Taliban matam mais de 140 pessoas, a maioria crianças e adolescentes, numa escola de Peshawar

Governo de Nawaz Sharif decretou três dias de luto nacional e prometeu "não descansar, enquanto o flagelo do terrorismo não for completamente eliminado".

Fotogaleria

Seis combatentes do Movimento dos Taliban do Paquistão entraram pela manhã numa escola frequentada por filhos de militares, no Noroeste do país, e mataram mais de 140 pessoas, a maioria crianças e adolescentes entre os 12 e os 16 anos de idade. Muitos foram executados no principal auditório da escola, mas os sobreviventes dizem que os atacantes foram de sala em sala e abriram fogo contra alunos e professores.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Seis combatentes do Movimento dos Taliban do Paquistão entraram pela manhã numa escola frequentada por filhos de militares, no Noroeste do país, e mataram mais de 140 pessoas, a maioria crianças e adolescentes entre os 12 e os 16 anos de idade. Muitos foram executados no principal auditório da escola, mas os sobreviventes dizem que os atacantes foram de sala em sala e abriram fogo contra alunos e professores.

The partial view '~/Views/Layouts/Amp2020/NOTICIA_IMAGEM.cshtml' was not found. The following locations were searched: ~/Views/Layouts/Amp2020/NOTICIA_IMAGEM.cshtml
NOTICIA_IMAGEM

Para os taliban paquistaneses tratou-se de uma vingança; uma forma de “fazer sentir” aos militares que lhes fazem frente “o sofrimento de ver um ente querido morto”, disse o porta-voz do grupo, Muhammad Umar Khorasani, depois de revelada a dimensão do massacre. Antes, numa declaração às agências noticiosas internacionais, o mesmo responsável dissera que os seis combatentes taliban tinham “ordens específicas para não fazerem mal a menores”.

Para Hassan Askari Rizvi, professor de Ciência Política na Universidade Punjab, em Lahore, e especialista em questões militares, o ataque “sem precedentes” contra a escola de Peshawar “mostra que os terroristas estão mais fracos”, na sequência da operação lançada em Junho pelas Forças Armadas do país na região montanhosa do Waziristão do Norte, junto à fronteira com o Afeganistão.

“Agora estão a atacar alvos sem defesa”, disse Rizvi ao The Washington Post. “Este acto de terror horroroso mostra que os terroristas estão mais fracos após a operação militar, e é por isso que há menos ataques, apesar de continuarem a ter capacidade para atacarem alvos sem defesa.”

O ataque foi lançado por volta das 11h (5h em Portugal continental), e sete horas depois os militares paquistaneses ainda percorriam com cuidado as salas e os corredores da escola, com receio das armadilhas deixadas para trás pelos combatentes taliban. Todos eles – seis, segundo o porta-voz do grupo radical, armados e com explosivos colados ao corpo – foram mortos durante a operação das forças paquistanesas.

Números finais ainda mais trágicos
Mas a dimensão do rasto de sangue estava ainda por perceber na sua totalidade. O balanço a meio da tarde era ainda provisório, e as autoridades alertavam para a forte possibilidade de os números finais poderem vir a ser ainda mais trágicos: pelo menos 141 mortos, incluindo 132 crianças e adolescentes entre os 12 e os 16 anos, e entre duas e três centenas de feridos, disse Pervez Khattak, ministro da província de Khyber Pakhtunkhwa, de que Peshawar é a capital.

Um dos alunos do 9.º ano, identificado apenas como Kashan, descreveu ao jornal em língua inglesa The Express Tribune o que viu nos primeiros momentos do ataque: “Estávamos sentados no auditório e um coronel estava a dar uma palestra, quando ouvimos tiros. O som dos tiros começou a ficar cada vez mais próximo de nós. Subitamente a porta foi arrombada e duas pessoas começaram a disparar indiscriminadamente.”

Mudassar Abbas, um assistente do laboratório de Física da escola, disse ter visto “seis ou sete pessoas a percorrer as salas e a abrir fogo sobre as crianças”.

Um outro aluno, que o jornal com sede em Carachi não identifica, também disse que os atacantes atiraram de forma indiscriminada contra todos – estudantes, professores e outros funcionários. “Quando saímos da nossa sala, vimos os corpos de amigos no chão. Estavam a sangrar. Alguns foram atingidos três ou quatro vezes.”

Numa medida pouco habitual, o primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, viajou para Peshawar, para coordenar pessoalmente a operação militar. “Estas crianças são as minhas crianças, o país está de luto e eu estou de luto”, declarou o chefe do Governo, descrevendo o massacre como “uma tragédia nacional provocada por selvagens”.

Para além de ter decretado luto nacional por três dias, Nawaz Sharif convocou para quarta-feira uma reunião com todos os partidos políticos, num apelo à união.

O líder do Movimento para a Justiça e principal rival político de Nawaz Sharif, Imran Khan, também se mostrou chocado com o ataque e garantiu que esteve sempre ao lado do primeiro-ministro na operação contra os taliban paquistaneses.

“Ninguém nos pode acusar de não estarmos com o Governo nesta luta contra os terroristas. Apoiámos sempre o Governo. Todos nós – nas províncias, no Governo federal e nas Forças Armadas – temos de chegar a acordo sobre a melhor forma de ganhar esta guerra contra os terroristas”, disse Khan.

Também a Prémio Nobel da Paz deste ano, Malala Yousufzai, reagiu ao massacre na escola de Peshawar, ela que foi atacada em 2012 pelos taliban paquistaneses: “Este acto de terror sem sentido e cometido a sangue-frio deixou-me com o coração partido. Crianças inocentes nas suas escolas não devem estar sujeitas a este tipo de horrores. Condeno estes actos atrozes e cobardes e junto-me ao Governo e às Forças Armadas do Paquistão, cujos esforços para lidarem com este acontecimento terrível são louváveis.”