Herói do supermercado judaico de Paris vai ser naturalizado francês
Lassana Bathily vai ter direito a uma cerimónia de acolhimento na cidadania francesa, anunciou o Governo. Petição online com milhares de assinaturas pede que o funcionário muçulmano cujas acções salvaram a vida a 15 pessoas seja também agraciado com a medalha da Legião de Honra.
Bathily, um muçulmano que nasceu no Mali em 1990, trabalha no supermercado kosher (que vende produtos segundo os preceitos da religião judaica) há três anos. Quando o sequestro se iniciou, conduziu os clientes em pânico para uma câmara frigorífica, desligou a luz e os circuitos de refrigeração e aconselhou-os a manterem-se em silêncio, enquanto foi procurar auxílio.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Bathily, um muçulmano que nasceu no Mali em 1990, trabalha no supermercado kosher (que vende produtos segundo os preceitos da religião judaica) há três anos. Quando o sequestro se iniciou, conduziu os clientes em pânico para uma câmara frigorífica, desligou a luz e os circuitos de refrigeração e aconselhou-os a manterem-se em silêncio, enquanto foi procurar auxílio.
“Quando Coulibaly entrou no supermercado, um grupo de pessoas correu escada abaixo até à cave, a dizer que havia um louco armado. Disse-lhes que o único lugar onde nos poderíamos esconder era a câmara frigorífica, e meti lá toda a gente”, recordou Bathily, numa entrevista à RFI – Radio France Internationale. Mas, em vez de esperar com os restantes reféns, Lassana decidiu arriscar uma saída pela porta de emergência para avisar a polícia – à chegada à rua, foi imediatamente detido por suspeita de ser cúmplice do jihadista, que matou quatro pessoas, todos judeus.
Quando o equívoco foi desfeito, quase duas horas depois, Bathily entregou as chaves da loja à polícia, dando ainda todas as informações pertinentes sobre a localização dos reféns e a configuração da loja. Esses dados foram fundamentais na preparação do raide das forças especiais para pôr fim ao cerco, quatro horas depois de Amedy Coulibaly, que se identificou como um combatente do Estado Islâmico, iniciar o sequestro.
Uma petição online endereçada ao Presidente da República, François Hollande, para a atribuição da nacionalidade francesa e também da medalha da Legião de Honra – a mais alta distinção civil da república francesa – a Lassana Bathily já foi subscrita por quase 300 mil pessoas. A honra foi concedida postumamente às vítimas dos atentados terroristas da semana passada, em Paris.
“Mesmo nas trevas e na desolação, consegue-se encontrar um raio de luz. Lassana Bathily, um jovem maliano de confissão muçulmana, iluminou uma semana que de outra forma seria apenas tenebrosa”, arranca o texto, que depois elogia a “formidável lição dos benefícios da entreajuda e da fraternidade, que é o sentimento profundo de toda a religião”, que o funcionário maliano deu a todo o mundo. “Este herói comum é, de facto, um modelo. Um ilegal que foi acolhido como trabalhador num supermercado judeu, e que salvou uma quinzena de judeus, ou, mais simplesmente, uma quinzena de seres humanos”, prossegue.
Bathily, que chegou a França em 2006, com 16 anos, já tinha iniciado em Julho de 2014 o processo para a obtenção da nacionalidade. O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, informou ontem que o pedido foi acolhido e o processo expedido, e, elogiando os seus “actos de coragem”, anunciou que Lassana Bathily terá direito a uma “cerimónia de acolhimento na cidadania francesa”, no próximo dia 20 de Janeiro.
Hollande telefonou a Lassana Bathily no domingo, felicitando-o pelo seu gesto. As acções heróicas do imigrante em França foram também saudadas pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, num discurso de agradecimento na Grande Sinagoga de Paris, e pelo Presidente do Mali, que fez questão de o cumprimentar na capital francesa como “um símbolo da comunidade africana, integrada e tolerante”.