Tudo o que já sabemos sobre Ronaldo e mais um prémio?

Rico, bonito e um grande jogador. Isto é Cristiano Ronaldo a falar sobre sobre ele próprio. Ele é tudo isto. A Bola de Ouro é dele outra vez, pela terceira vez em sete anos.

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Aos 29 anos, Cristiano Ronaldo é um homem com uma estátua e um museu, ambos na ilha da Madeira, a sua terra natal. Para além de todos os outros prémios que conquistou, das distinções e homenagens, dos títulos, dos recordes, das riquezas materiais, da admiração global. Uma estátua (que foi da iniciativa do Jornal da Madeira, mas que acabaria por ser paga pela família de Ronaldo) e um museu são quase sempre testemunhos para celebrar obra e carreira depois dessa obra e carreira, poucas vezes ainda com a obra em andamento. “Se querem fazer homenagens, façam-nas enquanto as pessoas estão vivas”, dizia Ronaldo no Funchal há cerca de três semanas, quando o mundo viu a sua estátua na sua terra natal e que o próprio Ronaldo disse que era mais bonita do que ele. Este monumento de bronze (sem bola) a imitar a sua pose antes de marcar um livre ainda apanha Ronaldo bem longe de ter dado por terminada a sua obra.

Cristiano Ronaldo, o melhor jogador de futebol da actualidade, ainda terá muitos anos para enriquecer o espólio do museu. Amanhã, em Zurique, ficará a saber-se quem é considerado o melhor jogador de 2014, com atribuição da Bola de Ouro. Ronaldo é o favorito, mas tem a concorrência do guarda-redes alemão Manuel Neuer e do astro argentino Lionel Messi. As outras Bolas de Ouro que conquistou, em 2008 e 2013, estão no museu, juntamente com as Botas de Ouro e os outros troféus e recordações.

A história do menino que nasceu em Santo António, uma zona pobre da ilha da Madeira, é excepcional. De menino pobre fez-se homem rico e cumpriu o primeiro objectivo que definiu muito antes de ser jogador de futebol e que formulou para consolar uma mãe chorosa quando tinha seis anos. “A mãe que não chore. Quando for grande, vou ganhar bastante dinheiro. Vou comprar uma casa e tirar a mãe do trabalho”, contou recentemente a mãe Dolores numa entrevista à Revista 2 (edição de 21 de Dezembro). Objectivo mais que cumprido, portanto. Tem tudo o que podia desejar enquanto jogador de futebol. É amado e odiado. Odiado talvez não seja bem a palavra. Inveja será mais adequado. “Assobiam-me porque sou rico, bonito e um grande jogador de futebol”, disse em tempos. Inveja dele, por certo, mas também inveja de quem o tem. Quem o assobia porque ele marca golos à sua equipa, quase de certeza que, secretamente, deseja que ele estivesse a marcar golos pelas suas cores.

Para além da selecção de Portugal, Cristiano Ronaldo conheceu cinco equipas em toda a sua vida: o Clube Futebol Andorinha, o Clube Desportivo Nacional, o Sporting Clube de Portugal, o Manchester United Football Club e o Real Madrid Club de Fútbol. Cada um destes clubes teve um Ronaldo diferente. O Andorinha de Santo António teve o Ronaldo criança que só queria jogar à bola; o Nacional teve o Ronaldo promessa juvenil que começou a despertar atenção; o Sporting teve o Ronaldo que aprendeu a viver sozinho e que já marcava golos quando ainda tinha acne; o Manchester United teve o Ronaldo a afirmar-se como “estrela” internacional; o Real Madrid tem o Ronaldo “galáctico”, para usar um termo tão caro ao clube “merengue”. Mas todas as histórias têm um início. Vamos começar pelo Andorinha.

Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro nasceu a 5 de Fevereiro de 1985 na freguesia de Santo António, filho de José Dinis e Maria Dolores, o mais novo dos quatro filhos do casal. Antes dele tinham chegado Elma, Cátia e Hugo. O segundo nome próprio veio de um actor que acabou em Presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan — e que era o Presidente em exercício em 1985. Dinis era jardineiro municipal, Maria Dolores era cozinheira. A vida era difícil em Santo António, a maior freguesia do Funchal. Ronaldo e os irmãos eram mais uma geração que crescia ali.

