À mercê das armas, apesar do tratado
Um passo de gigante com os meios de um anão: o tratado de comércio de armas nasceu enfraquecido.
Em vésperas de Natal, esta podia ser uma grande notícia: finalmente, entra em vigor um acordo internacional com a concordância e as assinaturas de 128 países que regulará as transferências de armas entre nações. Um pequeno-grande senão: os Estados Unidos, a Rússia e a China ficam de fora. Isto significa que o acordo vigorará à margem dos três maiores produtores e compradores de armas do mundo. Não é um simples contratempo, é uma forte barreira a que o acordo venha, na prática, a servir para algo mais do que sossegar boas consciências. Aprovado nas Nações Unidas em 2013, depois de um longo processo de negociação, o texto do tratado visa sobretudo garantir maior transparência na circulação de armas convencionais entre países, reduzindo o comércio ilegal, a pirataria e o contrabando, quer por mercenários quer por organizações criminosas e/ou terroristas. Tendo em conta que, em cada ano (segundo a ONU), o valor das transferências globais de armamento convencional se aproxima dos 100 mil milhões de dólares por meios legais, e que a estes há que juntar um valor dificilmente calculável de vendas ilegais, é fácil ver que estamos perante um universo gigantesco. E é um negócio de morte: duas mil pessoas morrerão, vítimas de tais armas, em cada dia que passa. Um “relógio” sinistro comanda, em simultâneo, os dois ciclos: o da venda de armamento e o das mortes que ele provoca. Países ricos e muito ricos, ou empresas neles criadas e sedeadas, vendem milhões de armas a países pobres ou muito pobres que canalizam para tal negócio, por decisão de regimes corruptos, parte das verbas que deviam aplicar em desenvolvimento e na luta contra a pobreza. Este ciclo terrível não se trava com tratados, mas a assinatura destes, se houver verdadeiro controlo internacional, pode ajudar a menorizar os estragos. Reduzir as guerras seria um passo mais consistente. Mas exigiria actos. E um real empenhamento.
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Em vésperas de Natal, esta podia ser uma grande notícia: finalmente, entra em vigor um acordo internacional com a concordância e as assinaturas de 128 países que regulará as transferências de armas entre nações. Um pequeno-grande senão: os Estados Unidos, a Rússia e a China ficam de fora. Isto significa que o acordo vigorará à margem dos três maiores produtores e compradores de armas do mundo. Não é um simples contratempo, é uma forte barreira a que o acordo venha, na prática, a servir para algo mais do que sossegar boas consciências. Aprovado nas Nações Unidas em 2013, depois de um longo processo de negociação, o texto do tratado visa sobretudo garantir maior transparência na circulação de armas convencionais entre países, reduzindo o comércio ilegal, a pirataria e o contrabando, quer por mercenários quer por organizações criminosas e/ou terroristas. Tendo em conta que, em cada ano (segundo a ONU), o valor das transferências globais de armamento convencional se aproxima dos 100 mil milhões de dólares por meios legais, e que a estes há que juntar um valor dificilmente calculável de vendas ilegais, é fácil ver que estamos perante um universo gigantesco. E é um negócio de morte: duas mil pessoas morrerão, vítimas de tais armas, em cada dia que passa. Um “relógio” sinistro comanda, em simultâneo, os dois ciclos: o da venda de armamento e o das mortes que ele provoca. Países ricos e muito ricos, ou empresas neles criadas e sedeadas, vendem milhões de armas a países pobres ou muito pobres que canalizam para tal negócio, por decisão de regimes corruptos, parte das verbas que deviam aplicar em desenvolvimento e na luta contra a pobreza. Este ciclo terrível não se trava com tratados, mas a assinatura destes, se houver verdadeiro controlo internacional, pode ajudar a menorizar os estragos. Reduzir as guerras seria um passo mais consistente. Mas exigiria actos. E um real empenhamento.