Crise fez com que mais pessoas chegassem aos hospitais pelas urgências

Estudo analisou quase 18 milhões de internamentos entre 2001 e 2012 e percebeu que após 2009 os hospitais públicos registaram mais internamentos, sobretudo de casos urgentes.

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Apesar de existirem mais casos, a média de tempo de internamento caiu Fernando Veludo/Nfactos

A análise de Julian Perelman, Sónia Felix e Rui Santana permitiu concluir que após 2009 houve um aumento de 3,2% no na taxa de internamento por cada 100.000 habitantes, correspondendo a maior parte do crescimento a casos de internamento não programado – isto é, de pessoas que chegam aos hospitais pela porta das urgências. Ao mesmo tempo, a demora média de cada internamento baixou. O estudo conseguiu também detectar, nos anos da crise, um aumento das gravidezes com complicações (com um crescimento de 11,5%) e de casos de enfarte agudo do miocárdio que registaram uma subida de 2,3% de casos por cada subida de um ponto percentual no desemprego.

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A análise de Julian Perelman, Sónia Felix e Rui Santana permitiu concluir que após 2009 houve um aumento de 3,2% no na taxa de internamento por cada 100.000 habitantes, correspondendo a maior parte do crescimento a casos de internamento não programado – isto é, de pessoas que chegam aos hospitais pela porta das urgências. Ao mesmo tempo, a demora média de cada internamento baixou. O estudo conseguiu também detectar, nos anos da crise, um aumento das gravidezes com complicações (com um crescimento de 11,5%) e de casos de enfarte agudo do miocárdio que registaram uma subida de 2,3% de casos por cada subida de um ponto percentual no desemprego.

“O estudo surgiu na sequência de mais pedidos a nós, enquanto Escola Nacional de Saúde Pública, para intervir neste tema e perceber o impacto da crise na saúde em Portugal. Havia opiniões pouco sustentadas sobre o assunto e faltava um estudo mais sistemático com dados. As conclusões são as esperadas, no sentido em que são muito parecidas com as encontradas sobretudo na Grécia, mas também em Inglaterra e nos Estados Unidos”, explica ao PÚBLICO Julian Perelman, professor e investigador da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.

Ainda assim, o investigador afirma que nas doenças mentais não foi registada uma subida como nas gravidezes com complicações e nos enfartes, ao contrário de dados avançados noutros trabalhos, como o Relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde. Perelman ressalva que podem existir efectivamente mais, mas diz que esse trabalho necessitaria de dados que não apenas os dos internamentos.

Para o autor, um dos principais problemas encontrados na mudança entre 2009 e 2012 está na subida de casos que dão entrada pelas urgências. “O que me parece mais preocupante no estudo é que o aumento de internamentos está sobretudo associado a internamentos que terão entrado via urgência, o que pode significar que as pessoas se tratam menos ou que estão numa condição de maior severidade”, acrescenta.

Julian Perelman antecipa que estes dados podem significar que os cuidados de saúde primários não estão a conseguir cumprir o seu papel, ao mesmo tempo que destaca que “com o desemprego as pessoas perderam capacidade financeira e o acesso a seguros de saúde que permitiam que fossem seguidas no sector privado”. Questionado sobre como se conjuga esta interpretação com o aumento do número de urgências, consultas e internamentos nos hospitais privados, o investigador explica que são necessários outros estudos, mas admite que nem sempre as pessoas consigam pagar os cuidados necessários e acabem na mesma nas urgências.

Do lado positivo, Perelman refere que “os nossos resultados estão em linha com outros obtidos no estrangeiro, mas talvez de forma mais atenuada”, sublinhando que isso significa que “o Serviço Nacional de Saúde deu resposta” e que “o aumento de internamentos foi possível porque o Serviço Nacional de Saúde estava aí para responder aos pedidos e para fazer o seu papel de rede de segurança”. O tempo de internamento mais curto é também um factor que pode mostrar mais eficiência dos hospitais, “ainda que isso seja polémico, porque há quem defenda que a redução traz menor qualidade para os cuidados prestados. São duas hipóteses, mas não se pode dizer qual a certa com estes dados, ainda que a redução seja sempre resposta a um orçamento menor”.