Antes deles, Dinis e Maria Dolores também tinham enfrentado a pobreza naquele bairro da Quinta do Falcão, um casal que se juntara pela proximidade das suas casas. Conhece-se o contexto familiar inicial de Ronaldo sobretudo pelo livro de memórias de Maria Dolores, Mãe Coragem, onde ela conta que perdeu a mãe aos seis anos, que o pai a enviou para um orfanato e que se dava mal com a madrasta. Mas não deixava de procurar a felicidade e casou-se com um rapaz que vivia ao seu lado, que a teve de abandonar quando a filha mais velha tinha um ano e o segundo filho estava para nascer — como tantos portugueses, Dinis foi para a guerra colonial, em Angola.

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Ronaldo nasceu 11 anos depois de Elma, a irmã mais velha, dez anos depois de Hugo e sete depois de Cátia. Dolores ainda tentou fazer um aborto porque não sentia ter condições para cuidar de mais um filho, mas a gravidez foi até ao fim e Ronaldo nasceu um bebé grande, de quatro quilos e pés de futebolista, vaticinava o médico. Como criança, era terno e irrequieto, sem grande paciência para os estudos e uma vontade grande de jogar à bola e de andar a roubar fruta aos vizinhos. O “Abelhinha”, como era conhecido, foi parar ao Andorinha, clube do bairro onde o irmão Hugo já jogava e onde o pai era roupeiro. Tinha oito anos e estava a tornar-se no orgulho do bairro. Dois anos depois, já estava no Nacional da Madeira, um dos clubes grandes da ilha, onde o padrinho trabalhava — o Marítimo também estava interessado. Aqui fica o valor da primeira transferência de Ronaldo: bolas e equipamentos.

O Nacional já não era um clube de bairro, mas Ronaldo ainda estava perto da família. Também só ficou por lá um ano, porque Sporting e Benfica andavam atrás dele e a mudança para Lisboa seria inevitável. A mãe, sportinguista ferrenha, nem queria ouvir falar da proposta “encarnada”. O filho teria de ir para o Sporting e foi o que aconteceu. Havia uma dívida pendente de 22 mil e 500 euros entre os “leões” e o clube madeirense. Diziam respeito aos direitos de formação de Pedro Franco, defesa-central formado no Sporting que estava no Nacional. A dívida ficou saldada quando Ronaldo, de apenas 12 anos, viajou sozinho para o continente, deixando a família na Madeira, rumo ao lar de jogadores do Sporting — a Academia de Alcochete ainda não existia.

Entre o Funchal e Lisboa, são cerca de mil quilómetros de distância. Ronaldo sofria com a ausência da família e com o sotaque madeirense que trazia da ilha. “Passei a ser o único responsável por mim próprio entre os 12 e os 13 anos. Foi neste momento que comecei a crescer”, conta Ronaldo numa autobiografia publicada em 2007 chamada Momentos. Vivia no lar de Alvalade e comia num restaurante ao pé do estádio, refeições que incluíam sempre dois pratos de sopa. Falava com a mãe por telefone e chorava. Queria voltar para a Madeira e havia esse compromisso com o Sporting. Mas essa escapatória nunca foi utilizada, até porque a mãe acabaria por se mudar para Lisboa. O futebol é que seria o instrumento de fuga.

A estadia em Alvalade confirmou as observações. Ronaldo era um sobredotado. Queimava etapas na sua formação e aos 16 anos já treinava com a equipa principal que haveria de se sagrar campeã em 2002, com o técnico romeno Lazslo Boloni. Essa época terminaria em Alvalade com um particular frente ao Deportivo da Corunha, Ronaldo, com 17 anos, foi suplente utilizado, tal como muitos outros miúdos da formação. Na temporada seguinte, começou a época entre a equipa principal e a equipa B. Os primeiros minutos na primeira equipa do Sporting foram numa pré-eliminatória da Liga dos Campeões em Alvalade frente ao Inter de Milão, como suplente utilizado, condição que iria repetir nos três jogos seguintes.

A primeira titularidade de Ronaldo aconteceu apenas à sexta jornada, a 7 de Outubro de 2002, em Moreira de Cónegos, com o Moreirense. O bielorrusso Kutuzov marcou o primeiro do Sporting aos 29’, Ronaldo marcou o segundo aos 33’, concluindo uma jogada de contra-ataque em que deixou vários adversários para trás. Depois de marcar o seu primeiro golo, tirou a camisola e não levou cartão amarelo por festejar o seu primeiro golo como profissional. Uma hora depois, no último minuto do tempo de compensação, festejou o segundo, um cabeceamento na pequena área. Fica como referência o nome do primeiro guarda-redes que sofreu um golo daquele que, na altura, ainda era o CR28: Roberto Tigrão.

