E depois de sermos todos Charlie?
À indignação e à solidariedade é preciso suceder algo mais sólido do que declarações de princípios.
A solidariedade internacional para com o Charlie Hebdo, em defesa dos inquestionáveis princípios da liberdade de informação, foi e continua a ser um movimento poderoso que envolve milhões de pessoas, movidas pela indignação contra os assassinos. Mas o que sucederá depois de sermos todos Charlie, respondendo maciçamente ao apelo francês? O que faremos, no horizonte imediato e próximo, para reduzir os efeitos desse terrível vírus que há séculos infecta a humanidade a vários pretextos, o fanatismo? Estarão as famílias, as sociedades, os estados, aptos para trabalhar no necessário antídoto? Porque, mais politicamente correctos que muitos se mostrem, o fanatismo e o ódio são algo a que o ser humano é constantemente permeável e com resultados terríveis. E se hoje surgem mais associados ao universo do Islão, onde assassinos têm vindo a organizar-se em grupos paramilitares e a semear o terror pelo mundo, eles não são um exclusivo islâmico. Basta lembrar, como exemplos das últimas décadas, os atentados de Oklahoma (1995), Columbine (1999), Montreal (2006), Helsínquia (2007), Blacksburg (2007), Kauhajoki (2008), Estugarda (2009), Utoya (2011) ou Cleveland (2012). No mesmo período, porém, centenas de atentados a coberto do islamismo fizeram vítimas por todo o globo. E estes, associando o fanatismo e o ódio aos métodos do terror, não são “ajustes de contas” religiosos, como procuram fazer crer os casos da “fatwa” decretada contra Salman Rushdie ou agora o massacre no Charlie Hebdo, onde os assassinos gritaram “Vingámos o Profeta!”. São um projecto de poder. Um poder pelo medo, pela submissão (a verdadeira, não as fantasias literárias de Houellebecq) e pela supressão de liberdades, gradual ou de um só golpe, como sucedeu no Afeganistão sob a tirania taliban, onde foram senhores absolutos e instalaram um reinado de terror.
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A solidariedade internacional para com o Charlie Hebdo, em defesa dos inquestionáveis princípios da liberdade de informação, foi e continua a ser um movimento poderoso que envolve milhões de pessoas, movidas pela indignação contra os assassinos. Mas o que sucederá depois de sermos todos Charlie, respondendo maciçamente ao apelo francês? O que faremos, no horizonte imediato e próximo, para reduzir os efeitos desse terrível vírus que há séculos infecta a humanidade a vários pretextos, o fanatismo? Estarão as famílias, as sociedades, os estados, aptos para trabalhar no necessário antídoto? Porque, mais politicamente correctos que muitos se mostrem, o fanatismo e o ódio são algo a que o ser humano é constantemente permeável e com resultados terríveis. E se hoje surgem mais associados ao universo do Islão, onde assassinos têm vindo a organizar-se em grupos paramilitares e a semear o terror pelo mundo, eles não são um exclusivo islâmico. Basta lembrar, como exemplos das últimas décadas, os atentados de Oklahoma (1995), Columbine (1999), Montreal (2006), Helsínquia (2007), Blacksburg (2007), Kauhajoki (2008), Estugarda (2009), Utoya (2011) ou Cleveland (2012). No mesmo período, porém, centenas de atentados a coberto do islamismo fizeram vítimas por todo o globo. E estes, associando o fanatismo e o ódio aos métodos do terror, não são “ajustes de contas” religiosos, como procuram fazer crer os casos da “fatwa” decretada contra Salman Rushdie ou agora o massacre no Charlie Hebdo, onde os assassinos gritaram “Vingámos o Profeta!”. São um projecto de poder. Um poder pelo medo, pela submissão (a verdadeira, não as fantasias literárias de Houellebecq) e pela supressão de liberdades, gradual ou de um só golpe, como sucedeu no Afeganistão sob a tirania taliban, onde foram senhores absolutos e instalaram um reinado de terror.
Claro que, por cegueira ou estupidez, muitos tendem a virar os seus ódios vingativos (e como facilmente eles surgem) contra comunidades pacíficas, incendiando mesquitas ou espancando árabes nas ruas. Isso sucedeu depois do 11 de Setembro e está a repetir-se na França de hoje. Ora isso tem que ser combatido por todos os que entendem que o inimigo é outro, é o fanatismo islâmico politicamente organizado e armado. Que, sob várias siglas, tem trazido para os nossos dias um terrorismo de contornos medievais alicerçado nos modernos meios à sua disposição: massacres em aldeias, degola de inocentes ampliada pelos media, atentados indiscriminados (em bairros, mercados, centros comerciais, meios de transporte) ou agora com alvos precisos, como aquele que semeou a morte no Charlie Hebdo. Este renascerá do luto e da dor, já foi anunciado, mas para honrar a memória dos que nele caíram, é preciso que não haja a mínima vacilação na defesa das liberdades e que, em conjunto com o mundo islâmico, se trave uma batalha firme contra os que, em nome do Islão, nos querem impor a lei das trevas.