Preços do petróleo empurram a zona euro para inflação negativa

Alerta de deflação está ao máximo na zona euro, com a primeira variação de preços negativa desde 2009. BCE pressionado a actuar.

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Mario Draghi está cada vez mais sob pressão para actuar Kai Pfaffenbach/Reuters

De acordo com a estimativa rápida publicada pelo Eurostat, a taxa de inflação homóloga (variação dos preços face ao mesmo mês do ano anterior) caiu de 0,3% em Novembro para -0,2% em Dezembro. A descida deste indicador foi mais forte do que o esperado pelos analistas que, de acordo com um inquérito feito pela Reuters, estavam em média a antecipar uma inflação de -0,1%.

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De acordo com a estimativa rápida publicada pelo Eurostat, a taxa de inflação homóloga (variação dos preços face ao mesmo mês do ano anterior) caiu de 0,3% em Novembro para -0,2% em Dezembro. A descida deste indicador foi mais forte do que o esperado pelos analistas que, de acordo com um inquérito feito pela Reuters, estavam em média a antecipar uma inflação de -0,1%.

Os números do Eurostat deixam também claro que a queda dos preços do petróleo é a grande responsável por esta descida brusca da inflação. A taxa de inflação subjacente, que retira da análise a energia e os produtos alimentares, manteve-se estável em 0,7%. A queda do preço de petróleo, que foi de 45% durante o ano de 2014, tem vindo a intensificar-se, tendo o barril de crude no mercado de Londres caído esta quarta-feira abaixo dos 50 dólares.

Para encontrar uma taxa de inflação homóloga negativa na zona euro é necessário recuar até Outubro de 2009, uma altura em que a crise financeira internacional estava no seu auge, as grandes economias europeias estavam em recessão e vários países sofriam com o colapso dos seus mercados imobiliários. Nessa altura, a descida de preços revelou-se temporária, não se concretizando o receio de entrada da economia da zona euro em deflação, que é um período prolongado de inflação negativa, em que as expectativas a prazo dos consumidores e das empresas é de uma descida ou estagnação dos preços.

Actualmente, o receio de que a deflação se possa realmente instalar é bastante mais forte, até porque o Banco Central Europeu já colocou as suas taxas de juro a zero, não conseguindo contudo fazer a variação de preços subir para próximo daquilo que é o objectivo de médio prazo da autoridade monetária: inflação abaixo mas próxima de 2%.

Embora uma descida de preços possa ser positiva no imediato para os consumidores que mantêm os seus rendimentos e que passam a poder comprar mais produtos, uma deflação permanente pode ser bastante perigosa para a evolução da economia já que retira os estímulos para que as empresas invistam e as famílias consumam.

Este resultado abaixo do esperado aumenta assim a pressão para que o BCE adopte medidas adicionais para contrariar o risco de deflação. Depois de já ter colocado as taxas de juro a zero, ter voltado a realizar empréstimos de longo prazo aos bancos e de ter começado a comprar crédito titularizado e dívida hipotecária ao sector privado, o que resta ao BCE é começar a comprar dívida pública dos países da zona euro.

Foi isso que fizeram a Reserva Federal norte-americana, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão, os dois primeiros com algum sucesso a contrariarem a deflação, enquanto o terceiro mantém as dificuldades em sair da armadilha da deflação em que caiu dos anos 90 do século passado.

O mercado está à espera que a decisão do BCE seja já tomada na próxima reunião agendada para o dia 22 de Janeiro. Mario Draghi já afirmou que o banco se está a preparar tecnicamente para a possibilidade de comprar dívida pública, mas alguns outros membros do conselho de governadores, nomeadamente o presidente do banco central alemão, têm-se revelado contra essa medida, defendendo que a descida do preço do petróleo será suficiente para estimular a economia e dizendo que o BCE está a correr demasiados riscos ao comprar tantos activos.