“Rei Giorgio” Napolitano abandona a Presidência da República

A eleição do novo Presidente é decisiva para as reformas. Mas, na Itália, as presidenciais são sempre imprevisíveis.

Foto
Napolitano, de 89 anos, foi forçado a aceitar a reeleição em Abril de 2013 AFP

O "rei Giorgio", como é hoje designado, e sua mulher, Clio, abandonam o Palácio do Quirinal hoje de manhã. Na segunda-feira, durante uma manifestação, respondeu à pergunta de uma miúda sobre o que sentia: "Claro que estou contente por voltar a casa. Aqui [no palácio] está-se bem, tudo é muito belo, mas também é em parte uma prisão."

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O "rei Giorgio", como é hoje designado, e sua mulher, Clio, abandonam o Palácio do Quirinal hoje de manhã. Na segunda-feira, durante uma manifestação, respondeu à pergunta de uma miúda sobre o que sentia: "Claro que estou contente por voltar a casa. Aqui [no palácio] está-se bem, tudo é muito belo, mas também é em parte uma prisão."

Nunca terá imaginado ter de arbitrar, com a sua idade, uma das mais difíceis etapas da vida política italiana. Perante a crise financeira, o risco de colapso, a ascensão da "antipolítica" e a impotência de Silvio Berlusconi, em Novembro de 2011 Napolitano foi obrigado a recorrer à solução extraordinária do governo Mario Monti e a convocar, em 2013, eleições antecipadas que resultaram num novo impasse. Na impossibilidade de uma maioria no colégio eleitoral que devia eleger o seu sucessor, aceitou ser reeleito. O primeiro-ministro, Matteo Renzi, gostaria que o PR prolongasse o mandato até à aprovação das reformas políticas e da lei eleitoral. Napolitano recusou, antecipando "o regresso à normalidade".

O colégio eleitoral (Parlamento e representantes da regiões) reunir-se-á no fim de Janeiro. Nas três primeiras votações é necessária uma maioria de dois terços, depois a maioria absoluta. A função presidencial será interinamente assumida pelo presidente do Senado, Piero Grasso.

Tanto Napolitano como Renzi sabem que nesta eleição se joga uma partida decisiva para o futuro do país. Napolitano traçou nos últimos discursos o perfil do seu sucessor: um político com "sentido da nação" e uma estatura internacional para recuperar "a confiança em nós mesmos e o renascimento da política nas sua mais nobre acepção". E que seja também um "farol moral" numa sociedade "em corrosão" e fustigada pela "antipolítica". Renzi fala num "árbitro sábio" e numa "personalidade de alto nível".

São os votos de quase toda a gente. Mas as presidenciais italianas caracterizam-se pela imprevisibilidade e pelos ajustes de contas. O mais recente exemplo foi o da eleição de 2013, em que não foi possível encontrar um vencedor depois do "chumbo" dos dois principais candidatos: o senador Franco Marini, acordado entre o Partido Democrático (PD) de Pier Luigi Bersani e Silvio Berlusconi; e, depois, o do antigo-primeiro-ministro Romano Prodi, que fazia a aparente unanimidade na esquerda. Houve eleições onde foram necessárias mais de vinte votações para eleger o PR. O antigo Presidente Giovanni Leone falou num jogo de "venenos, facas e franco-atiradores".

Os jornais citam mais de 20 nomes — é o "toto Quirinale" — desde Giuliano Amato, Massimo D’Alema, Anna Finnochiaro, Walter Veltroni, Piero Grasso, Romano Prodi, todos da área do PD, até figuras como o ministro das Finanças, Pier Carlo Padoa, ou o governador do Banco de Itália, Ignazio Visco. A radical Emma Bonino, ex-ministra dos Negócios Estangeiros, anunciou estar fora da corrida por ter um cancro de pulmão e dever fazer seis meses de quimioterapia.