Arqueólogos dizem ter descoberto o local onde Jesus foi julgado
Vestígios do palácio de Herodes, em Jerusalém ocidental, já são visitáveis. Mas o debate entre os especialistas promete continuar.
No subsolo deste edifício, que chegou a servir de prisão quando a cidade estava sob domínio otomano e britânico, estão muito provavelmente os vestígios do palácio onde Jesus terá sido julgado, naquela que é uma das passagens mais populares do Novo Testamento. Quem o defende é Amit Re’em, o director da equipa que há mais de dez anos escava o palácio.
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No subsolo deste edifício, que chegou a servir de prisão quando a cidade estava sob domínio otomano e britânico, estão muito provavelmente os vestígios do palácio onde Jesus terá sido julgado, naquela que é uma das passagens mais populares do Novo Testamento. Quem o defende é Amit Re’em, o director da equipa que há mais de dez anos escava o palácio.
O edifício em causa, garante, “é uma peça importante no antigo puzzle de Jerusalém e mostra a história da cidade de uma maneira muito clara e singular”. Re’em refere-se, em particular, às várias camadas cronológicas que os arqueólogos foram expondo, ordenando vestígios que dizem respeito, por exemplo, à época das cruzadas ou, mais recentemente, aos anos que antecederam a criação do Estado de Israel, na década de 1940.
“Para aqueles cristãos que dão importância ao rigor no que toca aos factos históricos esta [descoberta] é poderosa”, disse ao Washington Post Yisca Harani, uma especialista em temas da cristandade, sobretudo dos que se referem às peregrinações à Terra Santa. Para a maioria, acrescenta, a que viaja até Jerusalém para ver o Gólgota, monte onde segundo os evangelistas Jesus foi crucificado, pouco importa onde foi julgado ou quais são os locais de referência associados à chamada via dolorosa, nome que se dá ao caminho que teria percorrido carregando a cruz.
Este trajecto tem sofrido alterações ao longo dos tempos e é provável que não tenha ainda a sua forma definitiva, já que são muitos os historiadores, arqueólogos, teólogos e outros investigadores que continuam à procura de evidências históricas, factuais, relacionadas com a Bíblia.
Em declarações ao jornal americano, Shimon Gibson, professor de Arqueologia na Universidade da Carolina do Norte, explicou por que razão é mais provável que o julgamento tenha decorrido dentro do complexo palaciano de Herodes. Recorrendo ao Novo Testamento, mais precisamente ao evangelho de João, Gibson lembra que o local é descrito como sendo junto a um portão e sobre um pavimento rochoso, irregular, detalhes que coincidem com os vestígios localizados pelos arqueólogos nas fundações da prisão otomana.
“É claro que não há nenhuma inscrição no local a dizer que aconteceu ali, mas tudo o resto – descrições arqueológicas, históricas e dos evangelhos – encaixa perfeitamente e faz sentido”, disse o académico ao Post.
O palácio agora localizado, que terá pertencido a Herodes - o rei da Judeia sob domínio romano que o evangelho de Mateus diz ser o responsável pelo "massacre dos inocentes" (terá mandado matar todos os recém-nascidos do sexo masculino de Belém, na altura do nascimento de Jesus, para assim impedir que o "rei dos Judeus" tomasse o sue lugar) -, poderá vir a estar relacionado com o calvário, embora as teorias defendidas por Amit Re’em e a sua equipa estejam longe de ser consensuais.
O debate sobre o local onde Jesus terá comparecido perante Pôncio Pilatos, o governador romano deste território que terá servido de juiz no julgamento que levou à sua morte, continua a animar académicos e líderes espirituais, que baseiam as suas opiniões, sobretudo, em interpretações muito diversas dos evangelhos de Lucas, Mateus, Marcos e João. Jesus de Nazaré terá respondido às acusações de que era alvo junto à tenda do governador mas, para uns, esta estaria instalada no acampamento militar da cidade, para outros, Pilatos seria convidado de Herodes e, como tal, hóspede no seu palácio.
Hoje, arqueólogos e historiadores não duvidam de que este complexo real teria sido construído em Jerusalém ocidental, onde está a Torre de David e a antiga prisão. Os responsáveis pelo museu já criaram percursos que incluem as escavações e os guias receberam formação para explicar aos visitantes o significado dos vestígios postos a descoberto. Mas é pouco provável, pelo menos para já, que o desenho da via dolorosa venha a ser alterado.