1814 – 1914 – 2014
Serão os actuais leaders mundiais arquitectos ou sonâmbulos?
O Congresso de Viena estabeleceu um “equilíbrio de poder” entre as potências europeias que, com apenas algumas excepções, se manteria eficaz durante cerca de um século. Inspiraria mais tarde a criação da Liga das Nações (1919) e das Nações Unidas (1945). Este longo período de paz culminaria na Belle Époque, um período áureo para as artes, letras e ciências europeias.
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O Congresso de Viena estabeleceu um “equilíbrio de poder” entre as potências europeias que, com apenas algumas excepções, se manteria eficaz durante cerca de um século. Inspiraria mais tarde a criação da Liga das Nações (1919) e das Nações Unidas (1945). Este longo período de paz culminaria na Belle Époque, um período áureo para as artes, letras e ciências europeias.
A Primeira Guerra Mundial – que redundou em pavorosos banhos de sangue como em Somme, Verdun ou Gallipoli – resultou do choque de um conjunto de facções nacionalistas e étnicas europeias que, não querendo genuinamente a guerra, caminharam cegamente para ela. E, como é sabido, a Guerra de 1939-45 decorreu directamente dos problemas não resolvidos em 1914-18.
Hoje encaramos desafios complexos e interligados – desde tensões regionais na Ucrânia, Síria ou União Europeia até ameaças globais ligadas ao prolongamento da crise financeira, às alterações climáticas ou a desequilíbrios sociais crescentes.
Como outro best-seller de 2014 – O Capital do Século XXI, de Thomas Piketty (já traduzido para português pela Bertrand) – demonstra, através de uma minuciosa análise estatística para a Europa e os Estados Unidos, que estaremos no início de um período longo, em que os rendimentos de capital sistematicamente irão ultrapassar as taxas de crescimento económico. Um mecanismo de desequilíbrios sociais crescentes estará assim posto em acção. É o renascimento do “capitalismo patrimonial” onde, segundo Paul Krugman, o nascimento se torna mais importante do que o esforço ou o talento.
Assim se compreende a recente declaração dos laureados pelo Prémio Nobel da Paz, chamando a atenção para a catastrófica perda de confiança nas relações internacionais ao longo dos últimos anos. A ameaça de guerra (mesmo nuclear) é hoje maior do que nunca desde o final da Guerra Fria. A escalada das despesas militares (+70%, 325% e 125% desde 2000, respectivamente nos EUA, China e Rússia [1]), o terrorismo, a sistemática violação dos direitos humanos e a corrupção financeira fazem crescer as ameaças e os desafios globais.
São necessárias novas propostas que consigam restaurar a normalidade e que criem instituições e mecanismos que se adaptem às necessidades do mundo de hoje.
Serão os actuais leaders mundiais arquitectos ou sonâmbulos?
[1] Fonte: SIPRI, Stockholm International Peace Research Institute (2013).
Professora catedrática da FCSH da Universidade Nova de Lisboa