O Moreirense foi, assim, o primeiro de muitos adversários contra quem Ronaldo marcou. Nesta época só marcaria mais três golos, um no campeonato (Boavista) e dois na Taça de Portugal (Estarreja e Oliveira do Hospital), para um total de 31 presenças na primeira equipa. Tal como Paulo Futre, Luís Figo e Simão Sabrosa, e como também estava a acontecer com Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo era mais uma grande promessa que despontava em Alvalade. Mas, como aconteceu com os seus antecessores (e como o actual extremo do FC Porto), Ronaldo também não iria crescer no Sporting.

Na última década tem aparecido muita gente que garante ter estado a milímetros de contratar Cristiano Ronaldo. O último clube a fazer esta reivindicação foi o Birmingham City, a quem, segundo o seu presidente, Ronaldo terá sido oferecido por seis milhões de libras. Real Madrid, Liverpool, Arsenal, Barcelona e Lyon, só para citar alguns, também estiveram quase a ser o clube de Cristiano Ronaldo. Mas não foram. Ronaldo haveria de ir para o Norte de Inglaterra, para a cidade conhecida pela música e pelo futebol. Old Trafford seria o seu destino, Alex Ferguson seria o seu pai futebolístico, aquele que iria ter paciência para transformar um adolescente habilidoso numa máquina competitiva.

A história muitas vezes contada é que Ferguson reparou em Ronaldo naquele jogo que o Manchester United foi fazer a Lisboa para inaugurar o novo estádio de Alvalade a 6 de Agosto de 2003. O escocês ficou, de facto, impressionado com as habilidades do rapaz com a camisola 28 do Sporting, mas ele já estava na lista do United há, pelo menos um ano, depois de Carlos Queiroz, o adjunto de Ferguson, o ter indicado ao clube. Antes daquele jogo já havia um acordo com o Sporting (com quem os “red devils” tinham estabelecido um protocolo de cooperação), que iria manter o jogador em Alvalade por mais um ano antes de se mudar em definitivo para Old Trafford.

Ronaldo começou de início pelos “leões” e “destruiu John O’Shea, que estava a jogar como lateral-direito. Uma possível contratação que podia ser feita depois tornou-se, ao intervalo, numa coisa urgente. “Disse ao Peter Kenyon [director executivo do United]: ‘Não saímos daqui enquanto não tivermos assinado com aquele rapaz’”, conta Ferguson na autobiografia, acrescentando que, logo após o jogo, conversou com Ronaldo e disse que ele teria tempo para crescer: “Não vais jogar todas as semanas, mas vais jogar na primeira equipa. Ainda és novo e vais precisar de tempo para te adaptares. Nós vamos tomar conta de ti.”

Ronaldo tinha 18 anos quando foi viver para Manchester. A mãe foi com ele. A 13 de Agosto, exactamente uma semana depois daquele jogo em Alvalade, Ronaldo foi apresentado em Old Trafford ao lado de Ferguson e do médio brasileiro Kléberson, que um ano antes se tinha sagrado campeão mundial com Scolari. Ronaldo queria a camisola 28, que usara no Sporting, mas Ferguson deu-lhe a 7, que tinha ficado sem dono com a partida de David Beckham para o Real Madrid. Não era um número qualquer na história dos “red devils”. Tinha estado nas costas dos seus maiores talentos. Bryan Robson, George Best, Eric Cantona e Beckham. Agora era de Ronaldo, o primeiro jogador português da história do Manchester United.

Na primeira época, aconteceu o que Ferguson prometera. Ronaldo foi alternando entre a titularidade e o banco de suplentes e acabou a temporada com apenas seis golos. A estreia aconteceu logo na primeira jornada da Premier League em Old Trafford, frente ao Bolton. Aos 61’ e o jogo ainda nem sequer estava resolvido (os “red devils” venciam apenas por 1-0), o miúdo magrinho com madeixas no cabelo entra para o lugar de Nicky Butt, um homem da casa, que fazia o seu 250.º jogo pelo United, e vai para o lado esquerdo do ataque. Sessenta segundos depois, dá o seu primeiro toque na bola, a passe de Roy Keane, tenta fazer uma finta, mas é desarmado.

