O que vai acontecer a The Interview depois dos hackers? Provavelmente, a Internet
Agora que a Sony Pictures voltou atrás e diz querer estrear o filme que se tornou o centro do ataque informático, faltam-lhe distribuidores. YouTube, BitTorrent e video-on-demand parecem ser soluções possíveis.
Michael Lynton, CEO da Sony Pictures, sucedeu-se à entrevista de Obama à CNN repetindo ao mesmo canal que o estúdio “não cedeu” perante as ameaças de cibervândalos – um termo usado pelo Presidente norte-americano para afastar a carga bélica da crise aberta com a Coreia do Norte, cujo governo a Casa Branca e o FBI identificaram como sendo directamente responsável pelo ataque informático sem precedentes. E repetiu o que tinha dito na sexta-feira: “Ainda gostaríamos que o público visse esse filme, absolutamente. Há uma série de opções em aberto para nós. E considerámo-las, e estamos a considerá-las”.
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Michael Lynton, CEO da Sony Pictures, sucedeu-se à entrevista de Obama à CNN repetindo ao mesmo canal que o estúdio “não cedeu” perante as ameaças de cibervândalos – um termo usado pelo Presidente norte-americano para afastar a carga bélica da crise aberta com a Coreia do Norte, cujo governo a Casa Branca e o FBI identificaram como sendo directamente responsável pelo ataque informático sem precedentes. E repetiu o que tinha dito na sexta-feira: “Ainda gostaríamos que o público visse esse filme, absolutamente. Há uma série de opções em aberto para nós. E considerámo-las, e estamos a considerá-las”.
O advogado da Sony Pictures, David Boyes, disse sábado ao canal americano NBC que, afinal, o estúdio apenas “atrasou” a estreia do filme. Uma fonte próxima da major disse à revista Variety que o estúdio espera lançar o filme que custou cerca de 70 milhões de euros a fazer e promover até ao fim deste ano, mas muito provavelmente não nas salas.
Questionado sobre se um site de partilha de vídeo como o YouTube, onde já se encontram o trailer e pelo menos um brevíssimo excerto do filme, poderia ser uma opção viável para libertar The Interview do impasse em que se encontra, Lynton disse apenas que “é certamente uma opção, e certamente uma coisa que vamos considerar”. O YouTube, detido pela Google, ainda não comentou estas declarações.
Lynton revelou ainda o isolamento da Sony Pictures neste momento, ecoando as palavras de George Clooney, o poderoso actor/realizador que na semana passada revelou que não conseguiu uma única assinatura numa petição de apoio ao estúdio quando este estava sob ameaça dos piratas informáticos e ainda não tinha suspendido os planos de lançamento da sátira low-brow. “Não houve um único grande distribuidor de vídeo-on-demand, um único grande site de comércio electrónico que se tenha chegado à frente e dito que está disponível para distribuir o filme para nós. Não temos esse tipo de interface directo com o público americano e precisamos de um intermediário para o fazer”, disse o CEO.
As alusões de Lynton fazem pensar em nomes de players importantes em cada sector, como a Amazon, o Netflix ou a Comcast. O Netflix disse ao Wall Street Journal que não “discute publicamente” as propostas que lhe são feitas e a Comcast e a Amazon mantêm o silêncio. O tablóide New York Post escreveu domingo que a plataforma de streaming online Crackle, detida pela Sony, seria um dos destinos mais prováveis para The Interview, mas fontes citadas pelo diário económico negam que tal seja uma possibilidade.
Contudo, há uma janela aberta: o BitTorrent. “Embora normalmente não comentássemos [o caso] durante uma altura tão difícil para outra empresa, a resposta é sim. O BitTorrent Bundle é de facto a melhor forma para a Sony recuperar o controlo do seu filme, de não aquiescer a ameaças de terroristas e de garantir que uma ampla audiência possa ver o filme em segurança. Também seria uma lança pela liberdade de expressão”, disse a empresa em comunicado citado pelo site de tecnologia TechCrunch.
O BitTorrent Bundle é uma plataforma de publicação que pode ser usada por qualquer pessoa que estabeleça um preço (que pode ser zero euros) para que terceiros possam aceder aos conteúdos que ofereça. São uploads e downloads legais e foi a plataforma que o vocalista dos Radiohead, Thom Yorke, escolheu para distribuir o seu último álbum em Setembro, por exemplo. De acordo com a BitTorrent, que tem mais de 170 milhões de utilizadores activos, há já cerca de 20 mil criadores que usam o Bundle. O BitTorrent indica que já foi feita uma oferta à Sony mas que ainda não obteve resposta.
Todas as hipóteses discutidas são plataformas online, o que poderá ser explicado pelo facto de não só os circuitos de distribuição e exibição em sala envolverem calendários planeados com alguma antecedência e contratos específicos, mas também porque as relações da Sony com as cadeias de cinemas estarão tremidas na sequência deste caso.
Na semana passada e em plena crise causada pelo ataque informático que revelou dados internos, dos empregados e estratégicos do estúdio, a Sony Pictures anunciou não ter quaisquer planos para o filme de Seth Rogen e Evan Goldberg que planeava estrear no circuito comercial no dia de Natal. Tal aconteceu na sequência de ameaças dos hackers identificados como Guardians of Peace aos espectadores que fossem à estreia da comédia. As ameaças evocavam os atentados de 11 de Setembro e os quatro maiores exibidores do país, seguidos de outros exibidores de menor dimensão e de cinemas canadianos, recusaram estrear The Interview – o filme cuja intriga se centra num par de jornalistas contratados pela CIA para assassinar Kim Jong-un e que desde o início de Dezembro apareceu na mira dos piratas informáticos.
A decisão da Sony Pictures foi impopular em Hollywood e nos círculos políticos, com a imprensa especializada no sector cinematográfico a citar problemas e um agudizar da tensão nas relações da subsidiária da japonesa Sony Corp com os seus parceiros. A relação com os exibidores estará danificada também porque fontes próximas do caso disseram à Variety que algumas das cadeias de salas sugeriram lançar o filme em apenas alguns mercados, para testar se as ameaças dos hackers eram reais, ou disseram apenas que iam adiar a estreia.
A liberdade de expressão, os limites aos criativos e a cedência a ameaças de terroristas (mesmo que Obama tenha retirado essa carga da designação dos hackers que liga ao governo norte-coreano) são as principais preocupações dos detractores da suspensão do filme. Durante o agravar do caso que começara a 24 de Novembro e que passou para a esfera diplomática no final da semana passada, um projecto de Gore Verbinski baseado na BD Pyongyang foi cancelado pela New Regency e pelo estúdio Fox e a exibição do filme de 2004 Team America, que também envolve um líder norte-coreano, desta feita Kim Jong-il, foi cancelada em várias salas.
Depois de a Sony ter decidido congelar The Interview, os hackers enviaram uma nova mensagem vangloriando-se e avisando: “Agora queremos que nunca lancem, distribuam ou deixem sair o filme sob qualquer forma, por exemplo em DVD ou pirataria”. “Ainda temos os vossos dados privados e sensíveis” e “garantiremos a segurança dos vossos dados a não ser que causem mais problemas”, disseram ainda no mesmo e-mail enviado a responsáveis da Sony os Guardians of Peace.