As escolhas individuais dos críticos de música
Os melhores álbuns do ano segundo Gonçalo Frota, João Bonifácio, Mário Lopes, Pedro Rios e Vitor Belanciano
Gonçalo Frota
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Gonçalo Frota
1 - Warpaint – Warpaint (Rough Trade; Popstock)
Durante um retiro criativo em Joshua Tree, as Warpaint retrocederam no protagonismo que as guitarras eléctricas andavam a reclamar em palco e partiram numa expedição rumo a uma pop tão insinuante quanto esquiva. As canções do disco homónimo confirmam esta como uma das mais inventivas e coesas secções rítmicas actuais e é a reboque da dupla Stella Mozgawa/Jenny Lee Lindberg que se vai infiltrando um tom negro surripiado ao r&b ou ao dub em temas que, passado quase um ano, soam intocados no seu misterioso magnetismo.
2 - Ricardo Rocha – Resplandecente (Mbari)
3 - Timber Timbre – Hot Dreams (Arts & Crafts; PIAS Iberia)
4 - D’Angelo - Black Messiah (RCA; Sony Music)
5 - Kelis – Food (Ninja Tune; distri. Symbiose)
6 - Rodrigo Amarante – Cavalo (Mais Um Discos)
7 - Amélia Muge – Amélia com Versos de Amália (ed. autor; LeveMusic; Sony Music)
8 - Moodoïd – Le Monde Möö (Entreprise)
9 - Legendary Tiger Man – True (Sony Music)
10 - Angel Olsen – Burn Your Fire for No Witness (Jagjaguwar; distri. Popstock)
11 - Meridian Brothers – Salvadora Robot (Soundway Records)
12 - Damon Albarn – Everyday Robots (EMI Music)
13 - Banda do Mar – Banda do Mar (Sony Music)
14 - Joana Gama e Luís Fernandes – Quest (Shhpuma; Clean Feed)
15 - Grouper – Ruins (Kranky; Flur)
16 - Capitão Fausto – Pesar o Sol (Sony Music)
17 - Childhood – Lacuna (Marathon / PIAS Iberia)
18 - Ana Tijoux – Vengo (Nacional Records)
19 - Mão Morta - Pelo Meu Relógio São Horas de Matar (NorteSul; Valentim de Carvalho)
20 - Norberto Lobo + João Lobo - Oba Loba (Shhpuma; Clean Feed)
João Bonifácio
1 - The War On Drugs - Lost In The Dream (Secretly Canadian, distri. Popstock)
A combinação de guitarras à Dire Straits, Fleetwood Mac e aqueles sintetizadores ds Springsteen circa década de 1980 faz esperar o pior, mas a escrita do grande líder Granduciel está para lá do bom ou do mau gosto. Há canções que parecem jams oscilando entre o etéreo e o épico, uma dor de corno e uma crise existencial remoídas em refrões desenhados a compasso e - sempre - uma guitarra que é bem mais que beer comercial shit, como o grande Mark Kozelek a caracterizou. É música de brancos, sem dúvida, pior ainda, rock de adultos, mas é do bom, do que não tem vergonha do que é - e uma colecção imensa de canções imensas. Vão por mim, que nunca me enganei e raramente tenho dúvidas. JB
2 - Criolo - Convoque Seu Buda (Sky Blue Music)
3 - Kate Tempest - Everybody Down (Big Dada)
4 - Marissa Nadler - July (Bella Union, distri Pias Iberia)
5 - The Men - Tomorrow’s Hits (Sacred Bones; Popstock)
6 - Sun Kill Moon - Benji (Caldo Verde)
7 - Diabo Na Cruz - Diabo na Cruz (Sony)
8 - Sharon Van Etten - Are We There (Jagjaguwar; distri. Popstock)
9 - Swans - To Be Kind (Mute/Young God Records)
10 - Sensible Soccers - 8 (Pad; distri. Groovement)
11 - Thompson - Family (Fantasy Records/Concord Music Group)
12 - Rodrigo Amarante - Cavalo (Mais um Discos; distri. Popstock)