Uns minutos depois consegue fintar dois adversários na grande área, mas desequilibra-se e perde a bola. Mais à frente no jogo, Ronaldo volta a desmarcar-se na área e um jogador do Bolton puxa-lhe a camisola. Vai ao chão, o árbitro marca penálti, mas Ruud van Nistelrooy falha a conversão — ainda faltará muito até que Ronaldo marque todos os penáltis da sua equipa. Quase na jogada seguinte, Ronaldo chega com a bola até à linha de fundo, faz o cruzamento, Scholes apanha, Nistelrooy faz um primeiro remate e, na recarga, Giggs marca o 2-0. Impacto imediato do português no jogo e na equipa, que tratou o novato como um dos seus. E Ferguson sentiu que um ídolo tinha nascido. “A multidão respondeu como se um messias se tivesse materializado à sua frente. Ronaldo foi o jogador como maior impacto nos adeptos desde Eric Cantona”, recordou Ferguson mais tarde na autobiografia.

Em seis épocas no United, Ronaldo participou em 292 jogos, marcou 118 golos, conquistou uma Liga dos Campeões, três títulos da Premier League, duas Taças da Liga e uma Taça de Inglaterra. Foi um período globalmente feliz, mas marcado pela relação difícil com os tablóides ingleses — no Reino Unido, os futebolistas são alvos preferenciais. Em Outubro de 2005, essa sobrexposição fez com que duas mulheres o acusassem de violação, mas a queixa não tinha qualquer fundamento e rapidamente caiu.

“Foi o jogador mais talentoso que alguma vez treinei”, considera Ferguson, que teve 200 jogadores às suas ordens nos 27 anos em que treinou o United. A saída tinha sido adiada na época anterior, mas o Manchester United já não o iria conseguir segurar e a mudança para o campeonato espanhol concretizou-se em 2009. Os “merengues” pagaram 95 milhões de euros por Ronaldo, que já era uma superestrela, preparado para tudo, para as exigências do profissionalismo e para o circo mediático. Em Manchester, Ronaldo ganhou corpo, perdeu as borbulhas a alinhou os dentes. Cresceu. Em Madrid, seria tudo ainda maior.

A 6 de Julho de 2009, o estádio Santiago Bernabéu tinha 80 mil pessoas nas bancadas, mas não era dia de jogo. Apenas um jogador desceu ao relvado, Cristiano Ronaldo, o jogador mais caro da história. Não tinha o n.º 7, porque esse ainda pertencia a Raúl Gonzalez, e Ronaldo teve de se contentar com o 9 durante essa época, sendo que CR7 já era, nesta altura, uma marca registada. Seria a estrela maior de uma equipa habituada a ter estrelas. José Mourinho, nos três anos em que esteve no Real, ainda lhe roubou algum protagonismo, mas o actual técnico do Chelsea teve uma relação difícil com o “madridismo”, enquanto Ronaldo esteve quase sempre em alta, tirando aquele momento em que dizia que andava “triste” — o próprio nunca o admitiu, mas esta tristeza teria que ver com questões contratuais, resolvidas com a assinatura de um novo vínculo até 2018.

Tudo o que tem feito na capital espanhola assim o confirma. Muitos títulos temperados com muitos golos. Aqui ficam os seus feitos impressionantes em cinco épocas e meia no Real Madrid, com mais golos (285) que jogos (272). Já marcou mais do dobro dos golos do que nas seis épocas que passou ao serviço do Manchester United e vai bem lançado para ultrapassar o recorde estabelecido em 2011-12, em que chegou aos 60, a única época em que, para já, conseguiu o título de campeão espanhol. Leva 33 em 2014-15, mas qualquer estatística que se apresente sobre o seu rendimento no Real corre o risco de ficar desactualizada — Ronaldo terá jogado ontem e volta a jogar já na próxima quinta-feira.

Desportivamente, nada marcará Ronaldo tanto como a circunstância de ser contemporâneo de Lionel Messi, o pequeno argentino do Barcelona com quem tem dividido nos últimos anos os prémios e os títulos. É uma rivalidade inevitável para os dois, tão acima dos outros, iguais na genialidade, mas diferentes em tudo o resto, e não apenas porque jogam em lados diferentes de uma rivalidade que dura há décadas. A análise mais básica coloca Messi como mais “genial” e Ronaldo como mais “completo”. O pé esquerdo de Messi será melhor, mas Ronaldo joga melhor de cabeça, Messi terá mais sentido de equipa, Ronaldo será mais individualista. Messi é fisicamente mais frágil, Ronaldo é mais forte. Messi corre menos, Ronaldo corre mais.

