Jardim acusou o Estado de roubo e assumiu “dívida e tudo” o que fez
Intervenções de encerramento da discussão do último Orçamento do presidente do governo regional da Madeira, aprovado pelo PSD, feitas em tom de fim de ciclo político e de pré-campanha para as pretendidas eleições regionais antecipadas..
“O problema da Madeira é um problema de colonização”, disse Jardim. Voltando a acusar Portugal de ser um “Estado colonial”, o chefe do governo regional e, por inerência, membro do Conselho de Estado alegou que, “em violação da carta das Nações Unidas, a Madeira está sujeita a um estatuto politico-administrativo que o seu parlamento rejeita”.
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“O problema da Madeira é um problema de colonização”, disse Jardim. Voltando a acusar Portugal de ser um “Estado colonial”, o chefe do governo regional e, por inerência, membro do Conselho de Estado alegou que, “em violação da carta das Nações Unidas, a Madeira está sujeita a um estatuto politico-administrativo que o seu parlamento rejeita”.
No discurso de encerramento da discussão do Orçamento da região para 2015, o último do seu mandato cujo termo vai antecipar com o pedido de demissão anunciado para 12 de Janeiro, Jardim justificou que, “depois de cinco séculos de roubo com a colonização portuguesa, não seria possível desenvolver a região sem recorrer à divida”. “Eu hoje faria a mesma coisa”, reiterou o governante num discurso de uma hora em que assumiu “tudo o que fiz à frente do governo”, a que preside desde 1978.
Antes da votação na generalidade das propostas de Orçamento e Plano de Investimentos para 2015 – ambos aprovados pela maioria PSD e com votos contra de toda a oposição – Jardim advertira que o eventual chumbo do orçamento seria “desastroso para o emprego e a economia regional”.
A aprovação de tais documentos, sustentou, “é imprescindível para o irrecusável aproveitamento dos fundos comunitários que estarão disponíveis nos próximos anos” e “é fundamental para a conclusão da boa e superior execução do Plano de Ajustamento Económico e Financeiro [da Madeira] que dará à Madeira a capacidade de negociação” da sua dívida oficialmente estimada em 6,5 mil milhões de euros.
As intervenções finais que antecederam a votação confirmaram que a Madeira se encontra em fim de ciclo político. Por um lado, o governo pediu a sua aprovação para evitar que a região fosse governada com duodécimos, com a alegada perda de fundos comunitários, por outro, a oposição já avançou com as suas propostas de política alternativa ao PSD.
José Manuel Rodrigues anunciou as linhas programáticas de um futuro governo do CDS/PP que apontam, entre outras medidas, para a renegociação do sistema politica, a credibilização da região no exterior, maior autonomia fiscal, requalificação dos recursos humanos, combate e prioridade ao turismo e sectores produtivos. “O CDS/PP tem autoridade e legitimidade para afirmar-se como alternativa ao governo do PSD”, reiterou Rodrigues, rejeitando a opção por alianças pré-eleitorais
Com algumas ideias comuns, o PS, pela voz do seu líder regional Victor Freitas, também revelou que está a negociar com o secretário-geral do partido e candidato a primeiro-ministro, António Costa, as bases de um “acordo para a resolução dos problema da Madeira”, a ser apresentado antes das próximas eleições. A saída de Jardim, concluiu o dirigente socialista, “não resolve os problemas da Madeira, apenas permite que em eleições antecipadas os madeirenses encontrem a resposta para a mudança política”.
O juízo final segundo Jardim
À laia de despedida, e em eventual resposta indirecta aos que têm sido “justos” e, à esquerda, aos “malditos” da sua governação, Jardim terminou o discurso de forma enigmática, ao citar o trecho do Evangelho segundo São Mateus intitulado “O Juízo final”:
“Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estão à direita: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim."
Prosseguiu: "Perguntar-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes."
E continuou: "Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demónio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes."
"Também estes lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos? E ele responderá: Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna”, concluiu.