portugal (e no mundo): o absurdo

No formato em que a temos vindo a conhecer, a televisão tem os dias contados. No mundo de hoje, onde os canais de informação se multiplicam e a independência das novas iniciativas está na ordem do dia, um serviço de televisão não passa de uma pesada e obsoleta engrenagem

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Yorgos Karahalis/ Reuters

A escolha da nova administração da RTP reacendeu velhos debates acerca do que é o serviço público. Este tópico, que normalmente surge associado à televisão e à rádio mas que é muito mais vasto, merece ser discutido. A televisão — a estação/aparato televisivo — é que já nem tanto. Porquê? Por um motivo simples: está-se perante uma situação de pelejo entre carecas pela posse de um pente. Inútil, por sinal.

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A escolha da nova administração da RTP reacendeu velhos debates acerca do que é o serviço público. Este tópico, que normalmente surge associado à televisão e à rádio mas que é muito mais vasto, merece ser discutido. A televisão — a estação/aparato televisivo — é que já nem tanto. Porquê? Por um motivo simples: está-se perante uma situação de pelejo entre carecas pela posse de um pente. Inútil, por sinal.

No formato em que a temos vindo a conhecer, a televisão tem os dias contados. No mundo de hoje, onde os canais de informação se multiplicam e a independência das novas iniciativas está na ordem do dia, um serviço de televisão (não confundir com produção de conteúdos) não passa de uma pesada e obsoleta engrenagem. No admirável mundo novo da escolha, criada, difundida e partilhada por sujeitos individuais por essa Internet 2.0 fora, a televisão já não se encontra capaz de competir na corrida da informação, nem tão pouco no campeonato da diversidade.

A televisão é a estagnação; é o "triunfo do mesmo". Ao longo dos últimos anos apercebemo-nos de forma clara que a televisão é a ausência de escolha. Ou melhor, é muitas vezes somente uma alternativa ao televisor desligado. É evidente que a actualização de sistemas de conteúdos e a criação de aparelhos progressivamente mais complexos tentam aproximar o formato tradicional de televisão das possibilidades que a internet proporciona. Mas estão sempre um passo atrás.

As grelhas de programação e as grandes estações têm vindo a apostar na diversidade e na reestruturação de canais, com o intento de criar espaços de nicho e dar a ilusão de um universo televisivo em permanente expansão. Em breve creio que tal já não bastará. O universo televisivo não parece ser tão difícil de entender como o universo em si, e, se este último poderá estar ainda em expansão, o televisivo não estará certamente. Entretanto, a dimensão paralela dos "podcasts" e de canais "on-demand" tipo Netflix mantêm o mundo da produção audiovisual a salvo enquanto a televisão, o “mono” preferido de tantos lares (os britânicos ainda hoje a apelidam carinhosamente de “telly”), desaparece da nossa paisagem, conjuntamente com o formato de emissora/programadora.

Cada vez mais um símbolo do "zeitgeist" tecnológico e cultural da segunda metade do século XX, a televisão é um tema de museu. Por muitos saudada, por outros criticada e pela maioria simplesmente aceite, a televisão, agora, parece o que sempre foi: uma solução temporária e incompleta para o que sempre lhe foi solicitado, sendo essa solicitação uma nova forma de descobrir e estar a par do mundo — uma remediação audiovisual do saber.

A televisão é a ditadura rotativa na era da anarquia ultra-liberal. As novas tecnologias de comunicação têm vindo a ser um balão de ensaio para o que os três poderes ainda não consagraram: uma sociedade de partilha voluntária e de civilização. Com a ajuda de todos os outros utilizadores da internet, podemos hoje programar o nosso canal e decidir o que ver e quando ver.