Ambos marcam muitos golos, ambos são decisivos e a escolha entre os dois será sempre difícil e a depender do momento em que estão (e do envolvimento emocional de quem responde à pergunta). Os argentinos e os catalães irão sempre responder Messi, os portugueses e os madridistas dirão sempre Ronaldo. Entre os dois, não haverá propriamente ódio, mas também não haverá amor. E, mesmo que não o admitam, levam a rivalidade a sério. Ambos são os capitães das respectivas selecções, mas, desde que se unificaram os prémios da FIFA e da France Football para melhor jogador do ano em 2010 (em que votam os seleccionadores, capitães de equipa e um jornalista de cada país), nunca Messi votou em Ronaldo e Ronaldo também nunca votou em Messi — aliás, em dois desses anos, Nuno Gomes e Bruno Alves assumiram, para a votação, o papel de capitão de Portugal e, claro, escolheram Ronaldo.

A Ronaldo falta uma grande conquista na selecção portuguesa, da qual já é o melhor marcador (52 golos) e da qual será em breve o mais internacional de sempre — tem 118 jogos, a nove dos 127 de Luís Figo. Em seis grandes torneios (e vamos excluir os Jogos Olímpicos de 2004), o melhor que a selecção com Ronaldo conseguiu foi uma final no Euro 2004 em Portugal, perdida para a Grécia. Com Luiz Felipe Scolari, Ronaldo tornou-se o capitão e toda a selecção gira à volta dele. A sua forma é, geralmente, um bom indicador das possibilidades da selecção portuguesa em qualquer competição, como demonstrou, de forma dolorosa, o último Mundial no Brasil — Portugal não passou sequer da fase de grupos e Ronaldo, ao contrário do que dizia, não estava a 100 por cento.

Aqueles primeiros tempos em Lisboa foram os últimos em que Ronaldo esteve sozinho. Pouco depois, já tinha a mãe com ele, a fazer-lhe a comida e acompanhou-o para Manchester e para Madrid. Pelo caminho, Ronaldo também ganhou um amigo para a vida, Jorge Mendes, o seu agente desde 2002 e fundamental para que ele seja, segundo a mais recente lista da revista Forbes, o futebolista mais bem pago e o segundo desportista mais bem pago do planeta, apenas atrás do pugilista norte-americano Floyd Mayweather — a Forbes calcula que Ronaldo tenha tido proveitos a rondar 80 milhões de dólares.

Como havia prometido, Ronaldo “arrastou” a família para a sua vida e ninguém do seu círculo íntimo passa por dificuldades. A mãe já não mora na sua casa, mas está por perto e, de vez em quando, ainda trata da comida. Nesta fase da sua vida, já não está o pai, Dinis Aveiro, que morreu em 2005 por problemas no fígado, consequência de alcoolismo. Ronaldo recebeu a notícia pela boca de Scolari quando estava com a selecção portuguesa em Moscovo na véspera de um jogo com a Rússia, acabando por disputar esse jogo.

O grande papel de Dolores agora é o de ser a mãe-avó de Cristiano Ronaldo Júnior, nascido na Florida, EUA, a 17 de Junho de 2010. Desde cedo que Cristianinho partilha a vida pública do pai, mas há algo que Ronaldo tem conseguido manter fora do conhecimento público, que é a identidade da mãe. O comunicado divulgado por Ronaldo quando o filho nasceu diz tudo: “Por acordo com a mãe, que prefere manter o anonimato, o meu filho ficará confiado à minha guarda exclusiva.” Assim, Ronaldo cumpriu o desejo de ser pai antes dos 30 anos e antes de se casar. Ao longo da sua vida, conheceram-se-lhe várias namoradas, com mais ou menos presença mediática. Irina Shyak, modelo russa, é a sua companheira desde 2010.

Do que ninguém duvida é que Ronaldo será, acima de tudo, um profissional modelo que esculpiu o seu corpo para poder ajudar o talento. Desde que estava nos escalões de formação do Sporting que ele fazia horas extra nas máquinas de musculação. Diverte-se e exibe a sua fortuna sem constrangimentos, mas respeita a sua profissão porque foi ela que lhe permitiu elevar-se da miséria. É o primeiro a chegar aos treinos e o último a sair. A forma como se coloca para marcar um livre pode sugerir pose, mas, na verdade, faz parte de um ritual que maximiza as hipóteses de concentrar esse remate em golo.

Tudo o que Ronaldo faz dentro e fora do campo confere com a frase do rico, bonito e grande jogador. Isto é tudo o que sabemos sobre ele até agora.