Mortalidade acima do esperado pela segunda semana consecutiva
Em apenas uma semana, morreram mais de três mil pessoas, bem acima do que é habitual para esta época do ano. O frio é uma das causas, mas não só.
Na segunda semana de Janeiro, houve dias em que morreram mais de 450 pessoas, a crer no sistema de vigilância de mortalidade da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Entre 4 e 10 deste mês, morreram no total 3103 pessoas, mais cerca de meio milhar do que tinha acontecido em igual período do ano passado.
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Na segunda semana de Janeiro, houve dias em que morreram mais de 450 pessoas, a crer no sistema de vigilância de mortalidade da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Entre 4 e 10 deste mês, morreram no total 3103 pessoas, mais cerca de meio milhar do que tinha acontecido em igual período do ano passado.
As epidemias de gripe estão normalmente associadas a um aumento de mortalidade, mas esta não é a única causa, como têm feito questão de frisar os especialistas, que lembram que o frio provoca também a descompensação de doenças crónicas, sobretudo entre as pessoas mais idosas. A evolução da mortalidade semanal, por “todas as causas”, apresenta, neste período, um acréscimo em relação ao valor esperado, podendo este aumento estar associado "a temperaturas mais baixas do que o normal para a época e ao surto infeccioso em curso", explica, aliás, o director-geral da Saúde em comunicado divulgado ao final da tarde.
Notando que a procura de consultas em centros de saúde e serviços de urgência aumentou, Francisco George garante que os serviços do Ministério da Saúde estão a concretizar medidas "para reduzir o impacto das condições climatéricas adversas e da gripe quer na morbilidade e na mortalidade, quer na procura de serviços de saúde".
O problema, este ano, é que, se a estirpe do vírus da gripe A (H3N2) vier a ser a predominante (o que não se verifica por enquanto) poderá ocorrer um pico de mortalidade, porque esta estirpe afecta sobretudo as pessoas mais idosas, a partir dos 75 anos. Foi o que aconteceu no Inverno de 2011/2012, ano em que se verificou um excesso de mortalidade associado à gripe.
A agravar o cenário, a situação poderá ser mais complicada este ano porque a gripe A (H3N2) sofreu uma mutação e é diferente da que está presente na vacina da gripe sazonal. Isto aconteceu porque é em Fevereiro que os centros de vigilância gripal a nível mundial têm que prever quais serão as estirpes em circulação no Inverno seguinte para as incluir na vacina. Habitualmente são contempladas três estirpes diferentes, duas A (este ano foi o H1N1 e o H3N2) e uma B. Só que nos países onde actividade epidémica arrancou mais cedo, como os EUA, percebeu-se que a estirpe do H3N2 é diferente da que está presente na vacina, por ter sofrido já depois de Fevereiro de 2014 uma mutação.
Para já, porém, ainda há poucos casos desta estirpe em Portugal e, na segunda semana do ano a actividade gripal estimada até ficou ligeiramente abaixo da da semana anterior (119,7 casos por 100 mil habitantes), indica o boletim do Insa agora divulgado e que diz respeito ao período compreendido entre 5 e 11 de Janeiro.
Os especialistas que fazem a vigilância epidemiológica sublinham, aliás, que o vírus influenza B continua a ser o predominante em Portugal, totalizando 79% dos casos estimados até à data. Mas acentuam pela primeira vez que também foram detectados 20 vírus do subtipo A (H3), “na sua maioria pertencentes ao grupo genético que inclui estirpes diferentes” da contemplada na vacina contra a gripe distribuída este ano.
Na segunda semana de Janeiro, ainda segundo o boletim do Insa, foram admitidos seis novos casos de gripe nas 19 unidades de cuidados intensivos que enviaram informação e um doente com gripe por vírus influenza B acabou por morrer.
Os responsáveis da DGS continuam a recomendar a vacinação, alegando que a vacina protege contra os outros vírus da gripe que vierem a circular este Inverno e que há outros benefícios relevantes a considerar, como a redução na duração da doença e na sua gravidade, nomeadamente "complicações, internamentos e morte". Aconselham por isso os grupos de risco, como os idosos e os doentes crónicos, a vacinar-se.