A escola, as selfies e os amigos (incluindo os virtuais)
Retrato da adolescência em 2014. A maioria não apresenta dependência patológica da utilização da Internet e 17% têm amigos virtuais.
A relação difícil (mais difícil do que noutros países) com a escola não é uma novidade. Já tinha sido identificada noutras análises semelhantes a esta para a Organização Mundial de Saúde (OMS), como nota a equipa da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa, e do Centro da Malária e Doenças Tropicais, da Nova de Lisboa, que elaborou o estudo A Saúde dos Adolescentes Portugueses, feito de quatro em quatro anos, desde 1998. “O papel da escola na vida e no futuro dos adolescentes é pois um problema diversas vezes apontado e sem evolução positiva desde 1998”, concluem os investigadores.
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A relação difícil (mais difícil do que noutros países) com a escola não é uma novidade. Já tinha sido identificada noutras análises semelhantes a esta para a Organização Mundial de Saúde (OMS), como nota a equipa da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa, e do Centro da Malária e Doenças Tropicais, da Nova de Lisboa, que elaborou o estudo A Saúde dos Adolescentes Portugueses, feito de quatro em quatro anos, desde 1998. “O papel da escola na vida e no futuro dos adolescentes é pois um problema diversas vezes apontado e sem evolução positiva desde 1998”, concluem os investigadores.
E quando acabarem o secundário, o que vão fazer estes jovens — muitos dos quais (25%) confessam que se preocupam com o futuro quase todos os dias? Metade (54,9%) conta ir para uma universidade ou instituto politécnico. Há quatro anos eram mais os que queriam prosseguir: 63,5%.
Os mais de 6000 inquéritos realizados permitem encontrar resposta para muitas outras perguntas: o que consomem, como passam o tempo, como se vêem a si próprios e como avaliam a relação com os pais? É um breve retrato da adolescência em 2014 o que se segue.
Comece-se pelo fim. Os adolescentes portugueses tendem a dar nota muito positiva à relação que têm com a família (8,8 numa escala de 0 a 10), sendo que os rapazes tendem a sentir-se mais satisfeitos. Uma nuance: a “classificação” que os adolescentes dão aos pais vai piorando com a idade.
Mais de metade gastam entre uma e três horas a ver televisão durante a semana. São, aliás, cada vez menos os que passam mais tempo do que isso à frente do velho ecrã.
O computador (só 3,5% dizem não ter um em casa) é outro ecrã de eleição. Cerca de metade dos adolescentes utiliza-o entre uma a três horas por dia para conversar, navegar na Internet, enviar e-mails, para fazer os trabalhos de casa. E 38% utilizam-no, no mesmo número de horas, para jogar.
Preocupante? Os investigadores concluíram que a maioria dos jovens não apresenta comportamentos de dependência patológica da utilização da Internet. Numa escala de 9 a 45, sendo 45 "elevada dependência", o nível médio dos rapazes é 18,99 e o das raparigas 16,6.
O corpo ideal
Quase um em cada cinco fala diariamente com os amigos pelo Skype ou pelo FaceTime. Sinal dos tempos: o estudo deste ano questionou pela primeira vez os jovens sobre quantas vezes se fotografam e enviam as suas “selfies” aos amigos ou as publicam online. E 3,2% fazem-no diariamente (outros 15,6% semanalmente). As raparigas são mais dadas às “selfies”.
Os amigos são sobretudo reais mas passaram também a ser virtuais. Dos jovens que disseram ter pelo menos um amigo (sem discriminar se era de carne e osso ou não) 17% têm pelo menos um amigo virtual.
Quanto ao chamado cyberbullying (o bullying exercido nas redes sociais de que tanto se tem falado), é uma realidade para cerca de 11% dos adolescentes: 5,5% dizem que foram vítimas, 2% assumem-se como provocadores e 3,4 % já desempenharam os dois papéis.
Mais físicas são as “lutas” em que se envolveram 20% dos alunos no último ano (mais os rapazes). Para além disso, um terço (34%) diz que nos últimos dois meses foi provocado na escola mais do que uma vez por semana.
Outros aspectos importantes na vida de muitos adolescentes? Apenas mais dois: os SMS (mais de um em cada três diz que envia 20 ou mais diárias) e a aparência (quase dois terços apresentam um índice de massa corporal dentro do parâmetro normal). Metade (53,4%) considera ter um "corpo ideal", sendo que os rapazes são mais seguros e consideram mais frequentemente ter um corpo perfeito do que as meninas.
Tomar o pequeno-almoço todos os dias é a regra (79,8% afirmam fazê-lo, ainda assim, menos do que há quatro anos, quando eram 84%). Quanto ao tipo de alimentação, mais de metade dos adolescentes inquiridos refere comer fruta e vegetais pelo menos uma vez por semana.
Outra boa notícia: são mais (55%) do que há quatro anos os que dizem que fazem actividade física três vezes ou mais por semana. Os adolescentes de 2014 mexem-se mais.
A Saúde dos Adolescentes Portugueses foi feito por uma equipa coordenada pela investigadora Margarida Gaspar de Matos. Recebeu o financiamento da Direcção-Geral de Saúde. E deverá integrar o grande retrato internacional da adolescência, conhecido por Health Behaviour in School-aged Children, da OMS, no qual participam mais 42 países.