Criar brinquedos para os ovos Kinder é o trabalho dele
Há 18 anos que Uwe Grunewald se dedica a imaginar os brindes coleccionáveis que saem com os chocolates da Kinder. Alguns podem demorar quatro e cinco anos a ser desenvolvidos, revela o designer alemão, que passou por Matosinhos
Numa pequena cápsula amarela, escondida dentro de um ovo de chocolate, cabem animais da selva a fazer ginástica ou a ensinar matemática, carros de alta cilindrada e personagens de filmes de animação. São perto de 200 os novos brinquedos que, anualmente, são postos à venda dentro dos chocolates Kinder Surpresa. A colecção completa tem mais de oito mil itens diferentes e muitos deles passaram por Uwe Grunewald, que desenha brinquedos para a marca de chocolates há 18 anos. “Em minha casa, os ovos Kinder são uma parte do ambiente”, brinca.
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Numa pequena cápsula amarela, escondida dentro de um ovo de chocolate, cabem animais da selva a fazer ginástica ou a ensinar matemática, carros de alta cilindrada e personagens de filmes de animação. São perto de 200 os novos brinquedos que, anualmente, são postos à venda dentro dos chocolates Kinder Surpresa. A colecção completa tem mais de oito mil itens diferentes e muitos deles passaram por Uwe Grunewald, que desenha brinquedos para a marca de chocolates há 18 anos. “Em minha casa, os ovos Kinder são uma parte do ambiente”, brinca.
O designer alemão já perdeu a conta à quantidade de brinquedos que ajudou a criar. “O número deve ir nos quatro dígitos” revela, em entrevista ao P3, no final de uma conferência na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos, onde esteve a 9 de Dezembro para as ID Talks, a convite do docente Jeremy Aston. Esta foi a primeira vez que um designer da Ferrero — a empresa que detém a Kinder — falou sobre o processo de desenvolvimento de um dos símbolos da marca de chocolates.
Desde 1974 que o ovo de chocolate de leite com uma surpresa no interior faz parte do imaginário infantil. Quem cresceu com os ovos Kinder sabe como fazer uma colecção pode ser difícil e descobrir brinquedos destes perdidos em gavetas ou caixas pode mesmo ser uma viagem no tempo. O “Happy Hippo”, uma das personagens mais conhecidas das colecções Kinder e uma “das mais queridas para a marca”, já teve muitas séries, algumas delas dignas de colecionadores.
A versão “Star Wars” deste hipopótamo azul, em que Uwe trabalhou, é uma das suas favoritas. “Foi algo que fizemos directamente com a Lucas Films. Fomos aos Estados Unidos e o George Lucas perguntou o que era isto, não conhecia o ‘Happy Hippo’. Tivemos de lhe explicar como eram famosos”, conta ao P3. É que nos EUA não existem ovos Kinder: estes chocolates estão presentes em mais de 100 países de todo o mundo, mas o mercado norte-americano ainda não foi alcançado. “[A saga] ‘Star Wars’ é algo de que eu gosto muito, pessoalmente, e o desafio de trabalhar estes pequenos seres abriu novos horizontes em termos de jogabilidade, design e interacção.”
Em 18 anos, o trabalho de Uwe mudou porque a “filosofia dos produtos” também o fez. “No início trabalhávamos muito com protótipos feitos à mão, agora são desenhados em programas de computadores. Mas ainda precisamos de ter o feedback de algo 3D, para ver se a forma é aquilo que realmente queremos”, descreve. Um dos passos do processo que se preserva inalterável é a necessidade de criar algo que caiba dentro da cápsula, cuja dimensão se tem mantido — apesar de ter apenas uma peça, em vez de duas, desde 2007. Desenhar, sem o recurso a qualquer ferramenta tecnológica, é um pequeno luxo com que Uwe gosta de se presentear sempre que pode. É assim que muitos dos produtos nascem, entre discussões de equipa, que o alemão lidera na Magic Production Group (MPG). O objectivo é criar um “a-ha effect” sempre que uma criança (ou um adulto, porque não?) abre a cápsula amarela.
15 pessoas criam 200 brinquedos por ano
A mesa de trabalho de Uwe tanto pode ser na Alemanha, onde a MPG tem um pequeno centro de design, e Itália, país que viu nascer a Ferrero — e a Kinder, responsável por 45% do total de venda de chocolates com o carimbo da primeira. Cerca de 15 pessoas têm como função desenhar e criar as colecções, que podem ser pensadas “com quatro ou cinco anos de antecedência”. Este período diminui significativamente quando as séries são feitas em parceria com filmes de animação, por exemplo.
Entre os primeiros hipopótamos azuis, mais pesados e detalhados, e os que hoje em dia preenchem as cápsulas amarelas há várias diferenças. “A estética mudou muito, as crianças olham para os brinquedos de uma outra forma”, começa por dizer Uwe. A decoração e os detalhes eram pontos essenciais nas primeiras colecções de brinquedos. “Agora ainda existem clientes que apreciam isso mas, por outro lado, também há uma nova geração de crianças que gosta de ter algo com jogabilidade, algo para construir e mostrar”, explica. Assim se justifica a inclusão, por exemplo, dos pequenos fios que prendem o brinquedo a mochilas ou smartphones. “É importante que as crianças se sintam ‘cool’ com o nosso produto.”
“Por razões profissionais posso comprar e ter brinquedos”, diz Uwe, que se sente “muito sortudo” por desenhar estas figuras. “Quando me candidatei ao lugar de designer de brinquedos, há quase 20 anos, nem sabia que era algo sério”, brinca. “Descobri que há muitos projectos interessantes para fazer e que o processo de design é exactamente o mesmo, a nível profissional, que em outros produtos”, compara Uwe, que trabalhou como designer de aparelhagens e outros sistemas de som antes de se dedicar aos brinquedos.
Em Fevereiro, Uwe Gruenewald regressa a Matosinhos para ver o desenvolvimento do projecto que passou aos alunos do mestrado em Design de Produto da ESAD. Em cima da mesa pode estar uma parceria entre estes estudantes e a marca de chocolates. A conferência da semana passada provou o interesse dos primeiros, fascinados com os brinquedos que lembram a infância e que Uwe trouxe na mala: caixas transparentes cheias de cápsulas amarelas, protótipos ainda sem coloração e séries recentes, distribuídas pela plateia. E chocolates, claro.