Há três músicos que jogam em casa no Ano Alemanha
Florian Petzborn, Alexander Auer e Dawid Seidenberg são os três músicos alemães da Orquestra Sinfónica do Porto. Admitem que vão sentir-se “mais em casa”, este ano, na Casa da Música, que vai ter como compositor residente um clássico da música contemporânea alemã, Helmut Lachenmann.
Florian Petzborn (n. Hanôver, 1961), contrabaixista, Alexander Auer (n. Estugarda, 1972), flautista, e Dawid Seidenberg (n. Erfürt, 1977), trombonista, são os três músicos alemães da Orquestra Sinfónica do Porto. Imaginar-se-ia que do país tido como pátria da música erudita pudesse haver mais representantes nos 150 intérpretes distribuídos pelas quatros formações da Casa. Mas a “delegação” está, este ano, reforçada pelas presenças de Helmut Lachenmann (n. Estugarda, 1935), o compositor em residência, e do cravista Andreas Staier (n. Göttingen, 1955), artista em associação.
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Florian Petzborn (n. Hanôver, 1961), contrabaixista, Alexander Auer (n. Estugarda, 1972), flautista, e Dawid Seidenberg (n. Erfürt, 1977), trombonista, são os três músicos alemães da Orquestra Sinfónica do Porto. Imaginar-se-ia que do país tido como pátria da música erudita pudesse haver mais representantes nos 150 intérpretes distribuídos pelas quatros formações da Casa. Mas a “delegação” está, este ano, reforçada pelas presenças de Helmut Lachenmann (n. Estugarda, 1935), o compositor em residência, e do cravista Andreas Staier (n. Göttingen, 1955), artista em associação.
Os três músicos da sinfónica coincidem em considerar que o seu país estar em 2015 em foco no Porto não lhes atribui nenhuma responsabilidade acrescida. Afinal, “a música é universal, não tem fronteiras”. Mas Florian admite que vai sentir-se “mais em casa” do que o costume. Mesmo se considera já o Porto a sua casa.
O contrabaixista é um dos mais antigos músicos da orquestra, onde chegou em 1989 para a Régie Sinfonia Cooperativa, que substituiu a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto fundada em 1947. “Sou da geração mais antiga” — os dois compatriotas chamam-lhe “o velhote” —, “e posso mesmo dizer que já tenho mais raízes aqui do que na Alemanha”, nota Florian, casado com uma portuguesa e com três filhos, todos nascidos no Porto. Diz-se “alemão, portuense e europeu”.
Alex Auer chegou à Orquestra do Porto noutro momento forte da sua história — 2001, ano da Capital Europeia da Cultura, que teve na Casa da Música e na formação que depois viria a residir nela a principal aposta. Com formação em várias universidades alemãs, veio fazer audições ao Porto, e ficou. “Fui muito bem recebido, menos pelo clima, pois lembro-me que choveu sem parar nesse Março”, graceja o flautista, que é casado com uma colega da orquestra, italiana. Está também já rendido ao Porto, à cidade e à gastronomia, e não perde uma oportunidade de ir almoçar ao Buraco, na Baixa.
Dawid Seidenberg é o mais novo dos três e o que chegou mais tarde. Entrou na orquestra em 2002, depois de ter sido músico convidado para dois concertos. “Eu queria viver num país com bom vinho tinto”, ri-se o trombonista, que nasceu e cresceu na Alemanha Oriental. Com origem numa família de músicos — os pais e mais sete irmãos —, Dawid dá uma explicação curiosa para ter escolhido esta profissão. “Além de ser uma coisa normal na família, e de quase ter sido forçado, pelo meu pai, a aprender um instrumento, nessa altura — era ainda o tempo do comunismo —, a música e o desporto surgiam como a única possibilidade de virmos a conhecer o mundo”, diz, lembrando que à restante população só era então permitido “ir até à Rússia”.
Sobre a importância do seu país na história da música, todos admitem que o Ano Alemanha vai trazer novos desafios, mas que não serão especialmente diferentes daqueles que enfrentam no seu trabalho normal. “Sinto sempre a responsabilidade de dar o meu melhor enquanto músico, independentemente da proveniência da música”, diz Florian, mesmo se admite que interpretar compositores alemães lhe traz algum “sentimento de proximidade”.
Um dos desafios que estes músicos — e os das outras formações, principalmente do Remix — vão enfrentar é tocar as obras de Helmut Lachenmann, quase a fazer 80 anos, uma das grandes referências da música contemporânea, associado ao movimento da música concreta. Os três vêem nele “um clássico da música contemporânea alemã”. Alex Auer, que o conhece desde os tempos de estudante em Estugarda, diz que Lachenmann “tem uma linguagem um bocadinho específica”, que não é fácil de apreciar ao primeiro contacto. “É preciso ouvi-la para se gostar”.
Na quarta-feira, enquanto a sinfónica ia ensaiando o concerto desta sexta-feira, que inaugura o Ano Alemanha, Helmut Lachenmann passeava-se no “labirinto” do edifício de Rem Koolhaas. As três formações da Casa vão tocar, ao longo do fim-de-semana, quatro peças suas: Schreiben, ...Zwei Gefühle..., Musik mit Leonardo, Mouvement (— vor der Erstarrung) e Consolations II. As duas do meio serão interpretadas pelo Remix, que Lachenmann já conhece de concertos anteriores com peças suas, em 2007, e que elogia dizendo que “os músicos assumem a ideia de aventura e ao mesmo tempo de grande responsabilidade”. “Os responsáveis pela Cultura em Portugal não podem deixar cair o Remix, se não a arte torna-se um museu, e um museu é o cemitério”, diz o compositor, que regressará à Casa da Música para novos concertos em Outubro e Dezembro.
O espectáculo de sexta-feira à noite marca também o início da integral dos Concertos para piano de Beethoven (começa com o nº 4), que Pedro Burmester vai interpretar ao longo do ano. A Casa da Música acaba, aliás, de editar o disco com a gravação do recital que o pianista deu na Sala Suggia em Dezembro de 2013, a sua primeira actuação na instituição de que foi o principal impulsionador.