"O risco de o GES implodir era muito elevado”
Ex-administrador do BES ouvido na comissão de inquérito.
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O ex-gestor do BES António Souto começou a prestar esclarecimentos na Comissão de Inquérito por volta das 16h15. Souto, que integrou a Comissão Executiva liderada por Ricardo Salgado com o pelouro do compliance, manteve-se durante um curtíssimo período de tempo o banco na equipa de Vítor Bento, até renunciar a 30 de Julho de 2014, após o BdP ter ordenado a suspensão das funções.
Respondendo à deputada do CDS-PP Cecília Meireles, Souto avançou que, no pior cenário, "de praticamente falência do GES”, o BES teria de “provisionar 2000 milhões de euros, o que dava “margem para ficar dentro dos rácios e poder lançar novo aumento de capital". “Mas o conjunto de operações financeiras que desconhecíamos [cartas de conforto ao investidor venezuelano e colocação em larga escala de papel comercial junto dos clientes] obrigaram" o BES a constituir provisões inesperadas e acabou por "destruir uma parte do anel” “construído” para proteger o banco. António Souto sublinha que entre Dezembro e o final de Junho a exposição do BES ao GES reduziu-se 700 milhões de euros, de 2300 milhões (incluindo os 300 milhões relativos à Escom) para 1600 milhões.
"O Conselho de administração (não executivo mas onde tinham assento os gestores executivos do BES) reunia, em média, cinco vezes por ano", onde estavam os grandes accionistas como os representantes da ESFG e do Credit Agricole com gestores com larga experiência.
"Todos os administradores independentes que constituíam a comissão de auditoria tinham acesso a todas as informações e documentos que entendesse", afirmou
Nunca o BES colocou através da sua rede comercial papel comercial do GES na dimensão que se veio a verificar, de cerca de 3000 milhões, defende António Souto, mas, em circunstancias normais "admito que se pudessem colocar 400 milhões da ESI", no pressuposto de que "as contas estavam boas". Os clientes do BES chegaram a subscrever cerca de 2000 mihões de dívida da ESI.
Para além desses administradores, António Souto também mencionou, na audição desta terça-feira, 13 de Janeiro, os "administradores independentes que constituíam a comissão de auditoria" – a comissão de auditoria interna, ressalvou, "tinha acesso a todas as informações e documentos que entendesse".
Para António Souto os administradores do BES [nomeadamente os executivos Ricardo Salgado, José Maria Ricciardi, José Manuel Espirito Santo ] que tinham conhecimento ou suspeição da ocultação de parte do passivo da ESI (1300 milhões) deviam ter informado os restantes gestores da instituição, cumprindo "o seu primeiro dever de diligência".
Este dado chegou ao conhecimento do Conselho Superior do GES, onde estavam Salgado, Riciardi e José Manuel Espírito Santo, em Novembro de 2013.
Para Souto a informação deveria ter sido comunicada aos administradores do BES pois "alterou a percepção de risco da empresa e do Grupo, colocando um problema de risco reputacional relativo ao papel comercial colocado em clientes de retalho que atingiu 1700 milhões de euros". O BdP que tinha conhecimento também não informou os restantes gestores do BES, daí que "nenhuma informação que indiciasse problemas na ESI tinha sido veiculada à comissão executiva ou ao conselho de Administração."
O grupo imobiliário do presidente do Benfica Luís Filipe Vieira era um grande cliente do BES e, nesta qualidade, foi escrutinado pelos supervisores, explica António Souto.
O gestor reconheceu que "talvez em 2012", com a crise imobiliária, grupo empresarial do dirigente benfiquista tenha acabado por transferir activos com algum significado quer para o BES Vida, quer para a ESAF.
Esta solução permitiu igualmente retirar do radar do BdP e da troika [que avaliaram os 50 maiores clientes de cada banco] o grupo empresarial de Luis Filipe Vieira. A CPI deu por concluída a audição de António Souto.