13 - Ibibio Sound Machine - Ibibio Sound Machine (Soundway Records)
14 - Orlando Julius & The Heliocentrics - Jaiyede Afro (Strut)
15 - Pharmakon – Bestial Burden – (Sacred Bones; distri. Popstock)
16 - Robyn Hitchcock – The Man Upstairs (Yep Rock, distri. Popstock)
17 - Amen Dunes – Love (Sacred Bones, distri. Popstock)
18 - Caribou – Our Love (City Slang; distri. Popstock)
19 - Orquestra Imperial – Fazendo as Pazes com o Swing (Mais Um Discos)
20 - Grouper – Ruins (Kranky; distri. Flur)
Mário Lopes
1 - Mac DeMarco - Salad Days (Captured Tracks, distri. Popstock)
Perante a bem-vinda avalanche de música que nos soterra dia após dia ao longo do ano, perante um panorama cada vez mais descentrado, polarizado, sem troncos comuns, sem rotas a indicar um par de caminhos predominantes (já é assim há mais de uma década e parece que ainda não nos habituámos verdadeiramente), uma lista de melhores discos do ano torna-se mais colecção de empatias, longas companhias e casos de amor assolapado que uma selecção racional, bem medida e melhor pensada, daquilo que o ano legará para a posteridade. Este ano, entre o quotidiano exposto de forma crua pelos Sleaford Mods,o hip hop enquanto clássico instantâneo dos Run The Jewels, o mundo sonoro inventado por Sensible Soccers ou Jibóia, o auge de Legendary Tigerman, o rock’n’roll torrencial de Ty Segall, o regresso de B Fachada ou a revelação de Kate Tempest, prevaleceu a capacidade de fazer de uma canção uma marca num roteiro de vida. Mac DeMarco ofereceu-me este ano 11 dessas canções, as do romantismo enublado de “Salad Days”. Um álbum tão simples quanto desarmante, em estado de graça.
2 - Sleaford Mods - Divide And Exit (Harbinger Sound, distri. Flur)
3 - Ty Segall – Manipulator (Drag City, distri. Flur)
4 - Thee Oh Sees – Drop (Castle Face Records)
5 - Run The Jewels - Run The Jewels 2 (Mass Appeal)
6 - Legendary Tigerman - True (Metropolitana, distri. Sony Music Portugal)
7 - Kate Tempest – Everybody Down (Big Dada)
8 - Batida - Dois (Soundway Records)
9 - B Fachada - B Fachada (Mbari)
10 - Sensible Soccers - 8 (Pad/Groovement)
11 - Capicua – Sereia Louca (Valentim de Carvalho)
12 - Ariel Pink – Pom Pom (4AD/Groovement)
13 - Parquet Courts - Sunbathing Animal (What’s Your Rupture, distri. Popstock)
14 - War On Drugs - Lost In The Dream (Secretly Canadian, distri. Popstock)
15 - Dead Combo - A Bunch of Meninos (Dead & Company; distri. Universal Music)
16 - Duquesa - Duquesa (NOS Discos)
17 - Wildest Dreams – Wildest Dreams (Smalltown Supersounds; distri. Popstock)
18 - Capitão Fausto - Pesar o Sol (Sony Music)
19 - Jibóia - Badlav (Lovers & Lollipops / Shit Music For Shit People)
20 - Grouper - Ruins (Krany; distri. Flur)
Pedro Rios
1. Amen Dunes – Love (Sacred Bones)
Até 2014, com excepção dos círculos underground, ninguém ligava muito a Damon McMahon. “Love” apresentou a um universo maior um artista que teve muitas vidas, mas não tinha um álbum definitivo (ou, arrisquemos dizê-lo, clássico). Este é-o: tem folk levada pela preguiça melancólica da vida, rock a morder a cauda eléctrica, pianos libertinos guiados espiritualmente por Pharoah Sanders, psicadelia a meia-luz. Repetimos o que já escrevemos: “um monumental álbum, um clássico à nascença”.
