Aviação líbia bombardeia petroleiro grego no porto de Derna

Dois tripulantes mortos. Autoridades suspeitavam que o navio levava armas para o Estado Islâmico, que controla a cidade portuária.

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O território da Líbia é controlado por uma série de milícias, e dois governos disputam o poder MAHMUD TURKIA/AFP

A forma como o ataque ocorreu e os motivos para a acção militar são expressivos do que se passa neste país produtor de petróleo do Norte de África, onde não existe uma autoridade central e em que o território está sob o domínio de tantas milícias que se torna difícil dizer o que pertence a quem. Há, porém, um governo reconhecido pela chamada comunidade internacional, que está sediado em Tobruk, depois de ter sido forçado a sair de Trípoli devido à violência entre mílicias rivais.

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A forma como o ataque ocorreu e os motivos para a acção militar são expressivos do que se passa neste país produtor de petróleo do Norte de África, onde não existe uma autoridade central e em que o território está sob o domínio de tantas milícias que se torna difícil dizer o que pertence a quem. Há, porém, um governo reconhecido pela chamada comunidade internacional, que está sediado em Tobruk, depois de ter sido forçado a sair de Trípoli devido à violência entre mílicias rivais.

Foram aviões ao serviço deste governo que bombardearam o petroleiro que se aproximou de um porto controlado por uma milícia islamista — os observadores dizem que se trata dos radicais do Estado Islâmico na Líbia —, não tendo obedecido à ordem dada para ser inspeccionado.

"Foram dadas ordens para o navio parar ao aproximar-se do porto de Derna, para se verificar se a sua carga continha ou não armas e munições destinadas aos extremistas que controlam a cidade. Mas a tripulação não obedeceu, o que tornou o navio suspeito aos olhos do exército que combate o terrorismo", disse à AFP um porta-voz do exército, o coronel Ahmed Mesmari.

Segundo esta agência noticiosa, o navio de pavilhão liberiano pertence, ou é gerido, pela companhia grega com sede em Atenas Aegean Shipping Enterprises Company. Levava 12,600 toneladas de crude e, apesar de ter ficado danificado, não há qualquer derrame.

Segundo o Governo grego, que "condenou da forma mais veemente" o ataque, há anos que o navio aporta em Derna. "Segundo as nossas informações, o navio foi fretado pela empresa estatal libanesa National Oil Corporation e efectuava há vários anos a rota Marsa El Brega-Derna sem problemas", diz um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros. "O Governo grego tomará todas as medidas junto das autoridades líbias para apurar responsabilidades [pelo ataque] e para colaborar na investigação" ao que se passou.

No ano passado, o Governo líbio deu início a uma série de acções militares em Derna, uma cidade entre Bengazi e a fronteira com o Egipto, tentando enfraquecer as milícias islamistas. Há suspeitas de Derna ser usada como centro de treino do Estado Islâmico, que ali dá preparação a combatentes cujo destino é o "califado" que o grupo autoproclamou em territórios que controla na Síria e no Iraque. As autoridades líbias suspeitam também de que armas e munições destinadas ao EI entram por este porto.

Nesta segunda-feira, e na sequência do ataque contra o petroleiro, o Governo proibiu o acesso à Líbia de sírios, palestinianos e sudaneses, por "razões de segurança". O Ministério do Interior fez saber que tem informações em como cidadãos líbios "estão implicados, ao lado de grupos terroristas, em ataques contra o exército e contra as forças policiais de Bengazi e em cidades da parte ocidental do país". Por isso, foi declarada a interdição da entrada de sírios, sudaneses e palestinianos por "via marítima, aérea e terrestre", disse o ministro do Interior Omar al-Sanki.

A dissolução da Líbia começou após a queda de Muammar Khadafi, em 2011. Uma revolução popular contra o ditador degenerou em guerra civil e Khadafi acabaria derrotado (e morto) pelos grupos armados que se constituíram e que foram ajudados por bombardeamentos aéreos da NATO, numa missão liderada pela França. Finda a intervenção, os grupos armados constituíram-se em milícias, com agendas diversas e muitas delas islamistas, que controlam muitas cidades, vilas e aldeias e poços de petróleo, algum transaccionado ilegalmente.

No fim-de-semana, os governos de dois países vizinhos, o Níger e o Chade, defenderam que a pacificação da Líbia, reunificação do território e o regresso das instituições só será possível com uma intervenção internacional, que tem de começar por ser militar. O Presidente François Hollande disse, nesta segunda-feira, que a França não está disponível para, unilateralmente, o fazer e acusou a "comunidade internacional" de ser responsável pelo que aconteceu na Líbia após a queda de Khadafi. "A França não intervirá na Líbia, pois cabe à comunidade internacional assumir as suas responsabilidades e, de momento, deve fazer o que puder para que surja um diálogo político, para que a ordem possa ser restabelecida", disse Hollande, acrescentando porém que, se houver essa vontade internacional de agir, a França não ficará de fora.