Família do polícia Ahmed pede para que não se misture islão e extremismo

“Atacar os outros não nos trará de volta os mortos e não apaziguará as nossas famílias”, diz um dos irmãos do agente.

Foto
Este sábado, a família de Ahmed Merabet decidiu dirigir-se aos franceses. MARTIN BUREAU/AFP

Ahmed Merabet tinha 40 anos, faria 41 a 8 de Fevereiro, vivia com a sua companheira na mesma rua dos irmãos e a sua grande preocupação era cuidar da mãe, nascida na Argélia e viúva há 20 anos. “Era um homem que gostava de ajudar os outros, calmo, discreto”, disse a irmã Nabia. Era “um trabalhador”, descreveu o irmão Malek, lembrando que Ahmed passou por um McDonald’s e pela empresa nacional de caminhos-de-ferro antes de conseguir entrar na polícia.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Ahmed Merabet tinha 40 anos, faria 41 a 8 de Fevereiro, vivia com a sua companheira na mesma rua dos irmãos e a sua grande preocupação era cuidar da mãe, nascida na Argélia e viúva há 20 anos. “Era um homem que gostava de ajudar os outros, calmo, discreto”, disse a irmã Nabia. Era “um trabalhador”, descreveu o irmão Malek, lembrando que Ahmed passou por um McDonald’s e pela empresa nacional de caminhos-de-ferro antes de conseguir entrar na polícia.

É o polícia que o mundo viu correr na direcção dos atacantes, cair depois de um primeiro tiro, pedir para ser poupado, antes de ser executado à queima-roupa, tudo gravado num vídeo amador. Ex-membro da Brigada Anti-Criminal, delegado sindical, trabalhava na esquadra do 11º bairro parisiense, que patrulhava na altura do ataque. Tinha acabado de passar os testes para entrar na polícia judiciária. 7 de Janeiro era o seu último dia na esquadra. “Nos últimos meses, por causa dos exames, e porque estava a renovar a casa, quase não o víamos.”

“Falo para todos os racistas, islamófobos e anti-semitas, não misturem os extremistas e os muçulmanos”, disse ainda o irmão do agente. “Atacar os outros não nos trará de volta os mortos e não apaziguará as nossas famílias.”

“Ahmed tinha orgulho em representar a polícia e em defender os valores da República. Com a sua determinação, conseguiu o diploma. Todos os colegas o descrevem como um homem apaixonado pela profissão”, afirmou Malek. Tinha talento “para resolver conflitos violentos”, acrescentou Nabia, e “muito, muito orgulho em ser polícia”.

No Twitter, depois do agregador “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), surgiu “Je suis Ahmed”, uma homenagem ao polícia e uma forma de alguns sublinharem a necessidade de separar fanáticos assassinos de muçulmanos, como Ahmed. “Eu não sou Charlie. Eu sou Ahmed, o polícia morto. Charlie ridicularizava a minha fé e a minha cultura e eu morri a defender esse direito”, escreveram outros. O primeiro a fazê-lo foi o escritor e activista político Dyab Abou Jahjah, libanês que vive em Bruxelas. Jahjah explicou querer combater a vontade dos terroristas de dividir, numa mensagem que muitas dezenas de milhares de utilizadores do Twitter já partilharam.

A família do polícia Ahmed reagiu ainda à publicação da foto da sua execução, sábado, na primeira página do semanário Le Point. “É abjecto. Estas imagens já deram suficientes voltas ao mundo, chocaram muito as pessoas”, disse um cunhado do agente, Lotfi Mabrouk, pedindo aos jornalistas que “parem de as utilizar”. “Como é que ousaram pegar neste vídeo e divulgá-lo?”, insurgiu-se o irmão Malek. “Eu ouvi a voz dele, reconhecia-a, vi-o ser abatido e vou continuar a ouvir a sua voz todos os dias.”