2. Run The Jewels - Run The Jewels 2 (Mass Appeal)
3. Shabazz Palaces - Lese Majesty (Sub Pop)
4. Ariel Pink - pom pom (4AD; distri Popstock)
5. FKA twigs - LP1 (Young Turks)
6. Mac DeMarco - Salad Days (Captured Tracks; distri. Popstock)
7. Angel Olsen - Burn Your Fire For No Witness (Jagjaguwar)
8. The Legendary Tigerman – True (Metropolitana/Discos Tigre Branco/Sony)
9. Sensible Soccers – 8 (PAD/Groovement)
10. Éme – Último Siso (Cafetra)
11. Gala Drop – II (Golf Channel)
12. New Pornographers - Brill Bruisers (Matador)
13. Grouper – Ruins (Kranky; distri. Flur)
14. Ty Segall – Manipulator (Drag City; distri. Flur)
15. Capicua - Sereia Louca (Valentim de Carvalho)
16. Batida – Dois (Soundway Records)
17. Bruno Pernadas - How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge (Pataca)
18. Dead Combo - A Bunch of Meninos (Dead & Company; distri. Universal)
19. Frankie Cosmos – Zentropy (Double Double Whammy)
20. Banda do Mar - Banda do Mar (Sony)
Vitor Belanciano
1. FKA Twigs - LP1 (XL Recordings, distri. PopStock)
Em Julho, quando a entrevistámos, dizia-nos que tinha dificuldade em pagar as contas ao final do mês. Seis meses depois as coisas devem estar melhor para a inglesa Tahliah Barnett, verdadeiro nome de FKA Twigs, 26 anos, um dos acontecimentos do ano, com o seu álbum de estreia, soul tecnológica, pop futurista, música robótica hipersensível, inesperada, retorcida e alienígena. Um disco capaz de apontar novos rumos para um panorama musical algo angustiado com dilemas, apesar dos bons discos não faltarem: em Portugal (Bruno Pernadas) ou no Brasil (Rodrigo Amarante), recolhidos (Grouper) ou virados para o exterior (Iceace), para dançar (Todd Terje) ou para esconjurar (Perfume Genius), com guitarras (Real Estate) ou de computador (Arca). Basta querer garimpar.
2. Bruno Pernadas – How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge (Pataca Discos, distri. Edel)
3. Grouper – Ruins (Kranky, distri. Flur)
4. Shabazz Palaces – Lese Majesty (Sub Pop, distri. PopStock)
5. Perfume Genius – Too Bright (Matador, distri. PopStock)
6. Real Estate – Atlas (Domino, distri. Edel)
7. Arca – Xen (Mute, distri. EMI-VC)
8. Adult Jazz – Gist Is (Spare Thought, distri. PopStock)
9. Rodrigo Amarante – Cavalo (Mais Um Discos, distri. PopStock)
10. Todd Terje – It’s Album Time (Olsen, distri. PopStock)
11. Flying Lotus – You’re Dead (Warp, distri. Symbiose)
12. Aphex Twin – Syro (Warp, distri. Symbiose)
13. Caribou – Our Love (City Slang, distri. PopStock)
14. Iceage – Plowing Into The Field Of Love (Matador, distri. PopStock)
15. D’ Angelo – Black Messiah (RCA, distri. Sony)
16. Wildbirds & Peacedrums – Rhythm (Leaf, distri. Flur)
17. Theo Parrish – American Intelligence (Sound Signature)
18. Azealia Banks – Broke With A Expensive Taste (Prospect Park)
19. Neneh Cherry – Blank Project (Smalltown Supersound)
20. Lykke Li – I Never Learn (LL, distri. Universal)