“Corrupção” foi a palavra de 2014 para a Porto Editora
“Xurdir” ficou em segundo lugar e “selfie” em terceiro na lista das dez palavras propostas pela Porto Editora para 2014. Votaram 22 mil portugueses.
O anúncio da palavra eleita e dos demais resultados realizou-se nesta segunda-feira, 5 de Janeiro, às 11h, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures. Não houve grande surpresa, já que, perto do final do ano, a 20 de Dezembro, a Porto Editora, através da agência Lusa, tinha dado conta da liderança até então de “corrupção” nos votos dos portugueses.
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O anúncio da palavra eleita e dos demais resultados realizou-se nesta segunda-feira, 5 de Janeiro, às 11h, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures. Não houve grande surpresa, já que, perto do final do ano, a 20 de Dezembro, a Porto Editora, através da agência Lusa, tinha dado conta da liderança até então de “corrupção” nos votos dos portugueses.
“Os vários casos de suspeita de corrupção que foram sendo conhecidos ao longo do ano passado e a consequente atenção dada pelos media, que alimentou debates e conversas, terão influenciado a escolha feita pelos portugueses”, justifica a editora na nota de divulgação dos resultados.
Com grande distância em percentagem, a ordenação da escolha dos restantes vocábulos a partir do terceiro lugar foi esta: “basqueiro” (8%), “ébola” (6%), “cibervadiagem” (5%), “jihadismo” (4%), “banco”, “gamificação” e “legionela” (3%). Os três últimos casos (com igual percentagem entre si, mas sujeita a arredondamentos) surgem aqui ordenados alfabeticamente, por falta de informação sobre os valores absolutos de cada escolha.
“Corrupção” é um “nome feminino”, de origem latina, corruptione. Significados: “1. Acto ou efeito de corromper ou corromper-se; 2. Decomposição física de alguma coisa; putrefacção; 3. Modificação das características originais de algo, adulteração; 4. Figurado: acto de corromper moralmente; perversão; 5. Estado do que é corrompido; 6. Uso de meios ilícitos para obter algo de alguém; suborno.”
Palavras que vão ficar
Paulo Gonçalves, do gabinete de comunicação e imagem da Porto Editora e responsável por este concurso, diz ao PÚBLICO que a eleição da palavra do ano se “tornou um momento importante na vida da editora e não só, já ninguém o pode ignorar, é quase como o Natal”.
Compreende a estranheza perante algumas das palavras sujeitas a votação, casos de “gamificação”, “cibervadiagem” ou mesmo “selfie”. E explica: “Nós fazemos um levantamento, ao longo do ano, de palavras do dia-a-dia, mas também de algumas que, não fazendo parte do vocabulário comum, poderão vir a ter impacte directo nas nossas vidas.” Especificando: “A ‘gamificação’ entrou no vocabulário das Ciências da Comunicação e da Psicologia relacionado com os videojogos. Seja em ternos de marketing, seja em estratégias de combate ao vício do jogo [game]. A palavra vai ficar”, garante Paulo Gonçalves. O mesmo para “‘cibervadiagem’: utilização indevida da Internet no horário laboral; a linguagem jurídica já a integrou”.
Sobre a palavra “selfie”, aquele responsável diz divertido: “Até nas gravuras de Foz Côa há auto-retratos. Não são de agora, nós sabemos. Mas a palavra ‘selfie’ dá-nos a dimensão actual [do fenómeno], com a facilidade em fotografar e partilhar as imagens nas redes sociais.” Enquanto decorria esta conversa por telefone com o PÚBLICO, Paulo Gonçalves observava, no Porto, um casal de turistas a tirar justamente uma selfie: “E lá vão todos contentes para a estação de São Bento”, descreveu. “Os dicionários também têm de espelhar os tempos”, concluiu.
“‘Xurdir’ já ganhou”
Sobre o aparecimento da palavra “xurdir” entre o top 10, o responsável pela comunicação da editora diz que se enquadra perfeitamente nos critérios de selecção das candidatas, como o de “recuperar palavras submersas, mostrar a riqueza da língua e divulgar a criatividade” das propostas.
Para Paulo Freixinho, autor de palavras cruzadas, que muito se empenhou em que o sentido “fazer pela vida” fosse palavra do ano de 2014, “‘xurdir’ já ganhou”. Em conversa com o PÚBLICO em vésperas da divulgação do resultado da votação, disse: “‘Xurdir’ ganhou o direito de voltar a fazer parte do vocabulário português. Foi uma palavra velha que renasceu. Essa é a vitória.”
No último mês do ano, conta, “foi uma loucura para gerir o entusiasmo das pessoas que descobriram e se identificaram com a palavra”. Lembrou figuras públicas que a proferiram, como Bagão Félix e Bernardino Soares, e informou que estava prometida “uma festa no salão nobre da Câmara de Miranda do Douro” (a palavra é de origem mirandesa), caso “xurdir” fosse a vencedora.
Na sua página de Facebook, divulgou uma reconstituição de todos os passos dados desde que descobriu a palavra, em 2009, até ao dia 31 de Dezembro de 2014.
“Detox”, “emoji” e “referendo” ficaram de fora
O trabalho mais difícil entre os linguistas e outros profissionais da editora é decidir quais as dez palavras candidatas. “Quando chegamos às 20, 15, não é fácil escolher”, diz Paulo Gonçalves.
Pedimos exemplos das que foram excluídas em 2014 nessa fase. “Detox”, “emoji” e “referendo” ficaram de fora. Explicações recebidas via email: “‘Detox’: dos sumos às dietas, a preocupação com hábitos alimentares mais saudáveis é um assunto cada vez mais na ordem do dia; ‘emoji’: apesar de ser uma palavra estrangeira, com os emoji, bonecos usados em mensagens via mobile ou redes sociais, constroem-se verdadeiros diálogos; ‘referendo’: o referendo pela independência da Escócia e a tentativa de um referendo na Catalunha foram nota de destaque da actualidade informativa internacional.”
Esta iniciativa da Porto Editora começou em 2009, mas só no ano seguinte a eleição da palavra do ano ficou nas mãos dos votos online dos portugueses. As vencedoras nas edições anteriores foram: “bombeiro” (2013), “entroikado” (2012), “austeridade”, (2011), “vuvuzela” (2010) e “esmiuçar” (2009).